Irã descarta indícios de sabotagem no acidente de Raisi, dá início ao processo eleitoral

O Departamento Geral do Irã confirmou não ter achado evidências de sabotagem ou ingerência eletrônica no acidente de helicóptero que matou o então presidente do país, Ebrahim Raisi, em 19 de maio. O relatório foi divulgado nesta quarta-feira (29) pela imprensa estatal.

A investigação analisou documentos e registros de reparo e manutenção do helicóptero, porém não encontrou erros ou defeitos que poderiam causar o acidente.

Segundo as informações, durante a toda a missão, até 69 segundos antes da queda, foi mantida comunicação com a aeronave, o que descarta qualquer interrupção de frequência.

O relatório observou, no entanto, que as condições previstas no Aeroporto de Tabriz, ponto de partida, até o primeiro e segundo destinos eram favoráveis e adequadas a voo, conforme as leis e normas vigentes.

Especialistas tampouco encontraram indícios de guerra eletrônica.

O clima no caminho de volta, todavia, demanda maior inquirição, após depoimentos dos pilotos e passageiros dos dois helicópteros que acompanhavam a comitiva. O mau tempo na região de montanhas, com espessa névoa, delongou o resgate dos corpos.

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Em 20 de maio, a televisão iraniana anunciou a morte de Raisi — incumbente ultraconservador, próximo do Supremo Líder, aiatolá Ali Khamenei — e o ministro de Relações Exteriores, Hossein Amir-Abdollahian, além da delegação que os acompanhava.

O acidente ocorreu na noite anterior na província iraniana de Azerbaijão Oriental, no retorno do presidente à capital após a inauguração de uma represa na fronteira azeri.

Malek Rahmati, governador da província de Tabriz, e Muhammad Ali Hashem, imã da mesquita homônima, também faleceram no acidente, além de dois oficiais da Guarda Revolucionária e os três tripulantes da aeronave.

Eleições

Khamenei nomeou interinamente o primeiro vice-presidente Mohammad Mokhber a chefe do Executivo desde então, até eleições antecipadas conforme a Constituição do Irã. O pleito estava previsto para 2025, mas foi abreviado a 28 de junho diante da vacância presidencial.

O Irã deu início nesta quinta-feira (30) ao registro formal de candidatos à presidência, com prazo de cinco dias, sujeitos a avaliação do aiatolá Khamenei.

A mídia iraniana estima 30 candidatos em potencial, embora “nenhum deles tenha cumprido as condições básicas de qualificação” até o momento.

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A agência de notícias AFP reportou o registro do deputado reformista Mostafa Kavakebian e seu colega conservador Mohammadreza Sabaghian, junto ao Ministério do Interior.

Candidatos em potencial incluem Saeed Jalili, político conservador que chefiou negociações da pauta nuclear sob o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, e Mohsen Hashemi Rafsanjani, filho do ex-mandatário Akbar Hashemi Rafsanjani.

Mokhber, o presidente interion, também pode entrar na corrida.

A lista final será anunciada em 11 de junho pelo chamado Conselho Guardião, comitê composto por 12 juristas avalizados por Khamenei. Em 2021, quando Raisi venceu as eleições, a comissão indeferiu a candidatura de diversas figuras reformistas.

Na ocasião, houve recorde negativo no comparecimento às urnas, com 48.8% dos eleitores.

A votação de junho coincide com um contexto turbulento, com o genocídio em Gaza e ataques de Israel aos países vizinhos, incluindo um bombardeio ao consulado iraniano em Damasco que levou a retaliação inédita por parte de Teerã.

Tensões sobre o programa nuclear iraniano também se mantêm altas, sobretudo às vésperas da eleição presidencial nos Estados Unidos em novembro, disputada entre o incumbente Joe Biden e seu antecessor, Donald Trump — particularmente hostil à república islâmica.

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