Com a crescente impopularidade e rejeição por parte do eleitorado na “única democracia do Oriente Médio”, como costumam dizer, a saída de Netanyahu, à qual parece inevitável, abre espaço para um novo líder e, potencialmente, uma nova abordagem política. – Mas o que isso representa de mudança para o povo palestino, o extermínio em Gaza e a Ocupação na Cisjordânia?
Primeiramente, é importante destacar que Netanyahu liderou o país por quase duas décadas, intercaladas em três mandatos distintos, mais do que muitos ditadores da história mundial. Seu tempo no poder proporcionou o crescimento de seu partido, o Likud, classificado como centro-esquerda. Todo período que Netanyahu esteve no poder foi marcado por uma política linha-dura em relação aos palestinos, incluindo ataques militares em Gaza e uma postura firme em relação à ocupação na Cisjordânia.
A alternância de governo e linhas ideológicas do “estado de Israel” pouco representa aos palestinos. Vamos considerar o histórico do governo em ordem cronológica:
Em 1948, a Nakba, o maior projeto de expulsão dos palestinos e autoproclamação do estado de Israel, foi orquestrado e executado pelo partido Mapai (sionista trabalhista) com David Ben-Gurion à sua frente.
Em 1967, quando Israel lançou ataques – qual chamou de preventivo – contra as forças militares egípcias, sírias e jordanianas ainda em solo, iniciando o que ficou conhecido como “Guerra dos Seis Dias”, a ordem veio de Levi Eshkol, outro integrante do Mapai.
De 1969 à 1974, foi a vez de Golda Meir de continuar com o plano de ocupação de mais terras palestinas. Ela também pertencia ao Mapai, que em 1968 acabou se tornando o Partido Trabalhista, mas sem nenhuma alteração em sua linha ideológica sionista.
Em 1974, Yitzhak Rabin, um conhecido soldado que ficou famoso por ser um dos responsáveis pelo deslocamento dos palestinos durante a Nakba, assumiu pela primeira vez o mandato de primeiro-ministro. Ele também pertenceu ao Mapai e foi eleito pelo Partido Trabalhista.
Da Década de 1980 em diante, o governo israelense foi alterando de mãos, entre um assassino e outro, tais como Menachem Begin, Shimon Peres, Rabin novamente, Shimon Peres novamente, Netanyahu, Ariel Sharon e alguns outros, responsáveis por diversos episódios como a Primeira e a Segundo Intifada, o cerco completo de Gaza, a construção do Muro do Apartheid, até o que estamos presenciando hoje. Tudo isso serviu, cada vez mais, para aumentar a popularidade do Likud (partido de Netanyahu) e outros partidos ainda mais extremistas.
Fundado em 1973, o Likud ganhou popularidade por ser ainda mais radical que um simples partido de direita. Sua política revisionista descendente dos pensamentos racistas de Zeev Jabotinsky e seu fundador, Menachem Begin, que tem como característica principal a expulsão de todos os palestinos do território e a expansão do território israelense para o que chamava de grande Israel, expandindo-se para áreas do Líbano, Jordânia, Síria e Egito.
Com esse histórico, podemos afirmar que não importando a bandeira ou a sigla do partido do próximo a sentar na cadeira no Knesset, todos, sejam eles pertencentes a partidos religiosos, de direita, de centro ou, como costumam dizer alguns teóricos, de sionismo de esquerda, não faz diferença, afinal todos são sionistas com objetivos claramente declarados: a expulsão do povo palestino e a ocupação de suas terras.
Usar o termo “esquerda” não quer dizer que um partido sionista tenha tendências de justiça social ou promoção de direitos humanos. Seria o mesmo que procurar tendências socialistas, ou de esquerda dentro dos regimes nazistas, fascistas ou de apartheid como na África do Sul até 1994. É no mínimo incoerente afirmar que exista uma única forma ideológica de um partido de esquerda se seu principal objetivo é o extermínio de um povo nativo e sua substituição por uma população estrangeira seguida pelo roubo de terras. Simplesmente não há tal possibilidade, já que o sionismo, seja de direita ou de pseudo esquerda, é, como declarado pelo Governo da África do Sul e posteriormente afirmado pelas organizações Anistia Internacional e Human Rights Watch, um regime de apartheid.
Assim sendo, uma possível saída de Netanyahu pode sim representar uma mudança no regime interno de ocupação, o que não significa que será seu fim. Uma dança das cadeiras no Knesset altera a forma como são priorizadas as políticas domésticas do “estado de Israel”, mas não representa nenhuma vitória para o povo palestino, dado que seu plano de extermínio palestino continuará o mesmo. A única possível mudança seria o fim da colonização da palestina e a criminalização do sionismo pelo que ele é: um regime racista e genocida.
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