Em meio a apreensão internacional, uma tentativa de golpe de Estado foi subjugada na Bolívia, nesta quarta-feira (26), com o presidente Luis Arce reafirmando sua autoridade sobre o exército do país.
Em nota à imprensa, o Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina (AP) condenou qualquer ingerência externa nos assuntos da Bolívia e saudou Arce por suas iniciativas de direitos humanos.
Segundo a agência Wafa, a gestão palestina reiterou “solidariedade com as aspirações do governo boliviano por estabilidade e prosperidade, sob um sistema internacional e regional que respeite a lei internacional e a Carta das Nações Unidas”.
A Bolívia de Arce assumiu a vanguarda latino-americana nas denúncias ao genocídio de Israel na Faixa de Gaza, ao romper relações com o Estado ocupante ainda em outubro, seguida da ruptura diplomática colombiana e retirada de embaixadores de Chile, Brasil e Honduras.
Na tarde de quarta, tropas lideradas pelo general Juan José Zuñiga invadiram o palácio presidencial e tomaram posições na praça externa. Imagens registraram a presença de um tanque às portas do palácio na capital, La Paz.
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“Hoje, o país enfrenta uma tentativa de golpe”, anunciou Arce. “Hoje, mais uma vez, o país enfrenta interesses para que a democracia seja abreviada. Convocamos o povo da Bolívia, para se mobilizar contra o golpe e em favor da democracia”.
“Não podemos permitir que um golpe de Estado — mais uma vez — tente tomar vidas bolivianas”, acrescentou o presidente, cercado de ministros.
Diante da mobilização armada, o maior sindicato do país, a Central dos Trabalhadores Bolivianos (COB), convocou uma greve em defesa do governo, junto a mobilizações nas ruas que sobrepujaram eventuais atos golpistas.
Dentro de algumas horas, Zuñiga ordenou a retirada das tropas, após líderes regionais e internacionais condenarem a intervenção como ilegal.
Arce celebrou o recuo como um triunfo para a democracia e discursou a seus cidadãos após a crise. “Muito obrigado ao povo boliviano. Vida longa à democracia”, declarou o presidente.
Uma imagem dramática que circulou na televisão local — e então nas redes sociais —registrou Arce diante de Zuñiga na entrada do palácio. “Sou seu capitão e ordeno que retire suas tropas. Não permitirei insubordinação”, alertou Arce.
Arce empossou José Wilson Sanchez como novo comandante das Forças Armadas, ao conclamar pelo retorno da lei e da ordem. Segundo informações da agência de notícias Reuters, Zuñiga foi preso.
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A Procuradoria-geral da Bolívia prometeu lançar uma investigação penal contra Zuñiga e outros envolvidos na tentativa de golpe.
Segundo o ministro do Interior, Eduardo del Castillo, nove pessoas se feriram.
A Bolívia é tomada por tensões às vésperas das eleições de 2025, sobretudo após o ex-presidente Evo Morales alegar intenção de concorrer com Arce, antigo aliado, criando uma fissura no partido governista.
Morales governou de 2006 e 2019 e foi deposto por um regime ultraconservador, que empossou Jeanine Áñez.
Arce, no entanto, venceu as eleições livres de 2020.
Zuñiga foi o escolhido de Morales para o exército, mas mantém animosidade para com ambos os mandatários socialistas. Recentemente, após ameaças de ingerência militar, Arce exonerou Zuñiga do comando das tropas.
Resposta internacional
O Ministério de Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty) afirmou em nota manter uma “interlocução permanente com as autoridades legítimas bolivianas e com os governos dos demais países da América do Sul, no sentido de rechaçar essa grave violação da ordem constitucional na Bolívia e reafirmar seu compromisso com a plena vigência da democracia na região”.
A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão, presidido por @LuchoXBolivia.…
— Lula (@LulaOficial) June 26, 2024
Os Estados Unidos disseram monitorar a situação e pediram comedimento. O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrel, expressou “solidariedade com o povo e o governo bolivianos”.
O presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, manifestou-se no Twitter (X): “Expressamos nosso mais forte repúdio à tentativa de golpe de Estado na Bolívia. Todo nosso apoio ao presidente Luis Alberto Arce Catacora”.
O presidente do Chile, Gabriel Boric, reiterou: “Condenamos energicamente essa ação inaceitável de força de um setor do exército. Não podemos tolerar qualquer ruptura na ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar”.
Desde Chile manifiesto mi preocupación por la situación en Bolivia. Expresamos nuestro apoyo a la democracia en el hermano país y al gobierno legítimo de @LuchoXBolivia. Condenamos enérgicamente la inaceptable acción de fuerza de un sector del ejército de ese país. No podemos…
— Gabriel Boric Font (@GabrielBoric) June 26, 2024
A presidente hondurenha, Xiomara Castro, convidou que outros chefes de governo da América Latina e Caribe denunciassem o “fascismo que atenta contra a democracia da Bolívia”, ao reivindicar respeito ao pleno poder civil e à Constituição.
De sua parte, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, celebrou o posicionamento de Arce: “A democracia contra o fascismo. O caminho da América é aquele da liberdade. Somos terra de liberdade. Aqui não germinarão tiranias ou ditaduras”.
La democracia contra el fascismo.
El camino de América es el de la libertad. Somos tierra de libertad. Aquí no germinan las tiranías ni las dictaduras.
Creo que la OEA debe crear en la Corte Interamericana de Derechos Humanos una sala de juzgamiento de personas que realicen… https://t.co/xo2E0dRbOY
— Gustavo Petro (@petrogustavo) June 26, 2024
Em seguida, sugeriu Petro: “Penso que a OEA [Organização dos Estados Americanos] deva criar na Corte Interamericana de Direitos Humanos uma câmara de julgamento a pessoas que realizem golpes contra o voto popular”.
Luis Almagro, secretário-geral da OEA — entidade constituída por 32 países-membros — juntou-se às declarações de repúdio: “Condenamos os eventos na Bolívia. O exército tem de se submeter aos poderes civis legitimamente eleitos”.
Na América Latina, regimes de perfil conservador ou autoritário tendem a assumir uma política externa inclinada a Israel, em favor do posicionamento dos Estados Unidos.