O Partido Bharatiya Janata (BJP) do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, perdeu maioria no Parlamento nacional, após sofrer derrotas inesperadas em estados decisivos, marcando uma mudança drástica na paisagem política dominada por nacionalistas hindus na última década.
As informações são da rede de notícias Al Jazeera.
O BJP saiu confortavelmente vitorioso no Lok Sabha, a câmara baixa da Índia. No entanto, com a divulgação dos votos nesta terça-feira (3), após as seis semanas de processo eleitoral no país, o partido governista registrou uma queda considerável sobre 2014 e 2019.
Desta vez, o Bharatiya Janata alcançou 240 assentos das 543 vagas — abaixo da maioria simples de 272 parlamentares.
Em contrapartida, o bloco de oposição Aliança Nacional Indiana para Desenvolvimento Inclusivo (ANIDI), chefiado pelo Congresso Nacional Indiano (CNI), partido da independência, obteve 200 assentos, superando as pesquisas.
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Modi caminha a seu terceiro mandato; contudo, dependente de novas alianças políticas.
Na noite desta terça, em sua primeira declaração após o ciclo eleitoral, Modi proclamou vitória para sua coalizão, conhecida como Aliança Democrática Nacional (NDA). A milhares de eleitores, na sede do BJP em Nova Delhi, declarou: “Formaremos o próximo governo”.
Analistas apontam que o resultado alimenta dúvidas sobre a estratégia do partido. Ao longo da campanha, o premiê aderiu a uma política do medo, ao instigar declarações racistas e descrever a comunidade islâmica no país como “infiltrados”.
A oposição, todavia, buscou encurralar Modi pelos índices da economia: apesar do crescimento atual — o mais acelerado em todo mundo —, pesquisas notaram grande preocupação popular sobre o desemprego, a inflação e a desigualdade econômica diante das urnas.
Como sinal de confiança, o slogan de campanha do bloco governista dizia “Abki baar, 400 paar” (“Desta vez, mais de 400”), ao prever 370 deputados apenas para o BJP.
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Segundo o analista político Asim Ali, no entanto, “Modi perdeu hoje sua aura de invencibilidade … Já não é mais um indivíduo invencível”.
“Sob a ampla maioria do BJP, as instituições colapsaram na Índia”, prosseguiu Ali. “O sistema de poder se centralizou no topo e esse tipo de política de coalizão de diálogo é agora fundamental para que sobreviva nossa democracia”.
Para a oposição, há sinais de esperança, “Mais assentos quer dizer mais voz”, comentou Suresh Verma, que apoia o Congresso Nacional.
Críticos acusam o governo de Modi de subverter leis e politizar as instituições a seu favor, além de perseguir dissidentes e jornalistas.
Akbar Khan, cidadão muçulmano de 33 anos, comemorou: “O povo saiu às ruas e lutou contra o governo incumbente … As castas e classes mais baixas mostraram seu descontentamento com Modi e sua política divisiva não deu frutos na vida real”.
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Khan observou ainda a islamofobia em campanha: “Os indianos precisavam votar contra o ódio de Modi e de seu partido”.