Atualmente, dentre os 193 estados membros das Nações Unidas, 143 reconhecem oficialmente a Palestina como um Estado. Este reconhecimento vai além de um gesto simbólico; ele representa o primeiro passo à autodeterminação do povo palestino e à busca por um Estado soberano e independente. Mas …
…ao analisar os dados de reconhecimento, constatamos algo ainda mais sombrio: em pleno século XXI, o cenário de exploração dos colonizadores permanece o mesmo. Para compreendermos o argumento que pode soar como teoria da conspiração, observe o mapa acima.
A área verde representa que atualmente 75% do planeta concorda com o direito da Palestina a oficializar seu estado. Esse reconhecimento foi iniciado em 15 de novembro de 1988, data da proclamação de independência da Palestina, na qual teve (até o fim daquele ano) reconhecimento imediato de mais de oitenta países. Lembrando que a Declaração de Independência da Palestina, lida por Yasser Arafat (líder da Organização para Libertação da Palestina) e escrita pelo poeta palestino Mahmoud Darwish, foi pronunciada em Argel, capital da Argélia, dado que a OLP e a maioria dos líderes palestinos estavam exilados e foram perseguidos mesmo nos exílios da Jordânia, Síria e Líbano.
Desde 1988, a cada ano, mais países têm reconhecido o direito de libertação nacional e soberania sobre o estado palestino, totalizando 143 países, com as últimas adesões de Jamaica, Trinidad e Tobago e Bahamas, completando a lista de todos os países do Caribe. Porém, para entender a situação completa, embora seja simples, devemos voltar nossas atenções para duas perguntas básicas: – Quem são os estados membros da ONU que reconhecem o estado Palestino e quem são os que não reconhecem? A resposta para a primeira pergunta, grosso modo, pode-se dizer que quase em sua completude, todos os países que reconhecem o estado palestino em algum momento foram vítimas de colonização de alguma potência da Europa Ocidental, na qual ainda hoje, lutam para curar as feridas deixadas pela exploração colonial como no caso do Brasil que passou por fases de extermínio do povo originário, escravização de povos africanos, processo de branqueamento, exploração dos recursos naturais e um racismo hereditário e estrutural em nossas sociedades; tudo isso, males dos quais ainda sofremos atualmente.
Para a segunda pergunta – quem são aqueles que não reconhecem o Estado da Palestina –, a resposta é tão simples quanto: eles são exatamente o outro lado da moeda, ou seja, os colonizadores. No exemplo do Continente Americano, predominantemente colonizado por Espanha e Portugal, com algumas outras interferências da Inglaterra e Holanda, temos os seguintes mapas:
Antes de prosseguir para o próximo mapa, cabe lembrar que, avançando no tempo, entre 1884 e 1885, foi realizada a Conferência de Berlim, uma reunião em que as principais potências europeias discutiram e deliberaram sobre a divisão e colonização do continente africano. A conferência foi motivada pelo aumento da competição entre as potências coloniais europeias.
Mas diriam que o período colonial findou em meados do século XX. Não é bem assim e esse período que seguimos corresponde diretamente ao início do período de colonização mais brutal a que a Palestina foi submetida.
Em 16 de maio de 1916, prevendo o declínio do Império Otomano, os governos do Reino Unido, da França e do Império Russo decidiram, secretamente, partilhar as províncias árabes dos otomanos. O acordo assinado pelos diplomatas britânico Mark Sykes e o francês Georges-Picot dava ao Reino Unido autoridade colonial sobre a Transjordânia (atual Jordânia) e a região do Iraque de hoje, enquanto a França deteria poder colonial sobre a Síria e o Líbano. A Palestina foi reclamada por todas as três potências; o Czar julgava que os lugares santos deveriam ficar sob seu controle, já que ele era também a Autoridade Suprema Ortodoxa. Ficou decidido então que a Palestina ficaria sob administração internacional até que seu futuro fosse acordado entre as potências.
Em 1917, a revolução bolchevique derrubou o Czar Nicolau II. Com Lenin no poder, os comunistas invalidaram as reivindicações do Czar sobre o território otomano, abrindo mão da Palestina e tornando públicos vários acordos secretos, entre eles o acordo de Sykes-Picot. É então que o acordo perde o nome de Sazanov sendo conhecido tal qual é hoje, apenas Sykes-Picot.
Para resumir um pouco a história, foi após esse Acordo que iniciou-se o Mandato Britânico para a Palestina. Até que, por fim, chegou a Segunda Guerra Mundial.
Devastado economicamente, o Reino Unido decidiu abdicar da Palestina e deixar a cargo da recém-fundada ONU um plano de partilha do território entre os palestinos originários e os imigrantes europeus de fé judaica. Aí vem o que conhecemos como a resolução 181, na qual as mesmas potências colonialistas acharam prudente “sugerir” que a maior parte do território deveria ficar com os imigrantes europeus, inaugurando outra fase da colonização: o autoproclamado Estado de Israel.
Quanto aos EUA, não caberia em texto ou mapa as ações desse governo que, diferente do colonialismo europeu, atua com o que conhecemos por imperialismo, ou seja, ações militares ou mesmo com interferência política, como o fez em toda a América Latina. Vale lembrar que atualmente o Havaí é um estado dos EUA, mesmo sendo uma ilha do Pacífico Central, e que Porto Rico é uma colônia não formalizada. Sem dizer que o Panamá, um dos únicos países da América Central que não reconhecem o estado da Palestina, graças ao Canal, foi o país que mais sofreu interferências militares e política estadunidenses e que ainda hoje é basicamente uma província ianque.
Dado o histórico colonizador versus colonizados, sem correr o risco de ser acusado de anacronismos, podemos afirmar que ainda hoje, os mesmos nomes que enriqueceram às custas do sangue, suor e lágrimas (como diria Churchill) ainda são aqueles que continuam apoiando a colonização de Israel sobre a Palestina.
Reconhecer o Estado da Palestina, como já dito, é o primeiro passo para a libertação do povo palestino e virar a página do colonialismo na história do mundo. Reconhecer o estado e sua soberania é justamente reconhecer que, como seres humanos, não aceitamos mais regimes coloniais e exploratórios, portanto, justamente aqueles que não reconhecem continuam se agarrando com unhas e dentes para a manutenção desse regime. A pergunta final que se coloca é crucial: se 143 países, representando quase 75% do planeta, reconhecem a soberania do Estado palestino, será que ainda estamos sob a influência ideológica de um aparato colonialista e imperialista?
Lista de países que reconhecem o Estado da Palestina
- Argélia: 15 de novembro de 1988
- Bahrein: 15 de novembro de 1988
- Iraque: 15 de novembro de 1988
- Kuwait: 15 de novembro de 1988
- Líbia: 15 de novembro de 1988
- Malásia: 15 de novembro de 1988
- Mauritânia: 15 de novembro de 1988
- Marrocos: 15 de novembro de 1988
- Somália: 15 de novembro de 1988
- Tunísia: 15 de novembro de 1988
- Iémen: 15 de novembro de 1988
- Afeganistão: 16 de novembro de 1988
- Bangladesh: 16 de novembro de 1988
- Cuba: 16 de novembro de 1988
- Indonésia: 16 de novembro de 1988
- Jordânia: 16 de novembro de 1988
- Madagáscar: 16 de novembro de 1988
- Malta: 16 de novembro de 1988
- Nicarágua: 16 de novembro de 1988
- Paquistão: 16 de novembro de 1988
- Catar: 16 de novembro de 1988
- Arábia Saudita: 16 de novembro de 1988
- Emirados Árabes Unidos: 16 de novembro de 1988
- Sérvia: 16 de novembro de 1988
- Zâmbia: 16 de novembro de 1988
- Albânia: 17 de novembro de 1988
- Brunei: 17 de novembro de 1988
- Djibuti: 17 de novembro de 1988
- Maurício: 17 de novembro de 1988
- Sudão: 17 de novembro de 1988
- Chipre: 18 de novembro de 1988
- República Checa: 18 de novembro de 1988
- Eslováquia: 18 de novembro de 1988
- Egito: 18 de novembro de 1988
- A Gâmbia: 18 de novembro de 1988
- Índia: 18 de novembro de 1988
- Nigéria: 18 de novembro de 1988
- Seicheles: 18 de novembro de 1988
- Sri Lanka: 18 de novembro de 1988
- Bielorrússia: 19 de novembro de 1988
- Guiné: 19 de novembro de 1988
- Namíbia: 19 de novembro de 1988
- Rússia: 19 de novembro de 1988
- Ucrânia: 19 de novembro de 1988
- Vietnã: 19 de novembro de 1988
- China: 20 de novembro de 1988
- Burkina Faso: 21 de novembro de 1988
- Comores: 21 de novembro de 1988
- Guiné-Bissau: 21 de novembro de 1988
- Mali: 21 de novembro de 1988
- Camboja: 21 de novembro de 1988
- Mongólia: 22 de novembro de 1988
- Senegal: 22 de novembro de 1988
- Hungria: 23 de novembro de 1988
- cabo Verde: 24 de novembro de 1988
- Coréia do Norte: 24 de novembro de 1988
- Níger: 24 de novembro de 1988
- Romênia: 24 de novembro de 1988
- Tanzânia: 24 de novembro de 1988
- Bulgária: 25 de novembro de 1988
- Maldivas: 28 de novembro de 1988
- Gana: 29 de novembro de 1988
- Irlanda: 29 de novembro de 1988
- Zimbábue: 29 de novembro de 1988
- Chade: 1º de dezembro de 1988
- Laos: 2 de dezembro de 1988
- Serra Leoa: 3 de dezembro de 1988
- Uganda: 3 de dezembro de 1988
- República do Congo: 5 de dezembro de 1988
- Angola: 6 de dezembro de 1988
- Moçambique: 8 de dezembro de 1988
- São Tomé e Príncipe: 10 de dezembro de 1988
- República Democrática do Congo: 10 de dezembro de 1988
- Gabão: 12 de dezembro de 1988
- Omã: 13 de dezembro de 1988
- Polônia: 14 de dezembro de 1988
- Botsuana: 19 de dezembro de 1988
- Nepal: 19 de dezembro de 1988
- Burundi: 22 de dezembro de 1988
- República Centro-Africana: 23 de dezembro de 1988
- Butão: 25 de dezembro de 1988
- Ruanda: 2 de janeiro de 1989
- Etiópia: 4 de fevereiro de 1989
- Irã: 4 de fevereiro de 1989
- Benim: 12 de maio de 1989
- Quênia: 12 de maio de 1989
- Guiné Equatorial: Maio de 1989
- Vanuatu: 21 de agosto de 1989
- Filipinas: 4 de setembro de 1989
- Essuatíni: 1º de julho de 1991
- Cazaquistão: 6 de abril de 1992
- Azerbaijão: 15 de abril de 1992
- Turcomenistão: 17 de abril de 1992
- Geórgia: 25 de abril de 1992
- Bósnia e Herzegovina: 27 de maio de 1992
- Tadjiquistão: 6 de setembro de 1992
- Uzbequistão: 25 de setembro de 1994
- Papua Nova Guiné: 4 de outubro de 1994
- África do Sul: 15 de fevereiro de 1995
- Quirguistão: 12 de setembro de 1995
- Maláui: 23 de outubro de 1998
- Timor Leste: 1º de março de 2004
- Paraguai: 25 de março de 2005
- Montenegro: 24 de julho de 2006
- Costa Rica: 5 de fevereiro de 2008
- Líbano: 30 de novembro de 2008
- Costa do Marfim: 1º de dezembro de 2008
- Venezuela: 27 de abril de 2009
- República Dominicana: 14 de julho de 2009
- Brasil: 1º de dezembro de 2010
- Argentina: 6 de dezembro de 2010
- Bolívia: 17 de dezembro de 2010
- Equador: 24 de dezembro de 2010
- Chile: 7 de janeiro de 2011
- Guiana: 13 de janeiro de 2011
- Peru: 24 de janeiro de 2011
- Suriname: 1º de fevereiro de 2011
- Uruguai: 15 de março de 2011
- Lesoto: 6 de junho de 2011
- Sudão do Sul: 9 de julho de 2011
- Síria: 18 de julho de 2011
- Libéria: 19 de julho de 2011
- El Salvador: 25 de agosto de 2011
- Honduras: 26 de agosto de 2011
- São Vicente e Granadinas: 29 de agosto de 2011
- Belize: 9 de setembro de 2011
- Domínica: 19 de setembro de 2011
- Antígua e Barbuda: 22 de setembro de 2011
- Islândia: 15 de dezembro de 2011
- Tailândia: 18 de janeiro de 2012
- Guatemala: 9 de abril de 2013
- Granada: 29 de setembro de 2013
- Haiti: 29 de setembro de 2013
- Suécia: 30 de outubro de 2014
- Santa Lúcia: 14 de setembro de 2015
- Colômbia: 3 de agosto de 2018
- São Cristóvão e Nevis: 30 de julho de 2019
- México: 2 de junho de 2023
- Barbados: 19 de abril de 2024
- Jamaica: 22 de abril de 2024
- Trinidad e Tobago: 2 de maio de 2024
- Bahamas
LEIA: Assembleia Geral da ONU deve apoiar candidatura palestina a membro
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.