A escalada de tensões entre Israel e Irã, deflagrada pelo ataque israelense ao consulado iraniano em Damasco, em 1° de abril, está ofuscando a crise humanitária que ainda assola os palestinos de Gaza, advertiram ativistas e especialistas.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
No sábado (13), Teerã lançou disparos inéditos de mísseis e drones contra Israel, mediante aviso prévio, ao permitir a interceptação da maioria de seus 300 projéteis.
A crise humanitária em Gaza, contudo, continua há mais de seis meses, deixando 33.899 mortos e 76.664 feridos desde 7 de outubro, além de dois milhões de desabrigados.
Entre 1° e 15 de abril, ataques de Israel deixaram ao menos 952 mortos e 1.073 feridos. Ainda em 1° de abril, um bombardeio da ocupação matou sete trabalhadores humanitários da ong World Central Kitchen (WCK), entre os quais, três cidadãos britânicos, um australiano, um polonês, um americano-canadense e um palestino.
O ataque levou a condenação internacional e apelos por justiça. Israel alegou “erro”.
LEIA: Após 76 anos de Nakba, bastam 24 horas para ONU ‘condenar’ o Irã
Conforme Neve Gordon, professor de direito internacional e direitos humanos na Universidade Queen Mary de Londres: “O bombardeio à embaixada iraniana foi calculado para desviar o foco de Gaza e conter a queda de apoio ocidental às políticas do premiê Benjamin Netanyahu”.
“O que vimos nos últimos dias foi como as elites políticas ocidentais — até então, cada vez mais críticas ao assassinato em massa de civis por Israel e apreensivas sobre o impacto da fome — se realinharam para manter seu apoio a Israel”, acrescentou Gordon.
Gordon advertiu que “o risco é imenso e transcende Israel, Palestina e Irã, dado que os conflitos podem facilmente se espalhar a uma guerra regional e mesmo global”.
“Qualquer líder responsável bateria os pés para exigir o cessar-fogo imediato não apenas entre Israel e Irã, mas sobretudo em Gaza”, reafirmou o acadêmico.
Mustafa Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina, concorda com Gordon.
“Netanyahu tenta, sim, desviar atenção da situação em Gaza e do hediondo genocídio cometido por Israel”, explicou Barghouti. “Israel tenta retratar-se como vítima e preservar essa imagem. A provocação [isto é, o ataque ao consulado] foi executada com esse propósito”.
Em 25 de março, o Conselho de Segurança enfim aprovou uma resolução por cessar-fogo até o fim do Ramadã, sob abstenção dos Estados Unidos após três vetos em favor do Estado colonial sionista. Tel Aviv, contudo, manteve os ataques, sem qualquer sanção ou contrapartida.
Apesar de uma determinação do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, de 26 de janeiro, Israel ainda impõe um cerco militar absoluto contra a Faixa de Gaza — sem comida, água, medicamentos, energia elétrica ou combustível.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.