O que – Mohamed Morsi morre apos desmaio em em tribunal
Quando – 17 de junho de 2019
Onde – Egito
O que aconteceu
No tribunal onde passava por novo julgamento, o ex-presidente preso, líder da Irmandade Muçulmana, acusado de conluio com o Hamas, desmaiou em seu cubículo à prova de som e foi transferido para o hospital, sendo declarado morto. Pouco depois, as câmeras do tribunal foram apreendidas e, mais tarde, o mesmo aconteceu com seu relatório médico.
A TV estatal egípcia anunciou que Morsi morreu de ataque cardíaco e o procurador-geral disse que não foram encontrados ferimentos em seu corpo, em uma medida preventiva para reprimir possíveis distúrbios após sua morte. Sua morte foi descrita pela diretora da divisão do Oriente Médio e Norte da África da Human Rights Watch, Sarah Leah Whitson, como “triste, mas totalmente previsível”.
Antes
O presidente egípcio deposto Mohamed Morsi enfrentou uma série de acusações do Estado que ele governava, desde espionagem até assassinato de manifestantes, fuga da prisão, insulto ao judiciário, fuga da prisão e espionagem para o Catar
Há muito tempo, os defensores dos direitos humanos estavam preocupados com a saúde de Morsi, pois ele sofria de diabetes, doença hepática e renal, mas lhe era constantemente negado atendimento médico, uma medida punitiva comum usada pelas autoridades egípcias contra prisioneiros políticos.
Em 2018, um painel independente de parlamentares do Reino Unido, liderado por Crispin Blunt, relatou que Morsi ficava encarcerado 23 horas por dia, o que poderia ser classificado como tortura, e que a recusa em administrar cuidados médicos poderia resultar em sua morte prematura.
Juntamente com a Human Rights Watch e a Anistia Internacional, Blunt solicitou uma investigação independente sobre a morte de Morsi.
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Morsi nasceu em 1951 no vilarejo de El-Edwah, no Delta do Nilo, no norte do Egito, sendo o mais velho de cinco filhos. Seus pais eram agricultores.
Estudou engenharia na Universidade do Cairo e, mais tarde, concluiu um doutorado na Universidade do Sul da Califórnia, nos EUA.
Foi eleito para o parlamento como candidato independente em 2000, em 2005 trabalhou como legislador e, em 2006, ficou preso por sete meses depois de participar de uma manifestação a favor de juízes reformistas.
Em 2010, ele se tornou o porta-voz da Irmandade e, em seguida, assumiu o posto de candidato na primeira eleição democrática do Egito, em 2012, depois que Khairat Al-Shater, que estava à frente nas pesquisas, foi desqualificado. Morsi foi apelidado de “o presidente acidental” e venceu com 51% dos votos.
Como presidente, Morsi tentou pôr fim a décadas de regime militar no país, removendo à força duas figuras militares de alto escalão, o então ministro da Defesa Hussein Tantawi e Sami Enan.
Dias antes da divulgação dos resultados das eleições, o Conselho Supremo das Forças Armadas anunciou uma declaração constitucional que lhes dava o poder de vetar qualquer artigo do novo projeto de constituição. Morsi cancelou essa declaração e transferiu o poder para si mesmo.
Em um discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas, Morsi disse que a questão mais urgente para a comunidade internacional era certificar os direitos dos palestinos e chamou os assentamentos israelenses de “vergonhosos”.
Sobre Gaza, ele disse que “nunca deixaremos Gaza por conta própria” e trabalhou para diminuir as restrições ao enclave costeiro sitiado.
Durante o ataque de 2012 à Faixa de Gaza, ele enviou o então primeiro-ministro egípcio Hashim Qandil para visitá-la, chamou de volta o embaixador do Egito em Tel Aviv e entregou uma carta de protesto ao embaixador de Israel no Cairo. Ele também convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e abriu a fronteira de Rafah para permitir que os habitantes de Gaza feridos tivessem acesso a cuidados médicos.
Ele chamou o governo sírio de “um regime opressivo que perdeu sua legitimidade” e disse que não descansaria até que a guerra – “a tragédia da era” – no país terminasse.
No entanto, durante sua presidência, Morsi foi criticado por nomear sete membros da Irmandade como governadores de províncias, emitindo um decreto que o protegia de revisões judiciais e ganhou a reputação de não ser um presidente para todos os egípcios.
Um ano depois, outra onda de protestos pedia sua renuncia e Abdel Fattah Al-Sisi, que ele havia nomeado como ministro da defesa e chefe do exército, o derrubou em um golpe de Estado e mais tarde assumiu a presidência.
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Logo após seu encarceramento, os partidários da Irmandade se reuniram em protestos para exigir sua reintegração, mas a polícia e as forças de segurança dispararam contra a multidão em cinco ocasiões diferentes, matando cerca de 1.000 pessoas.
O que se seguiu foi uma repressão sem precedentes contra a Irmandade, incluindo sua designação como uma organização terrorista, a prisão de milhares de seus membros e processos judiciais em massa nos quais muitos foram condenados a longas penas ou à morte.
Um tribunal egípcio decretou a pena de morte contra Morsi em junho de 2015, que foi posteriormente anulada, talvez por temer o clamor que se seguiria à sua execução. Em vez disso, o prenderam por mais de meia década e recusaram-lhe atendimento médico até sua morte.
Morsi tinha 67 anos quando morreu, era casado e tinha cinco filhos e três netos que só puderam visitá-lo três vezes durante os seis anos em que esteve preso.
O que aconteceu depois
Em resposta à perda de seu líder, a Irmandade disse que foi um ” completo assassinato” e afirmou que o governo foi o assassino. Eles convocaram protestos do lado de fora das embaixadas egípcias e a mobilização em massa para o funeral.
Depois que a notícia de sua morte foi divulgada, o Ministério do Interior colocou suas forças em alerta máximo, destacando milhares de patrulhas e postos de controle em todo o país, reforçando a segurança em hotéis e anunciando que estava preparado para realizar ataques preventivos contra elementos terroristas.
Ele foi enterrado em um cemitério na presença de de alguns membros da família próximos, na mesquita da Prisão de Tora, depois que um pedido para enterrá-lo no cemitério da família de sua aldeia no Delta do Nilo foi negado. A cerimônia foi fechada ao público e à imprensa.
Abdel Fattah Al-Sisi permanece no cargo de presidente até hoje, após reforma constitucional aprovada pelo parlamento em 2019 que prorrogou seu segundo mandato e permitiu a reeleição presidencial para um terceiro, que vai até 2030.
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