O chefe do gabinete político do movimento palestino Hamas, Ismail Haniyeh, reuniu-se com o ministro interino de Relações Exteriores do Irã, Ali Bagheri, em Doha, no Catar, com intuito de discutir o genocídio israelense em Gaza e a conjuntura regional.
O encontro foi confirmado nesta quinta-feira (20) pelo grupo palestino, com conversas realizadas na noite anterior, segundo informações da agência Anadolu.
Bagheri recordou os esforços iranianos em apoio à Palestina, em diversos fóruns, como a Organização para Cooperação Islâmica (OCI), o bloco dos Brics de países emergentes e a Organização para Cooperação de Xangai (OCX).
Haniyeh relembrou a chamada Operação Tempestade de Al-Aqsa, de 7 de outubro, ao sugerir que a iniciativa deflagrou “novas equações para a Palestina e a região”.
Irã e Hamas discutiram os acontecimentos políticos e em campo desde então, além da situação geral da questão palestina e esforços para dar fim ao genocídio em Gaza.
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Segundo comunicado do Hamas, as partes enalteceram a “lendária resiliência do povo palestino e a brava resistência que conseguiu conter os objetivos da ocupação”.
Haniyeh saudou o apoio Irã e dos fronts no Líbano, Iraque e Iêmen.
O líder do Hamas também informou o diplomata iraniano das condições em Jerusalém, na Cisjordânia e nas prisões israelenses, além dos crimes diários dos agentes coloniais contra os palestinos nativos, incluindo assassinatos e expropriação.
Haniyeh reiterou a Bagheri: “Jerusalém constitui ainda o foco do conflito, seja agora ou futuramente”. Conforme o Hamas, violações coloniais na cidade ocupada, incluindo na Mesquita de Al-Aqsa, tornaram urgente uma ação da resistência.
Tel Aviv mantém ataques indiscriminados a Gaza desde 7 de outubro, em retaliação à operação transfronteiriça do Hamas que capturou colonos e soldados.
Segundo o exército ocupante, 1.200 pessoas foram mortas na ocasião. O número, no entanto, sofre escrutínio, após o jornal israelense Haaretz reportar “fogo amigo”, sob ordens gravadas de comandantes de Israel para impedir a tomada de reféns.
No território sitiado, Israel deixou ao menos 37 mil mortos e 85 mil feridos até então. Outras duas milhões de pessoas foram desabrigadas e dezenas de milhares continuam desaparecidas — provavelmente mortas sob os escombros.
Conversas indiretas entre Israel e Hamas, mediadas por Estados Unidos, Catar e Egito, até então não obtiveram frutos para materializar um cessar-fogo em Gaza e uma troca de prisioneiros entre as partes.
Apesar de duas resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas para cessar a guerra, Israel rejeita sequer negociações.
Israel é réu por genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), radicado em Haia, conforme denúncia sul-africana deferida em 26 de janeiro.
Em maio, a promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), na mesma cidade, pediu mandados de prisão contra o premiê israelense Benjamin Netanyahu e seu ministro da Defesa, Yoav Gallant.
O promotor-chefe de Haia, Karim Khan, requereu ainda um mandado contra Haniyeh e outros dois líderes do Hamas. Ambos os lados se queixaram da equiparação.
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Para Netanyahu, a solicitação se soma à crise de diplomacia e relações públicas, diante do acúmulo de evidências de crime de guerra e lesa-humanidade em Gaza.
Para Haniyeh, contudo, é uma alternativa de defesa do direito à resistência, segundo a lei internacional, incluindo a resistência armada, à medida que supostas “atrocidades” do Hamas são desmentidas.
Em abril, o Irã lançou uma ação inédita contra o território israelense, com centenas de mísseis e drones — em maioria abatidos —, após Tel Aviv explodir o consulado do país islâmico na cidade de Damasco, capital da Síria.
Desde então, contudo, a morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi, em um acidente de helicóptero, parece ter postergado as tensões.
Ainda assim, nas últimas semanas, o movimento Hezbollah, ligado a Teerã, intensificou disparos retaliatórios a Israel, a partir do Líbano, ao renovar receios de propagação da guerra. Oficiais israelenses alegaram prontidão a uma “guerra total”.