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Dia da Vitória contra o nazifascismo – uma perspectiva menos ocidental

[valentinrussanov/Getty Images]
[valentinrussanov/Getty Images]

É necessária uma avaliação sobre as celebrações da vitória da Rússia sobre o nazismo, 9 de maio, e  mencionar corretamente o papel do exército soviético na derrota do nazismo. A partir da inflexão de força realizada pela Moscou comandada por Putin, podemos fazer projeções sobre as atuais condições políticas internacionais e a perspectiva da aliança com a China e a complementaridade econômica Eurasiática e Intra-asiática.

Talvez por pura estupidez, ou pretensão, o Ocidente continua a desvalorizar o papel da União Soviética na 2a guerra mundial. Na atualidade do século XXI, se realiza uma campanha bastante intensa, liderada pelos governos europeus para remover todas as lembranças da vitória sobre o nazismo.

O dia da vitória, 8 e 9 de maio

Nosso país participou dos dois últimos anos do conflito, ao lado dos Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido, França e outros aliados, que enfrentaram Alemanha, Itália e Japão. O país asiático se manteve no conflito até setembro de 1945, quando se rendeu após ser alvo de armas nucleares norte-americanas, em Hiroshima e Nagasaki. Já na Europa o conflito termina em maio.

Segundo o analista internacional e especialista em Rússia Valdir da Silva Bezerra:

“A Rússia de hoje tão somente procura defender seus interesses nacionais e de segurança, ao mesmo tempo em que não se deixa esquecer das mais de 27 milhões de vidas soviéticas (entre civis e militares) que foram sacrificadas pela Vitória na Segunda Guerra Mundial. Nenhum outro país derramou tanto sangue quanto a União Soviética para a derrota do nazifascismo.

No passado, os próprios Aliados (Estados Unidos e Reino Unido) reconheceram esse fato, quando na Conferência de Yalta (na Crimeia) as partes definiram que dos US$ 22 bilhões (R$ 110 bilhões) calculados como reparação de guerra a ser paga pelos alemães, 50% desse montante deveriam ser destinados exclusivamente à União Soviética.”

Para os russos, a data marca o 79º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. A União Soviética – que incluía então não só a Rússia, mas também a Ucrânia, a Bielorrússia, os países do Norte do Cáucaso e da Ásia Central  – perdeu 27 milhões de pessoas no que os russos chamam de “Grande Guerra Patriótica”, mais do que qualquer outro país. A rendição incondicional da Alemanha nazista entrou em vigor às 23h01. em 8 de maio de 1945, marcado como o “Dia da Vitória na Europa” pela França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Em Moscovo já era 9 de Maio, que se tornou o “Dia da Vitória” da União Soviética.

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A partir do ano seguinte, e em especial nos anos da establidade promovida pela Nomenklatura, a União Soviética celebrou com muita ênfase os 20º e 40º aniversários do Dia da Vitória com desfiles na Praça Vermelha em 1965 e 1985. Após a queda da União Soviética, o presidente russo Boris Yeltsin tornou-os um evento anual a partir de 1995.

Na Era Putin, o Dia da Vitória tornou-se cada vez mais uma exibição poderosa não só de batalhões em marcha, mas também do mais recente armamento da Rússia, incluindo aviões de guerra, tanques e mísseis balísticos intercontinentais com capacidade nuclear.

A contagem de corpos, o volume do sacrifício

Vale observar o que o colunista do Washington Post, Ishann Tharoor, colocou a respeito do Dia da Vitória e do papel da União Soviética na 2a Guerra Mundial. Afirma o jornalista que, injustamente ou não, as atuais tensões obscurecem a escala do que está a ser comemorado: a partir de 1941, a União Soviética suportou o peso da máquina de guerra nazista e desempenhou talvez o papel mais importante na derrota de Hitler pelos Aliados. Segundo um cálculo, para cada soldado americano morto lutando contra os alemães, 80 soldados soviéticos morreram fazendo o mesmo.

Segundo Tharoor, “É claro que o início da guerra foi moldado por um pacto nazi-soviético para dividir as terras entre as suas fronteiras. Então Hitler se voltou contra a URSS.”

O Exército Vermelho foi “o principal motor da destruição do nazismo”, escreve o historiador e jornalista britânico Max Hastings em “Inferno: The World at War, 1939-1945”. A União Soviética pagou o preço mais duro: embora os números não sejam exactos, estima-se que 27 milhões de cidadãos soviéticos morreram durante a Segunda Guerra Mundial, incluindo cerca de 11 milhões de soldados. Ao mesmo tempo, os alemães sofreram três quartos de suas perdas durante a guerra lutando contra o Exército Vermelho.

“Foi uma sorte extrema dos Aliados Ocidentais que os russos, e não eles próprios, tenham pago quase toda a ‘conta do açougueiro’ por [derrotar a Alemanha nazista], aceitando 95 por cento das baixas militares das três principais potências da Grande Aliança.”, escreve Hastings.

O preço sempre é mais alto quando a guerra é no próprio território

Para o portal Russia Beyond, a Alemanha nazista conseguiu atrair recursos humanos e materiais de quase toda a Europa para combater a União Soviética. Tropas italianas, romenas, húngaras e finlandesas, bem como contingentes militares de Espanha, Eslováquia e Croácia e voluntários da França ocupada, Benelux e países escandinavos, lutaram ao lado da Wehrmacht contra o Exército Vermelho.

Várias vezes durante a guerra, a URSS esteve à beira de um desastre militar. No Outono de 1941, os alemães estavam às portas de Moscovo e, no Verão de 1942, estavam a um passo de privar quase completamente o país da “força vital da guerra” – o petróleo.

Foi só depois do triunfo da “Batalha de Stalingrado” que a União Soviética pôde respirar com mais facilidade. No entanto, ainda teve de suportar mais dois anos e meio de guerra sangrenta.

Quem ganhou a guerra na Europa?

A agência France 24 nos recorda que logo após o fim dos combates europeus, em Maio de 1945, uma sondagem realizada pelo grupo de investigação francês Ifop concluiu que 57 por cento dos franceses consideravam que Moscou tinha contribuído mais para o esforço de guerra, em comparação com apenas 20 por cento que apontaram os Estados Unidos.

Nas décadas seguintes, a máquina de propaganda de Hollywood levou o conflito para a participação dos EUA, a partir da campanha do Pacífico e depois na Itália e Normandia. É preciso admitir que a 2a Guerra Mundial foi decidida pelo Exército Vermelho, dada a prioridade da campanha europeia. A releitura do Dia da Vitória reflete a projeção de poder de Putin e da Rússia moderna sobre os espaços pós-soviéticos.

Mesmo com a correta crítica ao nefasto legado de Stálin e a necessidade de diferenciar a política doméstica russa de seu confronto com a OTAN, temos de garantir a honestidade intelectual e a correção histórica. Sem o esforço da população da antiga União Soviética, não haveria a derrota do nazifascismo.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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