Jornalistas em Gaza são alvos deliberados

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) revelou que 72% dos assassinatos de jornalistas em todo o mundo foram cometidos por Israel contra jornalistas palestinos em apenas três meses de 2023

Os dados publicados pelo relatório anual de violações da liberdade de imprensa no mundo da Federação Internacional de Jornalistas apontam para uma realidade trágica: em apenas três meses de 2023 (outubro, novembro e dezembro), os crimes cometidos contra jornalistas palestinos superam todas as estatísticas de anos anteriores e em todo o mundo.

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A FIJ, que começou a compilar a lista global de assassinatos em 1990, assinala que em 2023, 128 jornalistas e trabalhadores da comunicação social, incluindo 14 mulheres, foram brutalmente assassinados no mundo, sendo que mais de 70% dos casos foram cometidos por Israel contra jornalistas palestinos. Esses números revelam não apenas a ameaça à vida dos jornalistas, mas também um ataque direto à liberdade de expressão (Artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos) e à democracia.

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Segundo o relatório, em 2023, as incursões e bombardeios realizados por Israel em Gaza resultaram em 72% dos assassinatos de jornalistas em todo o mundo. O relatório sugere que as vítimas foram alvos deliberados das Forças de Ocupação de Israel, como Ahmad Khair Al Din, cuja casa foi bombardeada, e Mohammad Al-Salhi, que foi morto a tiros enquanto cobria as operações militares na fronteira leste do campo de refugiados palestinos Al-Bureij, localizado no centro da Faixa de Gaza. O relatório também alerta para a possibilidade de haver mais vítimas entre os palestinos que ainda não puderam ser contabilizadas.

“Os resultados são horríveis. Na verdade, ainda pode haver vítimas de bombardeios desconhecidas .”  diz a FIJ

Em comparação com outras partes do mundo, algumas também em cenário de confrontos armados, os ataques não se limitaram a uma região específica. Da África à América Latina, jornalistas foram alvejados por exercerem seu dever de informar e expor a verdade.

No continente africano, foram nove assassinatos de jornalistas, distribuídos em países como os Camarões, Ruanda, Lesoto, Sudão, Mali, Somália, Nigéria e Moçambique, onde jornalistas foram mortos com a clara intenção de silenciamento. Muitos desses profissionais eram investigadores incansáveis e críticos ferozes de seus governos, determinados a expor a corrupção e os abusos dos direitos humanos a qualquer custo. Suas mortes não foram meras tragédias, mas sim ataques planejados contra a liberdade de imprensa.

Quanto ao número de assassinatos na América Latina e no Caribe em 2023, embora tenha diminuído em comparação com o ano anterior, ainda há uma preocupação significativa. Onze jornalistas foram mortos, e embora não se possa afirmar categoricamente que todos esses casos estejam diretamente ligados ao trabalho jornalístico, a investigação da FIJ aponta nessa direção.

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Na Europa, em meio ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, quatro trabalhadores de comunicação social foram assassinados em 2023. Estes números, também menores em relação ao período anterior, quando 13 jornalistas perderam a vida, a ameaça persiste, alimentada pela intensidade da guerra.

A FIJ documentou também a detenção arbitrária de jornalistas. Em 2023, pelo menos 98 jornalistas foram presos ou permaneceram na prisão, com mais da metade deles sendo palestinos detidos por Israel, tal qual o jornalista Muath Amarneh preso por sua cobertura na Cisjordânia e que permanece em detenção administrativa desde outubro de 2023. Esta não é a primeira vez que Muath é alvo das IOF. Pelo contrário, Muath é conhecido por ser frequentemente um alvo-vivo de balas israelenses por sua cobertura na Cisjordânia.

Diante das ameaças, a solidariedade internacional torna-se essencial. Em 2022, o Fundo Internacional de Segurança da FIJ recebeu uma quantia de mais de 314.000 euros doados, incluindo 264.000 euros para a Ucrânia e 92 mil euros (entre 7 de outubro e 31 de dezembro) destinados aos profissionais palestinos. A federação informa em seu relatório que o Fundo Internacional de Segurança (ISF) “enviou cerca de 18.000 euros a jornalistas em Gaza, através da sua afiliada, o Sindicato dos Jornalistas Palestinos (PJS), principalmente para compra de bancos de energia e kits de primeiros socorros. […]  No que diz respeito a outras contribuições, a ISF prossegue a sua missão enviando quantias menores a jornalistas em dificuldades.”

Infelizmente, muitos jornalistas permanecem sem assistência de organizações internacionais. Um caso em particular é o de Adham al-Hajjar, ferido por munição expansiva israelense em 2018 enquanto cobria as manifestações da Grande Marcha do Retorno em Gaza. Atualmente, ele se encontra em situação desoladora no Norte da Faixa de Gaza. Por estar em reabilitação quando ocorreu o episódio de 7 de outubro, Adham não está sendo assistido ou beneficiado por sindicatos, organizações ou qualquer empresa de mídia. Por meio de uma iniciativa independente e informal, foi solicitado ao PJS que reveja a situação de Adham para que ele seja incluído como beneficiário de uma das “quantias menores” que a FIJ vem destinando aos profissionais em Gaza.

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A FIJ é a maior organização mundial de jornalistas, com membros em mais de 140 países. Hoje, a FIJ abrange todo o mundo com uma série de programas e atividades de solidariedade que ajudam a fortalecer os sindicatos de jornalistas. À medida que a FIJ continua a luta pela liberdade de imprensa, é imperativo que a comunidade internacional se una para enfrentar essas ameaças, principalmente os números de seu relatório que indicam uma grave crise, nunca antes vista no mundo, no que diz respeito aos profissionais palestinos.

A liberdade de imprensa não é apenas um direito, mas sim um pilar essencial da democracia que deve ser protegido a todo custo. Portanto, a independência e soberania do Estado da Palestina não serão alcançadas enquanto seus jornalistas forem alvos deliberados de bombas e balas israelenses. Afinal, como afirma a FIJ, “quando os jornalistas estão sob ataque, a própria democracia está em perigo.”

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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