Portuguese / English

Middle East Near You

Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

La presidenta, a cobrança palestina e o olhar sionista sobre a nova comandante do México

A candidata presidencial do partido governista Morena, Claudia Sheinbaum (centro) acena para os apoiadores enquanto comemora após receber os resultados das eleições presidenciais do México de 2024, na praça Zócalo, na Cidade do México, México, em 3 de junho de 2024. [Daniel Cárdenas/Agência Anadolu]

Cláudia Sheinbaum, a nova presidenta do México, primeira mulher a ocupar esse posto, eleita com 60% dos votos e que difunde esperança às mulheres que lutam por espaço e direito ao afirmar “ganhamos todas”,  tem sido questionada desde a campanha eleitoral sobre o assunto Israel e judaísmo. Ela é judia e diz ter orgulho disso. Mas não é sionista – embora não se coloque como antissionista, o que faz diferença para o povo palestino. Israel por ora parece dar-se por satisfeito que ela não o cite diretamente. Durante a campanha eleitoral, a agência Jewish Telegraph distribuiu à mídia israelense o artigo de  Jacob Kessler e Gabe Friedman, publicado tanto no Times de Israel, quanto no Jerusalém Post, sobre o autodeclarado perfil judaico de Sheinbaum, deixando dicas eleitorais.

Mencionando os casos de  outros judeus que se tornaram chefes de governo, Janet Jagan da Guiana, Ricardo Maduro de Honduras, Pedro Pablo Kuczynski do Peru, Zelensky na Ucrânia – e não mencionando o convertido Javier Milei da Argentina –  o texto dedicou um linha à relação da candidata com Israel, um pouco  mais para minimizar seu judaísmo, e nada sobre o que ela pensa sobre a guerra contra Gaza.

“Ela também não fez nenhum pronunciamento público sobre Israel, nem falou como membro de uma minoria, embora os judeus representem menos de 1% da população da capital. Não se sabe se ela pertence a alguma sinagoga ou outra instituição judaica”, observam os articulistas.

Em outro trecho, o artigo chega a publicar a frase de um entrevistado refletindo que “ela não é vista como, digamos, uma de nós. E outra: “ a maioria dos judeus mexicanos provavelmente não votará nela”. E isso, durante a campanha eleitoral.

LEIA: México e Chile instam Haia a investigar crimes israelenses na Palestina ocupada

Sheinbaum venceu e naturalmente a conversa será outra, mais objetivas nas relações comerciais, militares e diplomáticas,  mas o grande interlocutor agora é o vizinho e parceiro do norte, vigia do próprio muro de separação, fazendo o controle da fronteira, da imigração, do tráfico de drogas e de gente, e do qual o México depende para tudo.

As pressões de cima já começaram antes da posse, com uma ordem executiva do presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira que o autoriza a fechar a fronteira com o México. A isso, o presidente Obrador respondeu lembrando quantas fábricas e negócios entre os dois países dependem da fronteira aberta e provocou: “ Não é possível que um congresso aprove 50, 60, 100 bilhões para as guerras e não aprove nada para apoiar os povos da América Central, América Latina e Caribe que são os povos que, por necessidade, precisam escolher a migração”.

Esse vizinho ameaçador tanto financia a guerra de Israel contra Gaza quanto a do México contra a violência e as drogas – que o povo americano consome. São 30 mil assassinatos por ano e cerca de 100 mil desaparecidos – número que o governo questiona. Mas o governo mexicano deixou o país altamente militarizado, sendo que treinamentos policiais e militares e a tecnologia de vigilância em boa parte vêm de Israel, como de costume. E provavelmente a tecnologia do crime também, uma questão tratada desde a investigação dos estudantes de Ayotzinapa em 2014. Shenbaum assumirá um país que melhorou os índices de pobreza mas não parou de matar mulheres  por serem mulheres, de 10 a 11 por dia, nem políticos por incomodarem o crime organizado. A prefeita da cidade mexicana de Cotija, Yolanda sanchez, foi assassinada nesta segunda-feira, um dia após as eleições presidenciais, por não entregar – especula-se –  o setor de segurança do município às milícias.

LEIA: Do rio ao mar – um apelo à descolonização legítima

O mundo ainda se chama Gaza

Pessoalmente, Sheinbaum  já disse uma vez o que pensa sobre Gaza sendo atacada, vendo nisso o próprio mundo sob ataque. O artigo que agora acaba sendo o único material precioso para indicar a posição pessoal da nova presidenta sobre a guerra travada por Israel  foi publicado em 2009 no jornal mexicano La Jornada e reproduzido agora em um livro de seus apoiadores à campanha presidencial. Nele, Claudia dizia que, por sua origem judaica, seu amor pelo México e por sentir-se cidadã do mundo, assistia com horror às imagens dos bombardeios do Estado israelense em Gaza. Ela condenava o  assassinato de civis palestinos e afirmava que: “Nada, nada, nada” poderia  justificar o assassinato de uma criança. Na ocasião, ela pediu “cessar-fogo e a retirada imediata das tropas israelenses do território palestino” e citou uma prase do poeta argentino Alberto Szpunberg: “é disso que se trata: salvar um mundo, esse mundo único e angustiado que todos nós habitamos, que pertence a todos e que hoje se chama Gaza”.

As palavras da presidenta eleita do México agora são moderadas  e ela afirma protocolarmente que dará continuidade à política externa baseada nos princípios de não intervenção, cooperação internacional para o desenvolvimento, autodeterminação dos povos e construção da paz. E promete aos Estados Unidos “uma relação de amizade, respeito mútuo e igualdade, como tem sido até agora, e sempre defenderemos os mexicanos do outro lado da fronteira. Com o Sul e o Caribe, continuaremos a expandir nossas relações de amizade, juntamente com o mundo inteiro.”

Em um vídeo de campanha em que precisou posicionar-se sobre a guerra em Gaza, ela defendeu o fim da violência contra inocentes, a observância do direito internacional e pediu dois Estados, com fronteiras seguras para a paz na região. Mas mediu as palavras, sem responsabilizar ninguém.

Sobre Shembaum, pesa a sombra do poderoso parceiro do Norte que já acanhou Lopes Obrador durante seis anos de mandato, sem reconhecer o Estado Palestino,  embora ao final tenha invocado o artigo do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) para associar o país ao processo movido pela África do Sul contra Israel.  Em relação ao reconhecimento do Estado Palestino,  disse que o assunto está à cargo da Secretaria de Relações Exteriores e que ele prefere “esperar”.  Em mais cinco meses,  os assuntos em espera passarão à sua sucessora.

LEIA: América Latina precisa entender e reconhecer: o que acontece na Palestina é apartheid

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

Categorias
ArtigoÁsia & AméricasIsraelMéxicoOpiniãoOriente MédioPalestina
Show Comments
Palestina: quatro mil anos de história
Show Comments