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Performance de Biden em debate incita pânico entre os democratas

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, realiza debate eleitoral com Donald Trump, seu antecessor e adversário na corrida, em Atlanta, Geórgia, em 27 de junho de 2024 [Kyle Mazza/Agência Anadolu]

A performance do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, no primeiro debate das eleições à Casa Branca deste ano, na noite desta quinta-feira (27), atraiu críticas de analistas e apoiadores e deflagrou alarde no Partido Democrata, ao fomentar dúvidas de que o incumbente é o homem certo para esta disputa.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Os Estados Unidos vão às urnas em 20 de novembro, ao repetirem a escolha do pleito passado. Biden (81) e Trump (78) são ambos os candidatos mais velhos da história do país — batendo o próprio recorde em quatro anos.

Segundo a rede Politico, Biden pareceu dissociar quando não estava falando e mostrou um tom de voz baixo e rouco ao dar suas respostas. Trump, em contrapartida, agiu na ofensiva e fez uso de reiterada desinformação.

Segundo a CNN, um experiente assessor de campanha comentou: “É difícil argumentar que Biden deva ser o nosso candidato”. Um deputado classificou a performance como “desastre”, ao ponto de “Trump parecer razoável, apesar de mentir a 100 km/h”.

“Biden foi ininteligível”, acrescentou.

Kate Bedingfield, ex-diretora de imprensa da Casa Branca e vice-gerente da campanha de Biden em 2020 — hoje comentarista na CNN —, caracterizou a performance como “incomumente ruim”.

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Van Jones, analista político do mesmo canal e ex-assessor do então presidente Barack Obama, reconheceu que, em um debate há muito esperado, Biden enfrentou um teste para reaver a confiança do público; contudo, falhou.

“Ainda estamos longe da convenção e ainda há tempo do Partido Democrata descobrir um caminho diferente para seguir adiante”, comentou Jones — embora sem elaborar soluções. “Isso certamente não era o que precisávamos de Biden hoje. E não é apenas pânico, mas dor de ver o que vimos hoje”.

Um doador de campanha disse ao Politico que é hora de Biden deixar a campanha, ao lamentar sua performance como a “pior da história” — “tão ruim que ninguém prestou atenção nas mentiras de Trump”.

“Biden precisa desistir”, insistiu o doador. “Não resta dúvida”.

‘Me fez chorar’

Três estrategistas próximos a possíveis candidatos do Partido Democrata disseram ser “bombardeados” com mensagens durante todo o debate, incluindo pedidos por outro candidato.

Thomas Friedman, colunista de longa data do New York Times, fez coro aos apelos para que Biden deixe o pleito.

“Vi o debate sozinho em um hotel de Lisboa e me fez chorar. Não consigo me lembrar de momento mais desolador em uma campanha presidencial em toda minha vida, em particular pelo que expôs: Joe Biden, um bom homem e um bom presidente [sic], não tem nada que disputar sua reeleição”, escreveu Friedman.

Nicholas Kristof, também colunista do Times, ressaltou os argumentos: “Biden concluiu sua carreira no serviço público com um mandato presidencial bem-sucedido [sic]. Mas espero que reveja o debate desta noite e saí da corrida, dando à convenção em agosto a escolha sobre o candidato democrata”.

Após o debate, uma pesquisa rápida da CNN revelou que 67% dos espectadores viram Trump como “vitorioso”, contra 33% para Biden.

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A rede de extrema-direita Fox News reforçou a mudança em relação à mesma pesquisa da CNN para a corrida eleitoral de 2020, com 53% para Biden no debate final contra o então incumbente republicano.

A vice-presidente Kamala Harris preferiu, contudo, não capitular às críticas, ao afirmar que Biden “começou devagar”, mas “terminou forte”.

Diferente das campanhas anteriores, o debate deste ano aconteceu antes da indicação formal dos candidatos, nas convenções partidárias, dado que tanto democratas quanto republicanos prescindiram de prévias estaduais ao executivo.

A Convenção Nacional Democrata está prevista para 19 de agosto, em Chicago.

Entre os eventuais candidatos para substituir Biden está a própria vice-presidente e os governadores Gavin Newsom (Califórnia) e Gretchen Whitmer (Michigan). Newsom, no entanto, rejeitou os apelos: “Jamais viraria as costas para meu presidente”.

Crise interna

Os Estados Unidos vivem uma crise interna sem precedentes, às vésperas das eleições presidenciais entre Biden e Trump — este, por sua vez, condenado por fraude contábil ao ocultar um pagamento pelo silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, em 2016.

A opinião pública americana permanece particularmente dividida sobre a abordagem de Biden no que diz respeito às ações israelenses em Gaza, apontam as pesquisas.

Em meados de junho, um estudo do Centro de Pesquisas Pew demonstrou uma fissura geracional, com jovens americanos mais críticos a Tel Aviv do que outras gerações.

Biden mantém apoio operacional, militar e diplomático a Israel, apesar de protestos por cessar-fogo em todo o país, sobretudo nos campi universitários. Trump é também um correligionário sionista, embora ainda mais franco e inflamatório.

O atual incumbente, contudo, parece mais prejudicado por alienar um nicho crucial de seu eleitorado. Eleitores progressistas — essenciais a sua vitória em 2020 — prometem se abster, ao caracterizar a cumplicidade com o genocídio como linha vermelha.

Outras pautas progressistas afetam Biden como seu fracasso em cumprir promessas de campanha, como pagar dívidas estudantis e ampliar o acesso à saúde, e a revogação da jurisprudência Roe v. Wade pela Suprema Corte, durante seu mandato, que garantia às mulheres seu direito ao aborto legal.

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