Em novo editorial, o jornal israelense Haaretz criticou as diretrizes claras do governo ocupante de restringir o uso da chamada detenção administrativa — sem julgamento ou sequer acusação — a casos de “terrorismo contra o Estado ou seus cidadãos”, isto é, ao excluir os palestinos sob intensa escalada de colonos ilegais há anos.
A emenda à legislação — já discriminatória, embora na prática — foi introduzida ao parlamento (Knesset) pelo deputado Simcha Rothman do partido supremacista Sionismo Religioso, liderado pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich.
A pauta foi debatida pelo Comitê Ministerial para Legislação nesta segunda-feira (17).
Para o Haaretz, “o resultado da proposta é absolutamente claro: o terrorismo judaico nas terras da Cisjordânia estará imune a tais medidas”.
O editorial foi além, ao descrever a detenção administrativa como “ferramenta draconiana que priva os indivíduos de sua liberdade sem o mínimo de devido processo, com base em evidências sigilosas e, em alguns casos, sem sequer conhecimento da acusação”.
Estatísticas de fevereiro, publicadas pela Sociedade dos Prisioneiros Palestinos (PPS) — ong que monitora a situação dos presos políticas da ocupação —, confirmam aumento na população de presos palestinos sob detenção administrativa: 3.484 pessoas, incluindo 40 crianças.
O jornal israelense reiterou que a medida contradiz pressupostos democráticos, ao destacar que a “restrição seletiva e racista” de Rothman agrava o problema, ao discriminar cidadãos árabes-palestinos e conferir imunidade legal ao terrorismo colonial na Cisjordânia.
Ataques conduzidos por colonos, incluindo pogroms a cidades e aldeias palestinas, se tornaram mais comuns nos meses recentes, em paralelo ao genocídio em Gaza. Estima-se 500 mortos na Cisjordânia, além de cinco mil feridos e dez mil encarcerados.
A escalada compeliu governos ocidentais, incluindo aliados de Israel, a impor sanções a colonos supremacistas judeus, ligados ao regime de extrema-direita de Benjamin Netanyahu.
O Haaretz advertiu que a proposta é o primeiro passo para aprovar um pacote legislativo posto abertamente por deputados governistas, que busca preservar o terrorismo judaico em favor dos assentamentos ilegais, ao perpetuar, em contrapartida, esforços de limpeza étnica e de punição coletiva contra os palestinos nativos.
O editorial reafirmou que o terrorismo perpetrado por colonos judeus exige a mesma tratativa que outras formas de terrorismo e instou o gabinete de governo a rejeitar o projeto, não apenas por relações públicas, mas “porque criminosos não devem receber qualquer privilégio”.
Israel sofre uma crise internacional de relações públicas sem precedentes, réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), sediado em Haia.
O projeto de lei se soma a dezenas de leis racistas aplicadas nos territórios palestinos ocupados desde a década de 1950. Organizações proeminentes de direitos humanos, como Human Rights Watch e Anistia Internacional, denunciam que Israel comete o crime de apartheid.
Ativistas pedem, como resposta, Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra a colonização e a ocupação israelense — nos moldes da luta contra o apartheid da África do Sul.
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