O governo israelense tem obstruído a construção de hospitais de campo em Gaza, seja ao fornecer lotes pequenos demais ou orientar multidões de deslocados a se assentarem nas áreas designadas, reportaram duas fontes ao Middle East Eye.
Vários países tentaram enviar equipes e aparatos médicos e instalar hospitais de campo no Egito e na cidade de Rafah, no sul de Gaza, desde novembro, a fim de conceder assistência aos palestinos gravemente afetados pela ofensiva de Israel.
Estima-se 77 mil feridos e mais de 34 mil mortos pelos sete meses de ataques israelenses. Em torno de 1.7 milhão dos 2.4 milhões de palestinos de Gaza foram deslocados, a maioria a Rafah, na zona de fronteira.
Em novembro, a Itália anunciou planos para estabelecer um hospital de campo em Gaza e despachar uma missão de verificação de fatos a Rafah, a fim de compilar informações em campo. A equipe, segundo os relatos, compreendia oficiais dos ministérios da Defesa e da Saúde da Itália e chegou a visitar uma área próxima a um estádio de Rafah em janeiro.
“O lote cedido pelos israelenses era pequeno demais a um hospital de campo”, confirmou uma fonte. “Sua segurança era feita pelo Hamas”.
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A Itália solicitou uma nova localidade. Mas o segundo lote indicado por Israel, mais a oeste e próximo do mar, “era ainda menor”, de modo que todo o plano foi abandonado.
Os Ministérios de Relações Exteriores de Itália e Israel não comentaram as denúncias.
Outro incidente sugere que Israel possa ter impedido deliberadamente o estabelecimento de hospitais de campo em Gaza.
No final de novembro, Fahrettin Koca, ministro da Saúde da Turquia, reportou que seu país estaria enviando oito hospitais de campo ao Egito para servir a palestinos feridos, segundo coordenação com autoridades egípcias e israelenses. Israel concordou com a Turquia que uma das bases seria transferida a Gaza, reportou uma fonte.
No entanto, à medida que oficiais turcos transferiam seus equipamentos aos subúrbios de Rafah, perto da estrada de Gush Katif e da mesquita Helmi Saqr Sultan, perceberam que o lote, supostamente vazio, já estava ocupado por famílias deslocadas.
“Ficou óbvio que aqueles palestinos haviam sido empurrados a essas áreas por Israel para prejudicar a construção do hospital de campo”, comentou outra fonte. “Os deslocados não podem construir suas tendas em qualquer lugar. As autoridades de Israel constantemente emitem ordens para que eles se reúnam em certas áreas”.
Imagens de satélite confirmam que o lote estava vazio em 6 de dezembro. Entretanto, em 26 de dezembro, havia tendas e abrigos por toda a parte.
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A chancelaria turca tampouco comentou as denúncias.
Como Itália e Turquia, os Emirados Árabes Unidos anunciaram no início de novembro suas intenções de estabelecer hospitais de campo em Gaza.
Segundo fontes regionais, os Emirados também enfrentaram dificuldades em montar suas instalações. Contudo, suas boas relações com Israel implicaram no estabelecimento de um hospital de campo em Rafah no início de dezembro.
A Turquia, todavia, segundo outra fonte, não conseguiu instalar seu hospital de campo aos palestinos carentes radicados em Rafah até então.
Este artigo foi publicado originalmente em inglês em 1° de maio de 2024 pela rede Middle East Eye.