Fidaï: A história dos combatentes da resistência argelina

“É melhor morrer como um fidaï do que um homem comum”, diz Med El Hadi Benadouda sobre a sua vida como um dos combatentes da resistência (mujahideen) cujo objetivo era libertar sua terra, a Argélia, de mais um século de repressão e imperialismo da França.

Sua família sabia bem pouco sobre sua vida como um veterano das forças de resistência, até que seu sobrinho-neto, Damien Ounouri, encontrou um jornal de 1962 revelando a razão pela qual El Hadi esteve na prisão e fora procurado pela polícia. Ainda aos 19 anos de idade, El Hadi se mudou para a França, onde se alistou ao braço armado da Frente de Libertação Nacional (FLN) — o movimento de resistência da Argélia. Seus objetivos eram “enfraquecer o potencial militar do inimigo e manter seus exércitos fora da Argélia”. Seu grupo era um núcleo clandestino voltado a “punir traidores” e “combater a opressão”.

É precisamente este retrato de uma vida sob a dominação francesa e como combatente da liberdade que Ounouri captura em Fidaï, documentário exibido como parte do Festival Shubbak em Londres, em 16 de maio de 2014.

 

A história acompanha o diretor e seu tio-avô ao visitarem vários locais ocupados pelas forças coloniais francesas e utilizados como prisões para torturar e executar combatentes ou suspeitos argelinos a fim de extrair informações sobre os mujahideen.

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“Meu coração ainda tem ódio do exército francês. Como eles mesmo dizem, guardo rancor”, comenta El Hadi.

Como parte da Frente de Libertação Nacional, o primeiro indivíduo que El Hadi recebeu ordens para assassinar foi Hadj Fassi — líder do grupo de oposição conhecido como Movimento Nacional Argelino (MNA). Com uma pistola e apenas uma bala, o jovem combatente seguiu Fassi por quatro dias consecutivos, para traçar seus movimentos e planejar uma rota de fuga uma vez que cumprisse a missão. Sua missão não obteve êxito, mas tampouco foi a última a lhe ser atribuída. Juntos, El Hadi e Ounouri refazem a rota da resistência argelina no exterior e reencenam as missões do tio-avô, ao revisitar os lugares onde impôs um acerto de contas com homens considerados traidores pela Frente Nacional.

O documentário de Ounouri traça um equilíbrio entre informar seu público sobre um fragmento da história pouco documentado e muitas vezes esquecido e relatá-lo mediante um elemento profundamente humano e pessoal.

O diretor reúne registros de imagem em preto e branco da revolução argelina com as imagens digitais pelas quais registrou seu documentário. Como resultado da linguagem, efetivamente traz à vida as memórias de El Hadi. Em alguns momentos, sua linguagem é particularmente poética, com uma cinematografia belíssima.

Cidadãos argelinos celebram a conquista de sua independência nas ruas de Argel, em 3 de julho de 2962 [Keystone-France/Gamma-Rapho via Getty Images]

De fato, o filme e sua história são fascinantes, embora, por vezes, recorra a uma edição um tanto arrastada.

Por todos os 83 minutos de Fidaï, são marcantes os olhos tristes de El Hadi. Quem sabe, sua melancolia se deve a recordar as dores de viver sob ocupação e colonização, ser deportado da França e deixar tudo para trás para se juntar à revolução. Quem sabe, é o pesar por suas missões por libertação nacional, que, a despeito das intercorrências da história, fatalmente tomaram vidas humanas.

“Eu estava pensando”, diz Ounouri a seu tio-avô, no final de seu documentário. “Incomoda o senhor ter matado outros homens?”

A Argélia conquistou sua independência da metrópole francesa em 5 de julho de 1962, após oito anos de luta armada e 132 anos de brutal colonização, que deixou aproximadamente 1.5 milhão de mortos segundo estimativas conservadoras. Números recentes apontam até mesmo 5.6 milhões de argelinos mortos.

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