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Futuro do Estado deixa israelenses frustrados e pessimistas

Israelenses protestam em Rehovot, perto de Tel Aviv, pela libertação dos prisioneiros de guerra mantidos em Gaza, em 4 de maio de 2024 [Ibrahim Hamad/Agência Anadolu]
Israelenses protestam em Rehovot, perto de Tel Aviv, pela libertação dos prisioneiros de guerra mantidos em Gaza, em 4 de maio de 2024 [Ibrahim Hamad/Agência Anadolu]

 Os israelenses estão cada vez mais pessimistas sobre o futuro de seu Estado, em particular, sob deterioração da chamada situação de segurança, junto a uma fissura crescente entre grupos de sionistas seculares e religiosos. Segundo pesquisas, os israelenses estão mais pessimistas do que costumam ser. A questão é por quê? Por que tamanha preocupação com as expectativas futuras de um Estado que diz ganhar a guerra?

A agressão em curso contra a Faixa de Gaza, junto de outros fatores, afeta a proporção geral de pessimismo e otimismo sobre o futuro de Israel. Comparado a dados compilados menos de seis meses atrás, há uma queda breve, porém notável, na percepção positiva sobre o futuro, de 48% a 37% do público israelense. Aqueles pessimistas subiram: de 21% a 30%.

Ao mesmo tempo, o público nacional começa a perder confiança nas capacidades do Estado de efetivamente vencer o conflito, muito embora insistam em acreditar em sua importância, sob o coro de se tratar de uma “guerra existencial”. Contudo, a perda de confiança na vitória militar se reflete, necessariamente, nessa percepção negativa sobre o futuro.

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Em janeiro, cerca de 74% dos israelenses ainda se diziam “otimistas”, às vésperas de uma queda que alcançou agora 62%. A tendência geral é de um declínio exponencial, incorrendo em um ar geral de catastrofismo. Há enormes lacunas, contudo, entre os diferentes grupos demográficos. Há variações de acordo com a filiação nacional — sejam colonos judeus ou árabe-palestinos; se se identificam com a direito, o centro ou esquerda; se se dizem religiosos ou laicos. Tais lacunas preocupam o próprio Estado colonial, pois denotam uma expressão de leituras absolutamente distintas da realidade, levando a prognósticos políticos divergentes.

Em geral, o resultado natural das pesquisas indica que os próprios israelenses — pessimistas — querem mudar o rosto do Estado, a fim de impedir maus agouros. Quando aos ditos otimistas, a situação é mais complexa, porque insistem no curso atual, sem jamais reconhecer a margem do abismo.

As lacunas, no entanto, transcendem o colonialismo secular e religioso. Algumas diferenças são óbvias de acordo com o sistema de crenças de cada grupo. Tradicionalistas, contudo, são menos otimistas que religiosos, mas mais otimistas que os secularistas. Ortodoxos são mais pessimistas que os sionistas religiosos, porém menos que os secularistas. Pode haver uma conclusão notável — de que sionistas religiosos creem mais cegamente no Estado e em seu futuro, com 44% em termos de otimismo, do que sionistas supostamente seculares, em torno de 14%, diante de uma cratera de 30% que os separa.

Caso os soldados enviados a Gaza — onde 35 mil palestinos foram mortos em sete meses — ou ao norte do território designado Israel, para “garantir a segurança” do Estado, não acreditem no futuro de seu próprio Estado, podem fatalmente questionar seu recrutamento. Além disso, caso empresários que busquem investimentos pensem que o Estado carece de um futuro, portanto, sem lhes trazer lucros, em meio a uma persistente crise interna e números descendentes, seus recursos devem ser destinados a qualquer outro lugar.

Conclusões politicamente embasadas podem ser obtidas dessas pesquisas sobre as perspectivas do presente e futuro no Estado colonial de Israel. Hoje, sua moral parece relativamente baixa, à medida que persiste a convicção de que o Estado vive crises contínuas diante de uma realidade decadente. Contudo, o que mais perturba os israelenses é a aparente tendência de declínio, ao indicar que o país não tem um bom futuro — ou sequer um futuro —, diante da dificuldade de mobilizar seus próprios colonos, garantir recursos e preservar as elites.

Ao mesmo tempo, o que confirma tamanha análise pessimista sobre a situação da ocupação é que o governo atual não representa uma visão adequada de futuro e carece de planos seja para si, seja para Gaza. Ministros do governo são movidos por visões messiânicas, alheias aos fatos, que põem todo o Estado em risco, reunidos em torno do atual premiê Benjamin Netanyahu, o qual manifestantes internos e observadores externos, inclusive aliados, alertam: está levando todo o país ao desfiladeiro.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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