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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Soldados israelenses estupram mulheres ao invadir al-Shifa, segundo relatos

Mulheres e crianças deslocadas do Hospital al-Shifa, sob ataque israelense, na orla de Gaza, em 25 de março de 2024 [Yasser Qudaih/Agência Anadolu]

Conforme relatos divulgados neste fim de semana, soldados da ocupação israelense cometeram estupros contra mulheres de Gaza durante sua invasão ainda em curso contra o Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde do território sitiado.

Uma civil, identificada como Jamila al-Hissi, reportou à televisão da Al Jazeera em árabe diversos crimes durante a operação israelense. “Sequestraram mulheres, estupraram mulheres, executaram mulheres. E tiraram corpos dos escombros para soltar seus cachorros neles”, destacou a testemunha.

O complexo médico de al-Shifa é uma zona de guerra. É como as cenas de guerra que vemos nos filmes, mas muito, muito pior do que se vê na televisão, nos noticiários, do que se ouve falar.

“Nossa situação é muito triste, muito assustadora. Fome, sede, deslocamento, destruição e bombardeios. Atacam crianças doentes, feridos, pessoas sangram até morrer”, observou Jamila.

Segundo o relato, sessenta e cinco famílias foram expulsas de al-Shifa, após suas roupas e outros pertences serem incendiados por tropas ocupantes. “Nos forçaram a deixar pessoas para trás. Não nos deixaram levar nada: roupas, comida, água, nada”.

Estamos caminhando. Os prédios, o hospital, está tudo em chamas. Não temos lugar para nos abrigar. Estamos caminhando sem destino. Há drones voando sobre nossas cabeças e franco-atiradores ao nosso redor. Estamos caminhando e só temos Deus ao nosso lado.

Sobre a falta de assistência, acrescentou: “Chamamos a todos e ninguém nos ouviu. Imploramos sem parar. Ligamos por seis dias para a Cruz Vermelha, para nos levar ao prédio do Pnud [Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas], para o Hospital Internacional al-Helou, que eles também destruíram”.

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Sobre o cerco militar imposto por Israel e a subsequente crise de escassez, corroborou o relato: “Nossas crianças estão bebendo água salgada. Por quê? E mesmo a água salgada que nos davam, eles cortaram. As forças israelenses tiraram tudo de nós. As pessoas pararam de tomar seus remédios”.

Outro testemunho inclui uma mulher grávida. “Eles mandaram ela se despir e começaram a bater nela”, lamentou o marido. “Ela disse aos soldados que estava grávida de cinco meses, mas eles continuaram a agredi-la”.

“Após horas e horas, pegaram todas as mulheres [de al-Shifa], exceto as mulheres grávidas e suas crianças”, continuou o relato. “Então estupraram elas, na frente de seus maridos e filhos e mandaram os homens não fecharem os olhos, se não atiravam”.

“Há algo mais horrível do que ouvir mulheres pedindo socorro?”, acrescentou Jamila. “E quando tentamos ajudá-las, atiram em nós. Estamos vivendo uma guerra brutal, tanto física quanto psicologicamente. E acima de tudo isso, tem a fome e a sede”.

 ‘Piores seis dias dos últimos seis meses’

 “Estes foram os piores seis dias dos últimos seis meses. Os piores seis dias da minha vida. Travam uma batalha física e mental contra nós, fome e sede. É a guerra mais feia que já vimos”, concluiu o relato à televisão em árabe.

O sofrimento das mulheres palestinas se tornou uma constante sob a campanha israelense. “Nos abrigos superlotados, nas ruas entre os escombros, mulheres e meninas buscam proteger-se dos ataques aéreos, sob condições inexprimíveis”, confirmou um relatório da ONU —Mulheres no início deste ano. “Ninguém e nenhum lugar está seguro em Gaza”.

Em 28 de dezembro, uma cidadã identificada como Amina, de 44 anos, foi capturada por forças israelenses, junto de outras nove mulheres, ao ser removida à força de um abrigo para refugiados. Seus filhos ficaram para trás. Sua soltura ocorreu apenas em 8 de fevereiro.

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Amina reportou suas condições de custódia, incluindo sucessivas revistas íntimas e abusos físicos, emocionais e sexuais, à rede Middle East Eye.

“Eles me colocaram em uma sala bem grande. Fiquei chocada em ver que todas as mulheres detidas estavam nuas”, recordou Amina.

Médicos canadenses voluntários em Gaza confirmaram os relatos de crimes sexuais cometidos por soldados israelenses. Uma das vítimas foi estuprada por dois dias seguidos até não conseguir falar, segundo a dr. Aliya Khan, em entrevista ao MEMO.

Os relatos de estupros cometidos contra mulheres palestinas surgem dias depois de uma nova análise forense da rede Al Jazeera desmentir alegações israelenses de crimes sexuais perpetrados por militantes do Hamas em 7 de outubro.

Outras inverdades abarcaram uma ampla campanha de propaganda de guerra — com apoio da mídia corporativa ocidental — para justificar o genocídio em Gaza. Supostas atrocidades, desmentidas em campo, incluem “bebês degolados” e outros relatos fantasiosos.

O ataque ao Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, teve início na madrugada de segunda-feira passada, 18 de março, em meio a disparos de tanques de guerra, unidades de infantaria, drones, aeronaves e franco-atiradores.

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Trata-se do segundo ataque ao centro de saúde. Em novembro, soldados israelenses invadiram a instalação sob o mesmo pretexto: de que seria utilizado como base por membros do movimento Hamas; no entanto, sem provas, sequer após a operação.

Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro de 2023, em retaliação a uma ação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados. Conforme o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

Todavia, reportagens do jornal israelense Haaretz demonstraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de líderes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 32.333 palestinos mortos e 74.694 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.

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Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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