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Mudanças climáticas afetam peregrinação a Meca, calor mata 1.300 pessoas

Equipes de resgate carregam um homem afetado pelo calor extremo durante a peregrinação islâmica do Hajj, na região de Mina, Arábia Saudita, em 16 de junho de 2024 [Fadel Senna/AFP via Getty Images]

O calor extremo durante a peregrinação islâmica do Hajj, às cidades sagradas de Meca, na Arábia Saudita, causou ao menos 1.300 mortes neste ano, confirmou a monarquia, em comunicado emitido no domingo (23), segundo informações da rede AFP.

À televisão estatal, porém, o ministro da Saúde Fahd bin Abdurrahman al-Jalajel culpou as vítimas, ao insistir que 83% das fatalidades eram “peregrinos não-autorizados” que caminharam longas distâncias na cidade sagrada.

O reino buscou reprimir visitantes não-autorizados ao expulsar dezenas de milhares de pessoas. Diante da gentrificação do Hajj, porém, muitos peregrinos tentam chegar a pé a Meca, sem hotéis para ficar, sob o calor escaldante.

Segundo o ministro, 95 peregrinos foram encaminhados a tratamento em hospitais do reino, alguns deles transportados por via aérea à capital Riad.

Os mortos foram sepultados em Meca, sem interromper os ritos, informou a pasta.

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Entre as fatalidades, ao menos 660 egípcios, 165 indonésios, 98 indianos e dezenas de jordanianos, tunisianos, marroquinos, argelinos e malaios — além de dois cidadãos dos Estados Unidos.

 

O mortuário do Hospital al-Muaisem, em Meca, aferiu 60 jordanianos mortos. O reino hachemita, de sua parte, contabilizou 41 óbitos até a última semana.

Egito e Jordânia anunciaram, através de seus Ministérios de Relações Exteriores, terem estabelecido operações de emergência para acompanhar a situação.

Ambos as nações seguiram os incidentes ao revogar a licença de agências de turismo e prender corretores e executivos, como forma de repressão à “peregrinação ilegal”.

O presidente da Tunísia, Kais Saied, demitiu o ministro de Assuntos Religiosos.

Um estudo saudita publicado em maio apontou que as temperaturas na região do Hajj devem subir 0.4 °C a cada década.

Neste ano, 1.8 milhão de muçulmanos participaram dos ritos, incluindo 1.6 milhão de estrangeiros. Temperaturas na região de Meca, variaram entre 46 e 49 °C, com máxima de 51.6 °C, segundo o Centro Nacional de Meteorologia saudita.

Conforme estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), de 2019, mesmo que o mundo consiga mitigar o avanço mudanças climáticas, o Hajj terá temperaturas para além do “perigo extremo” de 2047 a 2052 e 2079 a 2086.

A Arábia Saudita conduz um lobby internacional, junto a vizinhos do Golfo e parceiros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), para amenizar políticas de contenção climática. O reino é notório por sua economia fóssil.

O Hajj é um dos cinco pilares do Islã e uma das maiores congregações de fé do mundo, com até dois milhões de pessoas viajando a Meca, para o evento de cinco dias.

O governo investiu bilhões de dólares para controlar a multidão e atrair turistas, como parte de seu programa de diversificação econômica.

Neste ano, diante do genocídio israelense em Gaza, o gabinete de Estado responsável pelo Hajj instruiu aos fiéis que evitassem “slogans políticos”. A crise regional postergou a normalização saudita-israelense, embora o reino se mantenha ambíguo.

O regime saudita celebrou como “sucesso” a temporada da Hajj de 2024 (1445 a.H.) —contudo, sem mencionar os mortos.

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