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Al Nakba: A catástrofe palestina continua até os dias de hoje

Palestinos, inclusive crianças, erguem bandeiras nacionais e ícones de chaves, representando o direito de retorno, na cerca de arame farpado entre Gaza e o território considerado Israel, na parte lesta da Cidade de Gaza, em 13 de maio de 2018 [Mahmud Hams/AFP via Getty Images]

“Se Nakba [em árabe, catástrofe] se refere à expulsão dos cidadãos palestinos de suas terras, e a apreensão destas terras por meio da força, então a Nakba começou décadas antes de 1948” — e ainda continua até os dias de hoje. É este o conceito de Al Nakba, série em quatro episódios da rede internacional Al Jazeera transmitida originalmente em 10 de dezembro de 2013, como parte do Festival de Cinema Palestino de Bristol.

A obra explora o conceito de que a catástrofe de 1948, que expulsou cerca de 800 mil palestinos de suas terras ancestrais e destruiu em torno de 500 aldeias e cidades, teve início séculos atrás e que suas repercussões de conquista, trauma e tragédia perduram até hoje e se estendem para além da própria região.

Como argumenta o historiador Arnold Toynbee, “a tragédia da Palestina não é apenas local — é uma tragédia para todo o mundo, porque é uma injustiça que ameaça toda a paz mundial”.

Al Nakba reúne registros de arquivo e uma série entrevistas com testemunhas in loco e historiadores e acadêmicos palestinos, israelenses e britânicos, a fim de entretecer um amplo relato sobre a catástrofe palestina, desde o período de Napoleão Bonaparte até a conjuntura atual no século XXI.

A história tem início em 1799, quando — motivado por sua hostilidade e seu desejo de reagir à expansão britânica — Napoleão redigiu uma cartar propondo a Palestina como terra nacional aos judeus, sob proteção da França. Em seu documento, disse Napoleão: “Oh israelitas [sic], ergam-se, este é o momento. A França lhes estende sua mão com o legado de Israel. Corram para reivindicar sua posição entre os povos do mundo”.

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Napoleão pode não ter sido bem-sucedido, mas seu plano foi revisitado por seus rivais no Reino Unido quatro décadas depois. Al Nakba documenta ambições britânicas para assegurar seu domínio sobre a área da Palestina, próxima ao Canal de Suez, durante a Primeira Guerra Mundial, mediante os Acordos de Sykes-Picot, “que abriram caminho para o estabelecimento de um Estado judeu” ao seccionar o Levante.

Al Nakba é um registro marcante sobre o persistente papel que o Reino Unido exerceu na catástrofe imposta ao povo palestino. Veja, por exemplo, a greve nacional palestina de 1936, contra a imigração dos judeus da Europa mediante aliança entre os britânicos e os sionistas — na ocasião, ao menos 190 palestinos foram mortos pela retaliação do Reino Unido. Entre 1936 e 1937, mais de mil palestinos morreram.

Um segmento particularmente perturbado da obra registra um filme de propaganda, o qual sobrepõe a “Terra de Israel” ao mapa da Palestina história e marca as áreas então expropriadas desde 1925. Em seguida, blocos negros enormes surgem sobre a tela, ao indicar as áreas alvejadas para apreensão colonial, acompanhados da legenda: “Nossa missão para os próximos 25 anos: 1 milhão de dunums de terras para o Fundo Nacional Judaico”.

Palestinos nativos são expulsos à força da região de Acre, hoje no território considerado Israel, por milícias coloniais sionistas, ocasião conhecida como Nakba, ou catástrofe, em meados de 1948 [Pictures From History/Universal Images Group via Getty Images]

A série nota que apenas fotografias — sem movimento — podem ser encontradas das manifestações palestinas da época, mas que o número de registros audiovisuais tanto dos britânicos quanto dos sionistas é comparativamente abundante.

Como observa o primeiro episódio da série, na primeira década do Mandato Britânico, com início em 1922, o número de colonos sionistas quase que triplicou, a mais de 175 mil imigrantes da Europa. O dr. Mustafa Kabha, pesquisador sobre a matéria, comenta: “O Reino Unido não estava disposto a responder às demandas nacionais dos palestinos e se negava a vê-los como uma identidade nacional que merecesse quaisquer direitos. Ao contrário, considerava os palestinos como apenas um grupo de tribos, ao passo que tratava a Agência Judaica como representantes do suposto movimento nacional”.

Al Nakba disponível nos canais da Al Jazeera, com episódios de cerca de 45 minutos — proporciona uma compreensão sobre o passado da Palestina histórica e os eventos que abriram caminho ao que acontece ainda hoje. Mais de sete décadas se passaram e a catástrofe palestina continua em curso, com o genocídio realizado por Israel na Faixa de Gaza, deixando ao menos 37 mil mortos e 86 mil feridos em nove meses e impondo a expulsão e o extermínio de uma nova geração de palestinas, que, no entanto, não se esqueceu dos anseios de seus pais e avós pelo direito de retorno.

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