143 (de 193) países na ONU reconhecem oficialmente o Estado da Palestina

Uma visão geral da reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Oriente Médio na Sede das Nações Unidas em Nova Iorque, Estados Unidos, em 28 de fevereiro de 2019 [Atılgan Özdil/Agência Anadolu]

Atualmente, dentre os 193 estados membros das Nações Unidas, 143 reconhecem oficialmente a Palestina como um Estado. Este reconhecimento vai além de um gesto simbólico; ele representa o primeiro passo à autodeterminação do povo palestino e à busca por um Estado soberano e independente. Mas …

Figura 1 – Em verde, Estados que reconhecem oficialmente o Estado da Palestina [Arte/Lucas Siqueira]

…ao analisar os dados de reconhecimento, constatamos algo ainda mais sombrio: em pleno século XXI, o cenário de exploração dos colonizadores permanece o mesmo. Para compreendermos o argumento que pode soar como teoria da conspiração, observe o mapa acima.

A área verde representa que atualmente 75% do planeta concorda com o direito da Palestina a oficializar seu estado. Esse reconhecimento foi iniciado em 15 de novembro de 1988, data da proclamação de independência da Palestina, na qual teve (até o fim daquele ano) reconhecimento imediato de mais de oitenta países. Lembrando que a Declaração de Independência da Palestina, lida por Yasser Arafat (líder da Organização para Libertação da Palestina) e escrita pelo poeta palestino Mahmoud Darwish, foi pronunciada em Argel, capital da Argélia, dado que a OLP e a maioria dos líderes palestinos estavam exilados e foram perseguidos mesmo nos exílios da Jordânia, Síria e Líbano.

Desde 1988, a cada ano, mais países têm reconhecido o direito de libertação nacional e soberania sobre o estado palestino, totalizando 143 países, com as últimas adesões de Jamaica, Trinidad e Tobago e Bahamas, completando a lista de todos os países do Caribe. Porém, para entender a situação completa, embora seja simples, devemos voltar nossas atenções para duas perguntas básicas: – Quem são os estados membros da ONU que reconhecem o estado Palestino e quem são os que não reconhecem? A resposta para a primeira pergunta, grosso modo, pode-se dizer que quase em sua completude, todos os países que reconhecem o estado palestino em algum momento foram vítimas de colonização de alguma potência da Europa Ocidental, na qual ainda hoje, lutam para curar as feridas deixadas pela exploração colonial como no caso do Brasil que passou por fases de extermínio do povo originário, escravização de povos africanos, processo de branqueamento, exploração dos recursos naturais e um racismo hereditário e estrutural em nossas sociedades; tudo isso, males  dos quais ainda sofremos atualmente.

Para a segunda pergunta – quem são aqueles que não reconhecem o Estado da Palestina –, a resposta é tão simples quanto: eles são exatamente o outro lado da moeda, ou seja, os colonizadores. No exemplo do Continente Americano, predominantemente colonizado por Espanha e Portugal, com algumas outras interferências da Inglaterra e Holanda, temos os seguintes mapas:

Figura 2 – Colônias de Portugal [Wikipedia]

Figura 3 – Colonias da Espanha [Wikipedia]

 

Antes de prosseguir para o próximo mapa, cabe lembrar que, avançando no tempo, entre 1884 e 1885, foi realizada a Conferência de Berlim, uma reunião em que as principais potências europeias discutiram e deliberaram sobre a divisão e colonização do continente africano. A conferência foi motivada pelo aumento da competição entre as potências coloniais europeias.

Figura 4 – Em vermelho representa os países colonizados pela Inglaterra; em azul os países colonizados pela França[Wikipedia]

Mas diriam que o período colonial findou em meados do século XX. Não é bem assim e esse período que seguimos corresponde diretamente ao início do período de colonização mais brutal a que a Palestina foi submetida.

Em 16 de maio de 1916, prevendo o declínio do Império Otomano, os governos do Reino Unido, da França e do Império Russo decidiram, secretamente, partilhar as províncias árabes dos otomanos. O acordo assinado pelos diplomatas britânico Mark Sykes e o francês Georges-Picot dava ao Reino Unido autoridade colonial sobre a Transjordânia (atual Jordânia) e a região do Iraque de hoje, enquanto a França deteria poder colonial sobre a Síria e o Líbano. A Palestina foi reclamada por todas as três potências; o Czar julgava que os lugares santos deveriam ficar sob seu controle, já que ele era também a Autoridade Suprema Ortodoxa. Ficou decidido então que a Palestina ficaria sob administração internacional até que seu futuro fosse acordado entre as potências.

Em 1917, a revolução bolchevique derrubou o Czar Nicolau II. Com Lenin no poder, os comunistas invalidaram as reivindicações do Czar sobre o território otomano, abrindo mão da Palestina e tornando públicos vários acordos secretos, entre eles o acordo de Sykes-Picot. É então que o acordo perde o nome de Sazanov sendo conhecido tal qual é hoje, apenas Sykes-Picot.

Para resumir um pouco a história, foi após esse Acordo que iniciou-se o Mandato Britânico para a Palestina. Até que, por fim, chegou a Segunda Guerra Mundial.

Devastado economicamente, o Reino Unido decidiu abdicar da Palestina e deixar a cargo da recém-fundada ONU um plano de partilha do território entre os palestinos originários e os imigrantes europeus de fé judaica. Aí vem o que conhecemos como a resolução 181, na qual as mesmas potências colonialistas acharam prudente “sugerir” que a maior parte do território deveria ficar com os imigrantes europeus, inaugurando outra fase da colonização: o autoproclamado Estado de Israel.

 

Quanto aos EUA, não caberia em texto ou mapa as ações desse governo que, diferente do colonialismo europeu, atua com o que conhecemos por imperialismo, ou seja, ações militares ou mesmo com interferência política, como o fez em toda a América Latina. Vale lembrar que atualmente o Havaí é um estado dos EUA, mesmo sendo uma ilha do Pacífico Central, e que Porto Rico é uma colônia não formalizada. Sem dizer que o Panamá, um dos únicos países da América Central que não reconhecem o estado da Palestina, graças ao Canal, foi o país que mais sofreu interferências militares e política estadunidenses e que ainda hoje é basicamente uma província ianque.

Presencia de soldados estadounidenses por país: (Cor azul escuro) Más de 1000 soldados estadounidenses. (Cor azul claro) Entre 100-1000 soldados estadounidenses. (Cor amarela) Uso de instalaciones militares. [Wikipedia]

Dado o histórico colonizador versus colonizados, sem correr o risco de ser acusado de anacronismos, podemos afirmar que ainda hoje, os mesmos nomes que enriqueceram às custas do sangue, suor e lágrimas (como diria Churchill) ainda são aqueles que continuam apoiando a colonização de Israel sobre a Palestina.

Reconhecer o Estado da Palestina, como já dito, é o primeiro passo para a libertação do povo palestino e virar a página do colonialismo na história do mundo. Reconhecer o estado e sua soberania é justamente reconhecer que, como seres humanos, não aceitamos mais regimes coloniais e exploratórios, portanto, justamente aqueles que não reconhecem continuam se agarrando com unhas e dentes para a manutenção desse regime. A pergunta final que se coloca é crucial: se 143 países, representando quase 75% do planeta, reconhecem a soberania do Estado palestino, será que ainda estamos sob a influência ideológica de um aparato colonialista e imperialista?

Lista de países que reconhecem o Estado da Palestina

  1. Argélia: 15 de novembro de 1988
  2. Bahrein: 15 de novembro de 1988
  3. Iraque: 15 de novembro de 1988
  4. Kuwait: 15 de novembro de 1988
  5. Líbia: 15 de novembro de 1988
  6. Malásia: 15 de novembro de 1988
  7. Mauritânia: 15 de novembro de 1988
  8. Marrocos: 15 de novembro de 1988
  9. Somália: 15 de novembro de 1988
  10. Tunísia: 15 de novembro de 1988
  11. Iémen: 15 de novembro de 1988
  12. Afeganistão: 16 de novembro de 1988
  13. Bangladesh: 16 de novembro de 1988
  14. Cuba: 16 de novembro de 1988
  15. Indonésia: 16 de novembro de 1988
  16. Jordânia: 16 de novembro de 1988
  17. Madagáscar: 16 de novembro de 1988
  18. Malta: 16 de novembro de 1988
  19. Nicarágua: 16 de novembro de 1988
  20. Paquistão: 16 de novembro de 1988
  21. Catar: 16 de novembro de 1988
  22. Arábia Saudita: 16 de novembro de 1988
  23. Emirados Árabes Unidos: 16 de novembro de 1988
  24. Sérvia: 16 de novembro de 1988
  25. Zâmbia: 16 de novembro de 1988
  26. Albânia: 17 de novembro de 1988
  27. Brunei: 17 de novembro de 1988
  28. Djibuti: 17 de novembro de 1988
  29. Maurício: 17 de novembro de 1988
  30. Sudão: 17 de novembro de 1988
  31. Chipre: 18 de novembro de 1988
  32. República Checa: 18 de novembro de 1988
  33. Eslováquia: 18 de novembro de 1988
  34. Egito: 18 de novembro de 1988
  35. A Gâmbia: 18 de novembro de 1988
  36. Índia: 18 de novembro de 1988
  37. Nigéria: 18 de novembro de 1988
  38. Seicheles: 18 de novembro de 1988
  39. Sri Lanka: 18 de novembro de 1988
  40. Bielorrússia: 19 de novembro de 1988
  41. Guiné: 19 de novembro de 1988
  42. Namíbia: 19 de novembro de 1988
  43. Rússia: 19 de novembro de 1988
  44. Ucrânia: 19 de novembro de 1988
  45. Vietnã: 19 de novembro de 1988
  46. China: 20 de novembro de 1988
  47. Burkina Faso: 21 de novembro de 1988
  48. Comores: 21 de novembro de 1988
  49. Guiné-Bissau: 21 de novembro de 1988
  50. Mali: 21 de novembro de 1988
  51. Camboja: 21 de novembro de 1988
  52. Mongólia: 22 de novembro de 1988
  53. Senegal: 22 de novembro de 1988
  54. Hungria: 23 de novembro de 1988
  55. cabo Verde: 24 de novembro de 1988
  56. Coréia do Norte: 24 de novembro de 1988
  57. Níger: 24 de novembro de 1988
  58. Romênia: 24 de novembro de 1988
  59. Tanzânia: 24 de novembro de 1988
  60. Bulgária: 25 de novembro de 1988
  61. Maldivas: 28 de novembro de 1988
  62. Gana: 29 de novembro de 1988
  63. Irlanda: 29 de novembro de 1988
  64. Zimbábue: 29 de novembro de 1988
  65. Chade: 1º de dezembro de 1988
  66. Laos: 2 de dezembro de 1988
  67. Serra Leoa: 3 de dezembro de 1988
  68. Uganda: 3 de dezembro de 1988
  69. República do Congo: 5 de dezembro de 1988
  70. Angola: 6 de dezembro de 1988
  71. Moçambique: 8 de dezembro de 1988
  72. São Tomé e Príncipe: 10 de dezembro de 1988
  73. República Democrática do Congo: 10 de dezembro de 1988
  74. Gabão: 12 de dezembro de 1988
  75. Omã: 13 de dezembro de 1988
  76. Polônia: 14 de dezembro de 1988
  77. Botsuana: 19 de dezembro de 1988
  78. Nepal: 19 de dezembro de 1988
  79. Burundi: 22 de dezembro de 1988
  80. República Centro-Africana: 23 de dezembro de 1988
  81. Butão: 25 de dezembro de 1988
  82. Ruanda: 2 de janeiro de 1989
  83. Etiópia: 4 de fevereiro de 1989
  84. Irã: 4 de fevereiro de 1989
  85. Benim: 12 de maio de 1989
  86. Quênia: 12 de maio de 1989
  87. Guiné Equatorial: Maio de 1989
  88. Vanuatu: 21 de agosto de 1989
  89. Filipinas: 4 de setembro de 1989
  90. Essuatíni: 1º de julho de 1991
  91. Cazaquistão: 6 de abril de 1992
  92. Azerbaijão: 15 de abril de 1992
  93. Turcomenistão: 17 de abril de 1992
  94. Geórgia: 25 de abril de 1992
  95. Bósnia e Herzegovina: 27 de maio de 1992
  96. Tadjiquistão: 6 de setembro de 1992
  97. Uzbequistão: 25 de setembro de 1994
  98. Papua Nova Guiné: 4 de outubro de 1994
  99. África do Sul: 15 de fevereiro de 1995
  100. Quirguistão: 12 de setembro de 1995
  101. Maláui: 23 de outubro de 1998
  102. Timor Leste: 1º de março de 2004
  103. Paraguai: 25 de março de 2005
  104. Montenegro: 24 de julho de 2006
  105. Costa Rica: 5 de fevereiro de 2008
  106. Líbano: 30 de novembro de 2008
  107. Costa do Marfim: 1º de dezembro de 2008
  108. Venezuela: 27 de abril de 2009
  109. República Dominicana: 14 de julho de 2009
  110. Brasil: 1º de dezembro de 2010
  111. Argentina: 6 de dezembro de 2010
  112. Bolívia: 17 de dezembro de 2010
  113. Equador: 24 de dezembro de 2010
  114. Chile: 7 de janeiro de 2011
  115. Guiana: 13 de janeiro de 2011
  116. Peru: 24 de janeiro de 2011
  117. Suriname: 1º de fevereiro de 2011
  118. Uruguai: 15 de março de 2011
  119. Lesoto: 6 de junho de 2011
  120. Sudão do Sul: 9 de julho de 2011
  121. Síria: 18 de julho de 2011
  122. Libéria: 19 de julho de 2011
  123. El Salvador: 25 de agosto de 2011
  124. Honduras: 26 de agosto de 2011
  125. São Vicente e Granadinas: 29 de agosto de 2011
  126. Belize: 9 de setembro de 2011
  127. Domínica: 19 de setembro de 2011
  128. Antígua e Barbuda: 22 de setembro de 2011
  129. Islândia: 15 de dezembro de 2011
  130. Tailândia: 18 de janeiro de 2012
  131. Guatemala: 9 de abril de 2013
  132. Granada: 29 de setembro de 2013
  133. Haiti: 29 de setembro de 2013
  134. Suécia: 30 de outubro de 2014
  135. Santa Lúcia: 14 de setembro de 2015
  136. Colômbia: 3 de agosto de 2018
  137. São Cristóvão e Nevis: 30 de julho de 2019
  138. México: 2 de junho de 2023
  139. Barbados: 19 de abril de 2024
  140. Jamaica: 22 de abril de 2024
  141. Trinidad e Tobago: 2 de maio de 2024
  142. Bahamas

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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