Dezenas de pessoas foram mortas e feridas por mísseis israelenses disparados cotra um campo designado como “zona segura” para os palestinos deslocados em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza sitiada.
Imagens gráficas de corpos carbonizados — incluindo crianças — circularam online.
A Sociedade do Crescente Vermelho da Palestina, associada à Cruz Vermelha, reportou casos de pessoas “queimadas vivas” dentro de suas tendas na área de Tal as-Sultan.
Índices preliminares, reportados por Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde de Gaza, apontam para 35 mortos e dezenas de feridos, segundo informações da agência Reuters. Dados atualizados, no entanto, devem elevar as fatalidades nas próximas horas.
As vítimas são, em maioria, mulheres e crianças.
Segundo testemunhas, ao menos oito mísseis atingiram o campo neste domingo, 26 de maio, às 20h45 do horário local (17h45 GMT).
A agência Sanad, incumbida da checagem de fatos para a rede Al Jazeera, confirmou ataques ao campo de Brix, a oeste de Rafah. Fotografias aéreas de 24 de maio mostram centenas de tendas na área, próximas a um armazém da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
Israel justificou seu ataque ao campo de refugiados ao alegar que oito mísseis do grupo Hamas foram disparados de Rafah a Tel Aviv, pela primeira vez em meses, dois dias depois do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia, ordenar a cessação dos ataques na área.
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O Estado israelense é réu por genocídio na chamada Corte Mundial — órgão máximo de justiça das Nações Unidas —, conforme denúncia sul-africana deferida em janeiro. Medidas cautelares emitidas previamente, inclusive para aumento do fluxo humanitário, foram ignoradas.
Apesar das imagens de mortes civis, Israel insistiu na tese de que seu mais recente massacre a Rafah alvejou um “complexo do Hamas”, realizado com “munição de precisão e com base em informações precisas de inteligência”.
Israel alegou executar um representante do Hamas para a Cisjordânia ocupada e outros oficiais, embora tenha reconhecido que “diversos civis foram feridos” — o que configura, segundo a lei internacional, crime de guerra, independentemente de eventuais pretextos militares.
O bombardeio israelense deflagrou um incêndio que tomou o campo de refugiados. Equipes da defesa levaram 45 minutos para conter o alcance das chamas.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha confirmou que seu hospital de campo em Rafah está recebendo baixas, assim como outros centros de saúde improvisados na região.
“Os ataques aéreos incendiaram as tendas, as tendas derreteram e derreteram consigo o corpo das pessoas”, relatou um residente que chegou ao Hospital do Kuwait, em Rafah, de acordo com informações obtidas pela agência Reuters.
A ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou para “dezenas de feridos”, além de 15 fatalidades somente em um centro médico no qual opera.
“Estamos horrorizados por este incidente letal, que demonstra, mais uma vez, que não há lugar seguro”, declarou o grupo no Twitter (X), ao reiterar apelos por um cessar-fogo.
Nas últimas 24 horas, Israel bombardeou uma série de áreas que abrigavam famílias deslocadas por sua varredura norte-sul no enclave palestino, incluindo Jabalia, Nuseirat e Cidade de Gaza, deixando ao menos 160 mortos, segundo autoridades locais.
Imediatamente após os ataques desta noite em Rafah, centenas de pessoas tomaram as ruas de Jenin, Ramallah e Tulkarem, na Cisjordânia ocupada, além do campo de refugiados de Baqa’a, na Jordânia.
Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da Autoridade Palestina, caracterizou os ataques a Tal as-Sultan como “massacre que excede todas as fronteiras” e reiterou “a necessidade de uma intervenção urgente para cessar imediatamente os crimes cometidos contra o povo palestino”.
Segundo o oficial, o atentado israelense constitui um desafio à ordem internacional, “incluindo as determinações lúcidas e honestas do Tribunal Internacional de Justiça”.
Abu Rudeineh destacou ainda a responsabilidade do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre o massacre, ao conceder assistência militar e diplomática a Tel Aviv, e reivindicou de seu governo que “convença Israel a dar fim a esta loucura e este genocídio em Gaza”.
Em uma ordem recente de evacuação emitida pelo exército israelense, três quarteirões da área alvejada foram designados “seguros”, ao compelir a população civil a deixar o leste de Rafah em direção à porção oeste da cidade em ruínas.
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Segundo relatos em campo, o único hospital operante em Rafah tem apenas oito leitos e carece de uma unidade própria de terapia intensiva (UTI). Instalações improvisadas não são capazes de conter o influxo de feridos, sobretudo após ataques em Rafah também nesta manhã.
O Dr. Mohammed al-Mughayyir, chefe da Defesa Civil de Gaza, concedeu detalhes: “Recebemos um chamado após a área detrás de Al-Baraksat ser atacada, apesar de Israel marcar o bloco em particular com zona segura e transferir civis à área”.
“Retiramos um grande número de corpos e feridos”, acrescentou. “A maioria dos corpos estava carbonizado, além de feridos que perderam membros ou sofreram outros traumas devido ao aparente uso de armas proibidas internacionalmente”.
Israel mantém ataques a Gaza há sete meses, deixando 35 mil mortos e 80 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, ao menos 15 mil são crianças.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.