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O Fórum de São Petesburgo 2024 e os conceitos estratégicos

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, é recebido por seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Pequim, em 16 de maio de 2024 [Gabinete de Imprensa do Kremlin/Agência Anadolu]

Uma das formas mais eficientes de projeção internacional é a realização de grandes eventos. Em se considerando um país sancionado sob bloqueio do Ocidente, o governo da Rússia se vê forçado a buscar saídas econômicas que não se voltem ao Ocidente, e menos ainda se subordinem à tirania de Washington e seu controle sobre o sistema SWIFT — operador das trocas interbancárias através dos Acordos da Basileia. Diante das sanções e bloqueios, um Fórum Econômico surgido no auge da globalização e da violação de soberania pelos Estados Unidos e seus aliados — na década de 1990 — torna-se no atual contexto uma porta de entrada a parcerias e aliados em empreendimentos econômicos vultosos na Rússia.

O 27º Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF 2024) será realizado de 5 a 8 de junho de 2024. O evento, que teve sua pela primeira edição em 1997, tem sido organizado desde 2006 sob o patrocínio e com a participação do Presidente da Federação Russa.

Em mais de 25 anos de história, a SPIEF conseguiu se tornar a principal plataforma internacional de contato entre representantes da comunidade empresarial e um espaço para discussão de questões econômicas importantes para a Rússia, mercados em desenvolvimento e o mundo em geral.

Com base nos resultados de 2023, os números do evento passado são de vulto. Foram 17 mil participantes de 130 países. Em termos negociais foram assinados 900 acordos no valor de total anunciado de 3.860.000 milhões de rublos — além de montantes sob segredo contratual. Foram organizados 200 eventos com a presença de 1.500 especialistas e palestrantes. No total, o evento somou 100.000 metros quadrados de áreas de exposição de negócios, congregando as maiores empresas e autoridades do espaço pós-soviético e da integração eurasiática.

O conceito geral do desenvolvimento econômico 

É interessante observar os conceitos estratégicos contidos no Fórum Econômico. Como se fosse uma equação macroeconômica, onde a soma dos fatores é maior do que as partes, os elementos compostos apontam uma projeção de poder vinda do anfitrião. Vejamos.

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No evento estão presentes todos os ramos da economia e a esfera não produtiva. São estes: Serviços Financeiros e de Seguros; Indústria (de transformação); Tecnologia da Informação; Saúde; Educação e Ciência; Consultoria; Comércio; Telecomunicações e Comunicações.

Já os ramos específicos de negócios são: Construção; Logística e Transporte; Imobiliário; Hotelaria e turismo; Administração e Direito; Agricultura e Silvicultura; Mineração e Holdings Multissetoriais.

A arquitetura financeira de apoio às conversações e possibilidades negociais é formada por reuniões com representantes dos Brics, Organização para Cooperação de Xangai (OCX) — fundada em 2001 e pioneira da integração asiática no século XXI —, União Econômica Euroasiática (UEE) e Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).

O conceito geral da inserção internacional e do espaço eurasiático e desglobalizado

Já o conceito estratégico na disputa de poder no Sistema Internacional é ainda mais explícito. Segundo o próprio Fórum, ou seja, se acordo com a projeção e força advinda do Kremlin sob regime comandado por Vladimir Putin, a meta é gerar adesão integral ou parcial dos parceiros nestes sentidos múltiplos:

  • Desglobalização:

Reformatação da economia global, criação de economia de confiança, desenvolvimento de fortes centros econômicos locais;

  • “A soberania é privilégio dos fortes”:

Questões de soberania global, militar, alimentar, energética, financeira, tecnológica, digital e cultural e seu apoio com recursos;

  • Conservação nacional e do mercado de trabalho:

Prioridades sociais na política doméstica, consolidação da consciência pública pelo prisma dos valores tradicionais, condições para a plena formação e desenvolvimento da personalidade;

  • Cooperação internacional, diálogos empresariais:

Com a participação, em 2023, de representantes da Argélia, Brasil, Índia, China, Emirados Árabes Unidos, Quirguistão, Comissão Econômica Eurasiática (EAEU) — composta por Rússia, Bielorrússia, Armênia e Cazaquistão —, Asean — composta por Indonésia, Malásia, Filipinas, Cingapura, Brunei, Tailândia, Vietnã, Laos, Mianmar e Camboja —, além de países terceiros da América Latina;

  • “A saúde nacional é o recurso econômico mais importante”:

Questões de segurança de medicamentos, desenvolvimentos científicos avançados em medicina e farmácia, cultura física e esportes.

Se observarmos as tendências centrais do fórum de 2023, a equipe de analistas da Fundação Roscongress apontou os seguintes alinhamentos:

  • A principal mudança macro em 2023 para a Rússia é a formação de um novo paradigma de relações internacionais:

“No sistema internacional de relações, surgiu agora claramente uma tendência para a formação de uma nova configuração de centros econômicos e políticos a nível global e regional. Um papel fundamental neste processo pode ser desempenhado pelas associações interestatais, nas quais se formam iniciativas e projetos progressistas para maior desenvolvimento das relações econômicas, tendo em conta a voz de cada participante. Em 2023, há uma tendência para o desenvolvimento de projetos relacionados com macromudanças, incluindo a formação de um novo paradigma de relações internacionais, em particular no que diz respeito à interação com os países Brics — já adicionados Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Etiópia e Irã —, OCX — estrutura cooperativa da Ásia Central, composta por China, Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão e Uzbequistão — e EAEU, cuja cooperação pode fornecer um apoio significativo à economia do país. economia.”

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Levando em consideração o conceito exposto acima, buscamos as correlações da atual edição do fórum. No programa de negócios deste ano, chama atenção os seguintes painéis:

  • A rota do Mar do Norte: Expandindo os horizontes do Ártico;
  • Expansão dos Brics: Novas oportunidades para cooperação empresarial;
  • Minerais estratégicos e escassos: exploração, reprodução, utilização;
  • Mercado de commodities cambiais da EAEU: indicadores de preços como impulsionadores da integração;
  • Economia russa: Como garantir o alcance das metas nacionais;
  • Controle (supervisão): A moratória não pode ser cancelada. Qual caminho seguir?;
  • Reunião do Conselho de Energia Elétrica da CEI (Comunidade dos Estados Independentes);
  • O futuro do mercado de petróleo e gás: Perspectivas para a demanda global e planos dos produtores;
  • Financiamento da transição: Oportunidades para transição energética nos Brics;
  • Desenvolvimento da cooperação na indústria diamantífera entre os países do Brics;
  • Indústria automotiva russa: Um segundo nascimento no mundo moderno.

O Fórum e a América Latina

Até o término deste artigo, havia apenas uma autoridade latino-americana confirmada no evento. O presidente da Bolívia, Luis Arce, vai participar da sessão plenária, assim como se aguarda a presença de outros líderes mundiais. Depois de Venezuela e Cuba, a Bolívia é o maior destino de investimentos e convênio de cooperação tecno-científica na América Latina, sobretudo por meio da joint venture formada pela estatal de lítio mineral Yacimientos de Lítio Boliviano (YLB) e o consórcio chinês Xinjiang Tbea Group e Boacheng. A presença russa entra em algum ponto dessa cadeia de valor, e também com o desenvolvimento de tecnologia de medicina nuclear.

A meta da Bolívia é evidente: ampliar o ciclo dos minerais estratégicos através de acordos com capitais eurasiáticos e asiáticos que podem vir a ampliar o investimento no país. Caso isso ocorra, o modelo está ratificado e definitivamente o espaço de exploração dos Estados Unidos em nosso continente será encurtado. Se experiências como a boliviana forem multiplicadas através de eventos a exemplo do Fórum Econômico de São Petesburgo, será um reforço evidente para que os países exportadores de minerais busquem saídas para além da mera venda de commodities primária. Qualquer avanço no comércio internacional sem o uso do dólar como moeda corrente mundial é significativo e o evento aqui analisado aporta neste sentido.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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