O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse nesta segunda-feira (3) que “não está pronto para parar” a devastadora guerra em curso contra Gaza, ao insistir que as declarações do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre uma proposta de cessar-fogo são “imprecisas”.
As informações são da agência de notícias Anadolu.
“Não estou pronto para parar a guerra”, alegou Netanyahu segundo a rádio estatal Kan, em uma sessão a portas fechadas do Comitê de Defesa e Assuntos Estrangeiros do parlamento israelense (Knesset).
“O resumo que Biden apresentou é parcial”, argumentou o premiê. “A guerra só acabará quando reavermos os reféns. Então discutiremos o assunto”.
“Há outros detalhes não revelados”, acrescentou. “Poderíamos cessar os combates por 42 dias, para facilitar o retorno dos reféns, mas não desistiremos de nosso objetivo de obter uma vitória completa”.
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Netanyahu se recusou a debater o número de palestinos que seriam libertados sob acordo com o lado palestino, conforme troca de prisioneiros.
“Não concordaremos em dar fim à guerra sem conquistar nossos objetivos”, repetiu Netanyahu. “O número de reféns a serem libertados na primeira fase não foi determinado ainda”.
Na sexta-feira (31), sob contundente crise interna em plena campanha eleitoral, Biden anunciou um suposto plano de três fases apresentado por Tel Aviv para cessar as hostilidades em Gaza e assegurar uma troca de prisioneiros.
O presidente democrata pediu ao movimento palestino Hamas que aderisse à proposta e instou Netanyahu a resistir à pressão de membros de sua coalizão de governo para rejeitar o esquema. O gabinete do premiê, no entanto, reiterou que manterá a guerra até “exterminar o Hamas”.
Em mensagem no Telegram, o Hamas disse acolher o plano, conforme “cessar-fogo permanente, retirada militar de Gaza, esforços de reconstrução, retorno dos deslocados a suas casas e troca de prisioneiros” e expressou prontidão em responder “positiva e construtivamente”.
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Washington e Tel Aviv sofrem pressão sem precedentes, em particular, após imagens gráficas de um massacre em um campo de refugiados de Rafah, no extremo sul de Gaza, circularem online, dando novo fôlego a manifestações globais contra o genocídio.
Israel mantém ataques a Gaza desde 7 de outubro, deixando 36 mil mortos, 82 mil feridos e dois milhões de desabrigados. Entre os mortos, 15 mil são crianças.
Biden jamais oscilou em seu apoio político e militar a Israel, incluindo bilhões de dólares e vetos no Conselho de Segurança, apesar de protestos estudantis por todo país e recordes de rejeição, diante de uma dura campanha eleitoral na qual volta a enfrentar Donald Trump.
Biden chegou a alertar que invadir Rafah seria uma “linha vermelha” a seu governo; no entanto, pareceu recuar diante da consolidação dos fatos.
Protestos em Israel pedem ainda eleições antecipadas, ao denunciar o governo por procrastinar uma troca de prisioneiros. Os ministros Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças), no entanto, ameaçam implodir a coalizão caso haja um cessar-fogo.
Netanyahu, por sua vez, teme que o colapso do gabinete culmine em sua prisão por corrupção, sob três processos em curso.
O primeiro-ministro — junto do ministro da Defesa, Yoav Gallant — tem também um mandado de prisão solicitado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), radicado em Haia.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.