Presidente de Israel desafia ONU, pede continuação do genocídio em Gaza

O presidente de Israel, Isaac Herzog, desafiou a resolução por cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta segunda-feira (25) ao pedir que sua campanha contra Gaza continue até que o líder local do grupo Hamas, Yahya Sinwar, seja capturado — “vivo ou morto” — e que os prisioneiros de guerra israelenses sejam libertados.

Resoluções do Conselho de Segurança são vinculativas; em tese, seu descumprimento incorre em sanções e mesmo intervenções militares da comunidade internacional. Contudo, nada indica que Israel cumprirá as medidas. Após 48 horas de ratificação do cessar-fogo “imediato”, com prazo de duas semanas, continuam os ataques a Gaza.

“A realidade é essa — e o mundo deve encará-la — tudo começa e termina com Sinwar”, alegou Herzog a colonos extremistas em Jerusalém ocupada. “É ele quem encomendou o ataque de outubro, que busca derramar sangue inocente desde então, que faz tudo para destruir a coexistência em nosso país e na região, para semear discórdia entre nós e o mundo”.

“[Sinwar] busca o terror e o mundo inteiro deve saber que a responsabilidade recai sobre ele e somente ele”, acrescentou Herzog. “Não vai funcionar, não permitiremos”.

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Embora a resistência contra a colonização e a ocupação seja inteiramente legítima sob o direito internacional — inclusive a resistência armada —, Israel e aliados continuam a descrever reações de grupos palestinos como “terrorismo”.

A Resolução A/RES/38/17 da Assembleia Geral, de 22 de novembro de 1983, reitera a “legitimidade da luta dos povos por independência, integridade territorial, unidade nacional e libertação da dominação colonial, do apartheid e da ocupação em todas as maneiras disponíveis, incluindo a luta armada”.

As declarações de Herzog — sobre “começo e fim” em Sinwar — ignoram ainda 75 anos de apartheid e limpeza étnica na Palestina histórica, 56 anos de ocupação militar sobre Jerusalém e Cisjordânia e 17 anos de cerco brutal contra a Faixa de Gaza.

Ao reafirmar sua negativa sobre as negociações para uma troca de prisioneiros com o Hamas, mediadas pelo Catar, declarou Herzog: “Neste momento, temos de nos manter unidos e determinados. Israel está fazendo tudo que pode para trazer os reféns para a casa, nos mais variados campos. No fim, não há escolha. Temos de continuar a lutar”.

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, líder do partido fundamentalista Sionismo Religioso, comentou por sua vez com a crise de relações entre o governo de Benjamin Netanyahu e a administração democrata dos Estados Unidos de Joe Biden, que sofre pressão interna em plena campanha eleitoral.

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Os países — aliados estratégicos desde o advento de Israel, em 1948 — expressam divergências sobre uma invasão por terra à cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza, na fronteira com o Egito, onde 1,5 milhão de refugiados estão abrigados. Netanyahu insiste no ataque.

Na segunda-feira, os Estados Unidos demonstraram uma ligeira mudança de posição no Conselho de Segurança, ao se abster da resolução por cessar-fogo, após três vetos deferidos em defesa de Israel. Tel Aviv respondeu ao cancelar a viagem de uma delegação política a Washington.

Conforme Smotrich: “Se alguém ainda acredita que nos dobraremos à pressão internacional, precisa entender que entraremos em Rafah. Agradecemos a amizade, mas há limites e insistimos em nossa posição. Render-se à pressão e parar a guerra seria uma ameaça a Israel”.

A medida criou nova fissura internacional. Washington insiste em proteger Israel, ao argumentar que a resolução é “não-vinculativa”, embora a Carta das Nações Unidas determine expressamente o contrário. Nesta terça-feira (27), a China enfatizou que as resoluções do organismo são vinculativas a todos os Estados-membros.

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Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.

Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.

Em Gaza, são 32.490 palestinos mortos e 74.889 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.

Apesar de uma ordem do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto a Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.

 

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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