O primeiro-ministro da Escócia, Humza Yousaf, renunciou de seu cargo nesta segunda-feira (29), diante de um voto de censura pouco promissor, em meio a divisões políticas no Reino Unido — incluindo sobre Gaza e a questão palestina, da qual Yousaf é apoiador.
Em discurso televisionado, Yousaf anunciou a decisão, ao reiterar: “Não estou disposto a trocar meus valores e princípios e fazer acordos com qualquer um meramente para reter poder”.
Na semana passada, Yousaf encerrou a aliança entre o Partido Nacional Escocês (SNP), do qual é membro, e o Partido Verde, levando grupos de oposição a agendar duas moções de censura no parlamento — uma contra Yousaf, outra contra seu partido.
Apesar de expressar “confiança”, Yousaf capitulou à incerteza sobre o resultado em plenário, ao debater a matéria com outros partidos em busca de uma coalizão de minoria.
O primeiro-ministro admitiu “subestimar” as fissuras resultantes do fim de seu acordo de compartilhamento de poder com o Partido Verde. Em último caso, afirmou: “Concluí que reparar o relacionamento ao longo do espectro político só pode ser feito por outra pessoa no comando”.
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Yousaf é primeiro muçulmano a chegar ao cargo de primeiro-ministro da Escócia, assim como o primeiro chefe de governo de origens paquistanesas. Devido a suas raízes e seu posicionamento pró-Palestina, Yousaf é constantemente atacado por forças conservadoras.
Nos últimos meses, o premiê reforçou apoio aos palestinos de Gaza, sob bombardeios de Israel há mais de seis meses.
Seu governo se recusou a capitular à campanha de difamação posta por Israel contra a Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), ao contrapor o Reino Unido — governado pelo conservador Rishi Sunak — e negar cortar doações.
Em 9 de outubro, Yousaf fez um apelo pelo retorno dos pais de sua esposa, Nadia el-Nakla, que estavam em Gaza, visitando familiares, quando Israel deflagrou sua campanha de extermínio. Os sogros de Yousaf conseguiram atravessar Rafah apenas em 5 de novembro.
Embora não seja um fator oficial a sua queda, a postura de Yousaf em solidariedade ao povo da Palestina histórica o tornou vulnerável a forças opositoras, conservadoras e racistas.
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Em seu comunicado, Yousaf se emocionou ao agradecer sua esposa e filhos: “Não posso dizer a honra que é ser primeiro-ministro de um país que amo, onde construí minha família. Enquanto menino, nascido e crescido na Escócia, jamais sequer sonhei que um dia teria este privilégio de governar meu país”.
“Quando eu era jovem, pessoas parecidas comigo não tinham quaisquer posições de influência política, muito menos poderiam liderar um governo”, acrescentou.
O líder do Partido Verde, Patrick Harvie, saudou a renúncia de Yousaf como medida correta a ser tomada. “É lamentável que termine desse jeito. Certamente, não precisava ser assim”, declarou Harvie.
Segundo a rede BBC, não há indícios, até então, de quem substituirá Yousaf.