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Israel liberta 50 prisioneiros de Gaza, incluindo diretor do Hospital al-Shifa

Palestinos libertados das cadeias da ocupação israelense chegam ao Hospital Nasser, em Khan Younis, no centro de Gaza, em 1º de julho de 2024 [Jehad Alshrafi/Agência Anadolu]

Israel libertou hoje 54 prisioneiros palestinos capturados na área leste, centro e sul de Gaza, incluindo o dr. Mohammed Abu Salmiya, diretor do Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde do enclave sitiado, destruído por Israel em duas ocasiões.

Abu Salmiya permaneceu detido sem qualquer acusação por mais de sete meses.

As informações são da agência de notícias Anadolu.

Os cidadãos libertos foram transferidos ao Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, em Deir al-Balah, e ao Hospital Nasser, em Khan Younis.

Abu Salmiya foi sequestrado pelas forças israelenses em 23 de novembro, junto de outros profissionais de saúde que fugiam ao sul do território pela avenida Salah al-Din, na Cidade de Gaza, após a invasão militar a al-Shifa.

Durante coletiva de imprensa realizada em frente ao Hospital Nasser, Abu Salmiya descreveu as condições dos prisioneiros palestinos como “trágicas, sem precedentes na história palestina, sem comida e sob humilhação física”.

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“Os palestinos presos nas cadeias de Israel sofrem todo tipo de tortura”, reiterou. “O exército os trata como se fossem objetos inanimados. Até mesmo os médicos israelenses costumam nos agredir fisicamente”.

Abu Salmiya enfatizou a necessidade de ações decisivas para libertar todos os prisioneiros da ocupação, ao notar a gravidade da situação.

“Nenhuma organização internacional nos visitou na prisão e fomos proibidos de conversar com quaisquer advogados. Muito prisioneiros ainda estão para trás, em condições péssimas de saúde física e mental”, advertiu.

“A ocupação israelense não poupa ninguém e profissionais de saúde têm morrido nas cadeias de Israel devido a tortura ou negligência médica”, relatou Abu Salmiya.

“Israel demonstrou crueldade em lidar com os prisioneiros, incluindo equipes médicas”, acrescentou. “Centenas de trabalhadores do setor foram alvejados e estão, agora, sob tortura nas prisões da ocupação”.

Dr. Mohammed Abu Salmiya, diretor do Hospital al-Shifa, realiza coletiva de imprensa em frente ao Hospital Nasser em Khan Younis, após ser libertado das cadeias da ocupação israelense, em Gaza, 1º de julho de 2024 [Jehad Alshrafi/Agência Anadolu]

Abu Salmiya revelou ainda que, apesar de passar por três julgamentos militares, ao longo de sete meses sob custódia, jamais foi indiciado de crime algum.

“O Serviço Penitenciário de Israel jamais apresentou uma acusação clara ou formal contra mim, apesar de três audiências”, observou o médico palestino.

A soltura de Abu Salmiya reverberou fissuras no governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Na rede social X (Twitter), o ministro de Assuntos da Diáspora, Amichai Chikli, descreveu a medida como “intolerável”.

“Essa decisão não passou pelo governo ou pelo gabinete”, alegou Chikli. “Quem quer que esteja por trás disso deve ser responsabilizado por uma decisão negligente e prejudicial à segurança de Israel”.

Seu colega, Orit Strock, responsável pela pasta dos assentamentos ilegais, declarou: “É inconcebível que algo assim ocorra sem reunião do governo”.

O ministro de Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir, chefe do partido supremacista Otzma Yehudit (Poder Judeu), caracterizou a soltura como “descaso com a segurança”.

Yoav Gallant, ministro da Defesa, sob pressão interna e externa, negou ciência da medida na rádio militar KAN.

Abu Salmiya expressou surpresa pelas alegações de Tel Aviv, ao enfatizar que sua soltura se deu por canais oficiais.

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Israel mantém ataques indiscriminados a Gaza há nove meses, deixando 37.877 mortos, 86.969 feridos, dez mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados, além de uma epidemia de fome sob cerco militar absoluto — sem comida, água ou medicamentos.

Entre as fatalidades, 15 mil são crianças.

Hospitais, escolas, abrigos e mesmo rotas de fuga não foram poupados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas um terço dos 36 hospitais de Gaza permanecem operantes, de modo que serviços médicos se tornaram essencialmente “inacessíveis”.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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