O ministro israelense Benny Gantz anunciou sua renúncia do governo de emergência do premiê Benjamin Netanyahu, ao remover o único bloco considerado centrista da coalizão de extrema-direita de seu antigo adversário político.
Gantz — ex-chefe do exército israelense, responsável pela violenta campanha em Gaza de 2014 — integrou-se ao governo para coordenar a retaliação à ação transfronteiriça do grupo Hamas, em 7 de outubro, que capturou colonos e soldados.
Em coletiva de imprensa televisionada neste domingo (9), Gantz declarou: “Netanyahu está nos impedindo de avançar a uma vitória concreta. É por isso que estou deixando hoje o governo de emergência — com pesar, porém com confiança”.
Gantz reivindicou eleições antecipadas, ao ecoar apelos das ruas, em meio à grave crise interna que assola Israel. “É preciso que haja eleições, que estabelecerão, eventualmente, um governo capaz de conquistar a confiança do povo e enfrentar os desafios”, reiterou.
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“Peço a Netanyahu: consinta com uma data para nossas eleições”, acrescentou.
Gadi Eisenkot — também general reformado — acompanhou a renúncia, ao condenar “decisões tomadas por Netanyahu que não necessariamente servem aos interesses do país”.
Gantz ameaçou deixar o gabinete de guerra há cerca um mês. Em maio, advertiu para a falta de um plano concreto para o pós-guerra, após oito meses de bombardeios e cerco absoluto contra o enclave, que deixou 37 mil mortos até então.
Apesar de expressar apoio às manifestações, pediu comedimento.
“Os protestos são importantes, porém devem ser conduzidos de maneira legal, sem encorajar o ódio [sic]”, alegou o ex-ministro. “Não somos nossos próprios inimigos. Nossos inimigos estão do outro lado de nossas fronteiras”.
Gantz, no entanto, não citou a radicalização de colonos — como manifesta na chamada Marcha da Bandeira, na última semana —, ou os pogroms contra comunidades palestinas na Cisjordânia ocupada, muito menos a alta mortalidade civil na Faixa de Gaza.
Em tom eleitoreiro, prometeu participar de “um governo de união nacional que inclua todos os partidos de centro … mesmo com Netanyahu”.
Gantz sugeriu também ao ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, a “fazer a coisa certa”, em referência a um eventual pedido de demissão.
“Sr. Ministro da Defesa, o senhor é um líder determinado e valente — sobretudo, um patriota”, proclamou Gantz. “Neste momento, liderança e coragem não é somente dizer a coisa certa, mas fazer a coisa certa”.
Gallant compartilha com o primeiro-ministro um mandado de prisão solicitado pela promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia, por crimes de guerra conduzidos em Gaza.
Netanyahu emitiu um breve comunicado no qual pediu a Gantz que “não abandone o front”.
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Gantz — junto do chefe da oposição e ex-chanceler, Yair Lapid — é visto como um dos principais adversários políticos de Netanyahu em Israel.
Para Sara Khairat, correspondente da rede Al Jazeera, a medida não surpreende.
“Gantz foi levado ao gabinete de guerra”, recordou Khairat. “No início, mostraram união, mas as fissuras logo começaram a aparecer, junto à especulação, até que, no mês passado, declarou ter dado ao governo um novo ultimato”.
Para Khairat, sua renúncia “deixa terreno aberto a ministros ainda mais extremistas”, incluindo membros do partido fundamentalista do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
Smotrich reagiu rapidamente na rede social X (Twitter): “Não há nada menos estadista do que deixar o governo durante uma guerra. É isso que o Hamas e o Irã querem de nós … Peço a todos os líderes sionistas, para quem Israel importa, que continuem conosco até a vitória”.
Smotrich, todavia, também já ameaçou se demitir, junto a seu colega supremacista Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), caso um acordo por cessar-fogo fosse adiante.
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Ben-Gvir, de sua parte, solicitou assumir a vaga de Gantz no gabinete de guerra: “Diante de sua aposentadoria [sic], encaminhei um pedido ao primeiro-ministro para juntar-me ao gabinete. É hora de ter coragem, dissuadir nossos inimigos e levar segurança a todo Israel”.
As ações israelenses em Gaza são punição coletiva e genocídio.