Francesca Albanesa, especialista da Organização das Nações Unidas (ONU) para direitos humanos, confirmou ter recebido ameaças no decorrer de seu mandato, em particular, após publicar um relatório conforme o qual há “bases razoáveis” para crer que Israel comete genocídio em Gaza.
As informações são da rede de notícias Al Jazeera.
Albanese encaminhou nesta semana um relatório ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, intitulado “Anatomia de um Genocídio”, sobre a conjuntura atual nos territórios palestinos ocupados. O documento causou indignação de lideranças israelenses.
No relatório, Albanese reafirma que há claros indícios de que o exército israelense violou ao menos três dos cinco atos listados sob a Convenção sobre Genocídio das Nações Unidas em sua campanha de seis meses contra Gaza.
Questionada se seu trabalho levou a hostilidades, comentou Albanese: “Sim, eu recebo ameaças. Até então, nada que considerei requerer precauções sociais. Sim, enfrento pressão, mas isso não muda nem meu compromisso nem os resultados de meu trabalho”.
Albanese, advogada e pesquisadora italiana, é relatora da ONU desde 2022, mas preferiu não elaborar sobre a natureza das ameaças, tampouco suas fontes.
“Vivemos uma época difícil”, reafirmou. “Sempre fui atacada, desde o início de meu mandato”.
O regime colonial israelense condenou Albanese, ao acusá-la de “deslegitimar a própria criação e existência de Israel”. Seu texto, porém, não leva a qualquer interpretação do tipo.
Albanese reiterou que uma de suas principais descobertas é o fato de que a liderança executiva e militar de Israel, assim como soldados em campo, deliberadamente “subverteram suas funções protetivas para legitimar violência genocida contra o povo palestino”.
“A única inferência razoável que pode ser tirada do desenrolar dessa política é a prevalência de uma política de violência genocida contra o povo palestino de Gaza”, explicou a relatora, ao advertir para um “processo colonial duradouro de apagamento”.
Albanese pediu fim da “Nakba em curso”, em referência aos crimes de limpeza étnica impostos sobre o povo palestino desde 1948, quando 800 mil pessoas foram expulsas de suas terras e 500 cidades e aldeias foram destruídas para permitir a criação do Estado de Israel.
A missão diplomática israelense em Genebra afirmou “ultrage” pelo uso da palavra genocídio, apesar do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, reconhecer a “plausibilidade” das violações citadas, ainda em janeiro, sob denúncia da África do Sul.
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Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação transfronteiriça do grupo Hamas que capturou colonos e soldados. Segundo o exército israelense, cerca de 1.200 pessoas morreram na ocasião.
Entretanto, reportagens do jornal Haaretz mostraram que uma parcela considerável das fatalidades se deu por “fogo amigo”, sob ordens gravadas de chefes militares de Israel para que suas tropas atirassem em reféns e residências civis.
Em Gaza, são 32.490 palestinos mortos e 74.889 feridos desde 7 de outubro, além de oito mil desaparecidos e dois milhões de pessoas desabrigadas pelas ações de Israel. Entre as fatalidades, são 13 mil crianças e quase nove mil mulheres.
Na segunda-feira (25), o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução por um cessar-fogo imediato em Gaza até o fim do mês islâmico do Ramadã, em 9 de abril. Os Estados Unidos, que vetaram outras três resoluções por cessar-fogo, decidiram pela abstenção, permitindo a ratificação da proposta.
No entanto, apesar de o Hamas acolher a medida, não há indicativo de que Israel respeitará o cessar-fogo, à medida que bombardeios contra Gaza continuaram ao longo da semana.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.