Biden sugere proposta de cessar-fogo em Gaza, Israel mantém ataques

Tanques e aviões israelenses continuaram a atacar Gaza após o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sob veemente pressão em plena campanha à reeleição, alegar que Israel concordara com uma proposta para levar a um cessar-fogo “duradouro”, nesta sexta-feira (31).

Durante coletiva de imprensa realizada na Casa Branca, Biden fez menção a uma “nova proposta abrangente” supostamente proporcionada por Israel, para encerrar a guerra.

Segundo Biden a proposta envolve três fases: primeiro, seis semanas para cessar-fogo completo, junto à retirada das tropas israelenses de todas as áreas povoadas do enclave. Neste entremeio, deve haver troca de prisioneiros entre as partes e fluxo humanitário a Gaza.

“Cidadãos americanos seriam libertados neste primeiro estágio”, insistiu Biden. “Queremos que eles voltem para a casa”.

Segundo o presidente americano, o Catar transmitiu a proposta ao grupo palestino Hamas, que administra Gaza.

Em mensagem compartilhada no Telegram, na noite desta sexta-feira, o Hamas disse acolher os comentários de Washington, conforme “cessar-fogo permanente, retirada das tropas ocupantes, reconstrução de Gaza e troca de prisioneiros”.

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O grupo expressou prontidão em responder “positiva e construtivamente” a qualquer proposta que inclua as medidas supracitadas, além do retorno dos palestinos deslocados a suas casas em Gaza, caso Israel “se comprometa explicitamente” com os termos do acordo.

O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou em nota que o chefe do governo autorizou sua equipe de negociação a “apresentar uma proposta” para avançar na pauta da libertação dos reféns mantidos em Gaza.

A medida, no entanto, iterou o comunicado, deve permitir Israel a “continuar com a guerra até que seus objetivos sejam conquistados, incluindo a destruição das capacidades de governança e combate do Hamas”.

Para Netanyahu, “a noção de que Israel concordará com um cessar-fogo antes dessas condições serem cumpridas é carta fora do baralho”.

As declarações, embora motivo de ceticismo, coincidem com pressão sem precedentes a Israel e Estados Unidos — seu maior apoiador —, sobretudo após imagens gráficas de um massacre em um campo de refugiados de Rafah, no sul de Gaza, circularem online.

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Conforme estimativas, ao menos um milhão de palestinos foram deslocados mais outra vez pela escalada israelense desde o início de maio, sob grave crise de fome.

Os bombardeios a Rafah mataram dezenas e deram novo fôlego a manifestações globais.

Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 36 mil mortos, 80 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Entre os mortos, 15 mil são crianças.

Biden jamais oscilou em seu apoio político e militar a Israel, incluindo bilhões de dólares e vetos no Conselho de Segurança, apesar de protestos estudantis por todo país e recordes de rejeição, diante de uma dura campanha eleitoral na qual volta a enfrentar Donald Trump.

Biden chegou a alertar que invadir Rafah seria uma “linha vermelha” a seu governo; no entanto, pareceu recuar diante da consolidação dos fatos.

Uma pesquisa desta semana revelou que Biden desfruta do apoio de menos de 20% de eleitores árabe-americanos, grupo crucial nos chamados “swing states”, isto é, sem definição partidária, que podem decidir o pleito.

A votação está marcada para 5 de novembro. A prorrogação da guerra em Gaza — por mais sete meses, conforme Tzachi Hanegbi, assessor de Segurança Nacional de Israel — deve certamente impactar os resultados de Biden.

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“Os sinais estão claríssimos para todo mundo ver”, comentou Josh Ruebner, do Programa de Paz e Justiça da Universidade de Georgetown, em conversa com a Al Jazeera. “Caso Biden insista em seu apoio irredutível a Israel — não apenas dezenas de milhares morrerão —, como ele próprio perderá a eleição”.

Segundo a analista política Nour Odeh, a proposta não difere “fundamentalmente” das rodadas anteriores. Todavia, é marcante que Biden assuma a dianteira. “O presidente prometeu garantir que Israel cumpra sua parte da barganha, desde que os mediadores convençam o Hamas”.

Em 6 de maio, o Hamas reportou ter consentido com um cessar-fogo mediado por Egito e Catar, semelhante ao plano presente. Na ocasião, Tel Aviv rejeitou a proposta, após um breve flerte na mídia estrangeira, embora impassível no idioma hebraico.

Biden observou que a segunda fase do acordo deve compreender a soltura de “todos os reféns ainda vivos”, em troca da retirada israelense do enclave e “cessação das hostilidades”.

Contudo, acrescentou aos jornalistas: “Serei franco com vocês, há vários detalhes que temos de negociar para ir da primeira à segunda fase. Contudo, o plano prevê que, caso as negociações se estendam para mais de seis semanas, na fase um, o cessar-fogo continuará”.

A reconstrução de Gaza, não obstante, ocorreria apenas na terceira fase, com a devolução dos corpos dos israelenses mortos no enclave ao longo da guerra.

Biden admitiu ainda que, embora o plano tenha anuência preliminar de Israel, alguns líderes do país — incluindo membros da coalizão de Netanyahu — devem divergir da proposta, ao insistir na manutenção do conflito.

Netanyahu deve enfrentar um novo voto de censura em breve, após a introdução de um projeto de lei do partido União Nacional — do ex-general Benny Gantz, membro do gabinete de guerra — para convocar novas eleições, conforme apelos de 70% da população.

A coalizão de Netanyahu possui maioria no parlamento (Knesset), para obstruir o voto, mas os ministros Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças) ameaçam implodir o governo caso haja um cessar-fogo.

Netanyahu, por sua vez, teme que o colapso do gabinete culmine em sua prisão por corrupção, sob três processos ainda em curso.

O primeiro-ministro — junto do ministro da Defesa, Yoav Gallant — tem também um mandado de prisão solicitado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia.

Biden observou: “Deixaram claro: Querem ocupar Gaza. Querem lutar por anos. Os reféns, para eles, não são prioridade. Mas peço à liderança em Israel que apoie este acordo, não importa a pressão que o suceda”.

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