O Brasil e a indústria aeroespacial sionista

Infelizmente o Brasil mantém relações econômicas com o Estado Sionista do Apartheid Colonial na Palestina Ocupada (“Israel”). O comércio exterior com o país fictício inventado por invasores europeus nos é desfavorável e reproduz o padrão colonialista da divisão internacional do trabalho e de um sistema desfavorável de trocas. Veremos neste artigo como se dá esta relação de longo prazo  porque é preciso “desnaturalizar” estas trocas.

Em 2019, o presidente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria era Jayme Blay. Junto a uma grande comitiva, e as missões para o Estado Sionista, Blay afirmou – em matéria no site da CONIB – quando da visita de Jair Bolsonaro:

“Estas missões são trabalho permanente da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria. A deste ano (2019) coincidiu com a visita de Jair Bolsonaro, o que deu um caráter mais ostensivo à viagem’. ‘Os empresários sempre procuram a melhor solução para suas questões, independente da ideologia política. Isso influencia pouco. Mas quando há uma indicação do governo, quando há um aceno para uma direção, que o empresário sabe que o governo não vai opor restrições, o cenário melhora. É um aspecto positivo. Nós estamos vendo com bons olhos o desenrolar e achamos que muitos negócios vão acabar surgindo’. ‘Existem muitas soluções com as quais o Brasil pode se beneficiar imediatamente, para tanto é importante incentivar essas parcerias, fazendo com que todas as áreas em que Israel tem muita coisa a contribuir com o Brasil possam ser divulgadas’, destacou Blay.

Como foi descrito acima, a instância que mais incentiva e opera o ambient de negócios que geram estas relações comerciais é a Câmara Brasil Israel de Comércio e Indústria, que não por acaso atende pela sigla (em inglês) de BRIL CHAMBER. Dentre os setores econômicos promovidos pela Câmara está o de Defesa & Segurança e Cibersegurança. Duas empresas com capitais sionistas operam nestas rubricas a partir da Câmara. São elas a Israel Aerospace Industries (IAI) e Rafael Advanced Defense Systems (RAFAEL). Não por acaso, um contrato entre a IAI e a FAB é alvo de questionamento.

A compra dos drones sionistas

Em matéria de Petrônio Viana, repórter da coluna de Paulo Capelli no portal Metrópoles, saiu uma notícia importante no que diz respeito aos contratos da indústria aeroespacial do Apartheid Sionista e a Força Aérea Brasileira. A deputada federal Fernanda Melchiona (PSOL/RS) questiona, sobretudo, o acordo com a Israel Aerospace Industries LTD no valor de R$ 86,1 milhões, firmado sem licitação, para manutenção de dois drones Heron I RQ – 1150 de fabricação israelense. O questionamento da parlamentar gaúcha foi noticiado em 29 de março; uma das bases de informação da denúncia veio de outra reportagem.

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Esta foi publicada pelo mesmo portal em 10 de março. Segundo o repórter Petrônio Viana – baseado em ampla documentação –  a Força Aérea Brasileira (FAB) iria pagar R$ 86 milhões, em contrato firmado por inexibilidade de licitação. A Israel Aerospace Industries LTD cuidaria da manutenção de duas aeronaves remotamente pilotadas modelo Heron-I.

Os demais dados de tão absurdos, parecem série de ficção:

“As duas aeronaves Heron-I foram compradas pela Polícia Federal (PF) em 2009 por R$ 27 milhões, em um programa de vigilância que foi encerrado depois de mais de R$ 150 milhões em despesas.  Entre 2011 e 2016, as aeronaves voaram apenas mil horas das 40 mil horas previstas pelo programa. Elas ficaram guardadas em um galpão na cidade de São Miguel do Iguaçu, no Paraná, entre 2016 e 2019, quando foram doadas à FAB e incorporadas, em 2020, ao Primeiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação, chamado Esquadrão Orungan. Em 2021, a FAB adquiriu duas aeronaves não tripuladas Hermes 900, usadas pelo Esquadrão Hórus.” 

Infelizmente, o caso acima não se trata de “novidade” e sim de um padrão.

Segundo reportagem publicada em O Globo, assinada por Eliane Oliveira em 20 de fevereiro, O Brasil compra mais do que vende para o Estado Sionista. A matéria saiu bem no auge da “crise diplomática” depois que o presidente Lula falou o óbvio a respeito do genocídio palestino. Após apurar dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC cujo titular da pasta é o vice presidente Geraldo Alckmin, ele próprio descendente de árabes) a matéria demontra como a relação comercial do Brasil com Israel, país com o qual enfrenta uma crise diplomática, é desequilibrada.

Do total de US$ 339 bilhões exportados em 2023, apenas 0,2%, ou US$ 661,9 milhões, foram para os israelenses. Na outra não, de tudo que foi importado no ano passado, US$ 240 bilhões, 0,6%, (US$ 1,352 bilhão) veio daquele país. Com isso, o Brasil teve um déficit comercial de US$ 690 milhões no intercâmbio de bens com os israelenses.

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Este analista identifica uma base de relação bilateral de base colonial, tutelada e apoiada pelos Estados Unidos e a própria mentalidade subalterna do setor hegemônico da indústria brasileira. Vejamos a comprovação, ainda segundo a matéria citada de O Globo.

O que Israel compra do Brasil? Israel é um grande importador de alimentos do Brasil. Foram exportados US$ 662 milhões para aquele país no ano passado, com destaque para petróleo, soja e carne bovina.

O que o Brasil compra de Israel? Israel vende ao mercado brasileiro equipamentos militares e de alta tecnologia. Também exporta para o Brasil produtos como adubos e fertilizantes, aeronaves e produtos químicos. As empresas brasileiras compraram US$ 1,352 bilhão de Israel no ano passado.

O Apartheid Sionista e a luta contra a indústria aeroespacial brasileira

Ou seja, o país poderia – deveria – ter uma base de indústria química e petroquímica (como o planejamento dos polos petroquímicos oriundos ainda do governo ditatorial de Geisel, 1974-1979) para ser autossuficiente em insumos e defensivos agrícolas. Ao reforçar a dependência na importação de veneno para a agricultura de intensidade (voltada para exportação), nos tornamos mais vulneráveis a acontecimentos de disputa de blocos de poder (como a guerra Rússia X Ucrânia, Eurásia x OTAN) ou de expansionismo neocolonial, como os assentamentos sionistas (ilegais) na Palestina Ocupada.

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O segundo bloco de importação beira o absurdo. Para que um país como o Brasil, que conta com o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Empresa Brasileira de Aeronaves (EMBRAER S.A.) vai comprar produtos de aviação sem ao menos garantir a transferência de tecnologia embarcada?! E mesmo se os aviônicos tiverem seus códigos fonte comutados (compartilhados), ainda assim, estaríamos sob o risco (estamos) de que a armazenagem dos dados sejam copiados automaticamente (via comutação) para a inteligência de Tel Aviv.

É o mesmo princípio dos softwares de espionagem que alimentavam a extrema direita e os neofascistas no caso da ABIN paralela e no GSI que não “previu” o 08 de janeiro de 2023! Para quê comprar esses equipamentos? Para tirar empregos no Brasil? Para não desenvolver ainda mais nossa indústria aeroespacial? Para não apoiar a fabricação de drones (aeronaves não tripuladas) fabricadas no país?

Evidente que uma mentalidade colonial no Sistema Internacional – como a que apoia a Ocupação da Palestina – será refletida no país. Ao comprar equipamento aeroespacial do Apartheid Sionista, as estruturas de poder brasileiras vão reforçando a condição primária exportadora e aumentando a dependência do país diante das pressões especulativas do comércio mundial de commodities.

 

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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