O assassinato de trabalhadores humanitários por Israel é “repreensível”, mas não surpreendente, já que o país vem atacando jornalistas, médicos, profissionais de saúde e trabalhadores humanitários com “total impunidade há seis meses”, de acordo com uma advogada palestino-americana, informou a Agência Anadolu.
Em uma entrevista à Anadolu, Lara Elborno denunciou o ataque da última segunda-feira a um comboio da organização beneficente World Central Kitchen (WCK), com sede nos EUA, dizendo que o ataque a civis e trabalhadores humanitários deve parar.
“O assassinato deliberado de sete trabalhadores humanitários por Israel é repreensível, mas não é novidade. Israel vem atacando palestinos, jornalistas, médicos, profissionais de saúde, trabalhadores humanitários e funcionários da ONU com total impunidade há seis meses, e isso deve ser interrompido”, disse ela.
O ataque de 1º de abril matou sete trabalhadores humanitários – três britânicos, um australiano, um polonês, um americano-canadense com dupla cidadania e um palestino.
Esse fato provocou forte condenação em todo o mundo e pedidos de responsabilização, com muitos, inclusive o fundador da WCK, Jose Andres, contestando a alegação de Israel de que foi um “erro” e um caso de “identificação incorreta”.
Elborno disse que discorda da noção de que o assassinato de trabalhadores estrangeiros da WCK seja, de alguma forma, mais relevante ou mais devastador do que o contexto em que foram mortos “que é o genocídio do povo palestino em Gaza”.
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“No 180º dia do genocídio de Israel, o povo palestino está se recuperando de um dos maiores massacres da nossa história”, disse ela, referindo-se ao recente cerco e a ataques israelenses que destruíram completamente o Hospital Al-Shifa de Gaza, deixando centenas de mortos, incluindo famílias, pacientes e médicos deslocados.
No entanto, isso ocorreu mais ou menos na mesma época em que Israel matou esses sete trabalhadores humanitários e “infelizmente, a mídia tem se interessado mais pela última história”, observou Elborno.
Ela disse que essa é uma “lógica profundamente perigosa” que indica a extensão da “desumanização dos palestinos” e que as mortes de palestinos são “de alguma forma inevitáveis ou naturais”.
Ela afirmou que isso preparou o caminho para “esse genocídio e permitiu que Israel se safasse dele nos últimos 180 dias”.
Solicitação de embargos de armas e sanções
Israel, que está enfrentando um caso de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), já matou quase 33.200 palestinos em Gaza, a maioria mulheres e crianças, e feriu quase 76.000.
O governo israelense devastou a maior parte do enclave, deslocando milhões de pessoas e deixando-as à mercê da fome devido a um bloqueio incapacitante de ajuda e itens essenciais.
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Elborno ressaltou que Israel continua a matar palestinos apesar de duas ordens do TIJ, de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU exigindo um cessar-fogo imediato e de um relatório contundente da Relatora Especial da ONU, Francesca Albanese, que disse que há “motivos razoáveis” para acreditar que o país está cometendo genocídio em Gaza.
“No entanto, os EUA continuaram a canalizar armas, a cooperar em questões de inteligência e mantiveram o fluxo de fundos, e assim Israel continua a agir com coragem e a matar e matar de fome mais palestinos em Gaza”, observou ela.