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Javier Milei é islamofóbico e apoia o genocídio do povo palestino

O candidato presidencial Javier Milei, do La Libertad Avanza, agita uma bandeira de Israel durante um comício em 16 de outubro de 2023 em Buenos Aires, Argentina. (Foto de Tomas Cuesta/Getty Images)

No dia 07 de junho deste corrente ano, o sempre surpreendente mandatário argentino Javier Milei cometeu outro gesto islamofóbico e apoiador do genocídio palestino. O automóvel presidencial estava a 200 metros de distância do local onde ele, Milei, sua chanceler Diana Mondino e o representante do país no G20, Federico Pinedo, se reuniriam com importante conjunto diplomático. Simplesmente o chefe do Poder Executivo da Argentina deixou plantado ao conjunto de autoridades de países árabes e de maioria islâmicos com representação diplomática em Buenos Aires. O motivo alegado seria a presença do encarregado de negócios da Palestina, o embaixador Riyad Alhalabi.

Vale observar que não se trata de um grupo eventual. Diplomatas árabes e islâmicos têm uma instância de coordenação comum na Argentina, e a participação da Palestina é regular. A sede da embaixada do território ocupado fica na Rua Riobamba 981, em pleno bairro da Recoleta, distante duas quadras da prestigiada Faculdade de Medicina da UBA. Se trata de uma enorme casa centenária, patrimônio histórico, com a embaixada sendo inaugurada em 1999. O local abriga também um centro cultural e os atos em defesa da libertação da Palestina costumam se concentrar ali antes de saírem em marcha pela cidade.

O gesto de Milei não poderia ser mais absurdo, como veremos adiante. Além de irritar a Liga Árabe e a poderosa Organização pela Cooperação Islâmica, também implica um desrespeito a uma importante parcela da população argentina. No vizinho país são cerca de 3 milhões de descendentes de sírios, libaneses e palestinos. Na somatória do Bilad al-Sham, se trata da terceira maior onde migratória na virada do século XIX para o XX, estando atrás somente das colônias italiana e espanhola. Ainda assim, Milei se provou um operador do sionismo acima de tudo.

Argentina, Brasil e Chile: países com grande presença árabe

O local desrespeitado pelo presidente amigo dos Bolsonaro e apoiador do Apartheid na Palestina Ocupada é suntuoso. Em Buenos Aires, capital da Argentina, no valorizado bairro de Palermo, está localizado o Centro Cultural Islâmico Rei Fahd. Construído com capital saudita, o local agrega uma mesquita sunita de grandes proporções, uma escola de ensino fundamental e bilíngue (árabe e espanhol) e um belo espaço de difusão cultural. Se trata de uma obra de grandes proporções e destinada a diminuir a quetsão da islamofobia no país.

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É um paradoxo. São três grandes levas migratórias no Cone Sul. Quando nossos antepassados aqui chegaram, o Bilad al-Sham ainda era dividido nos seguintes governos locais, dentro do Império Otomano em seu período posterior ao Tanzimat (a era da modernização): Mutasarrifate do Líbano, Mutasarrifate da Palestina, Vilayet da Síria e Vilayet de Alepo. Basicamente se tratava de famílias camponesas que com o aumento da velocidade da circulação de mercadorias através do Canal de Suez (construído por invasores cruzados), se viram expulsas de seus minifúndios pela sucessão rural (muitos filhos, poucas terras agriculturáveis).

O resultado é conhecido, centenas de milhares de árabes de fé islâmica e cristã migraram para o Sul da América. Para o Brasil, a maioria dos imigrantes é de origem libanesa com famílias cristãs do Oriente. A maior leva é de maronitas, seguidos de melquitas e ortodoxos. A presença islâmica é mais recente – pós 2a Guerra ou a partir da segunda guerra civil libanesa – e acompanha também a crise no território da Síria.

Já no Chile, se trata da maior colônia palestina fora dos campos de refugiados no Oriente Médio. Majoritariamente são famílias palestinas de fé cristã, com um nacionalismo já centenário e vínculos permanentes com a terra ocupada. No caso caso argentino, a maioria da colônia ainda se autodenomina “sírio-libanesa” e é formada por famílias sunitas de pertença política pan-arabista. Dentro deste mosaico já saiu de tudo. Desde traidores como Carlos Saúl Menem, até famílias inteiras de shaheeds (mártires) que combateram a ditadura (1976-1983) tal como os Haidar: Mirta Malena, Adriana Isabel e Ricardo René Haidar.

Milei e seus asseclas desrespeitaram toda essa pertença cultural. A reação diplomática se fez presente.

A Liga Árabe a OCI se manifestam

A Organização de Cooperação Islâmica emitiu um duro comunicado após a posição hostil do presidente argentino:

“A Secretaria-Geral da Organização de Cooperação Islâmica manifestou o seu pesar e insatisfação pela recusa do presidente argentino Javier Milei em participar de uma reunião que estava agendada com o Conselho de Embaixadores dos Grupos Árabes e Islâmicos em Buenos Aires, sob o pretexto da presença de um representante do Estado da Palestina entre os participantes, e afirmou a sua rejeição deste comportamento decepcionante que não afecta o seu estatuto e direitos. Não só contra o Estado da Palestina, mas constitui uma posição hostil e injustificada em relação ao grupo islâmico, apelando à necessidade de aderir às normas diplomáticas estabelecidas de acordo com a Carta das Nações Unidas e a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, que afirma que os representantes diplomáticos devem ser tratados com o respeito e a igualdade necessários entre todos os países.”

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a Liga dos Estados Árabes se posiciona contra o presidente sionista da Argentina:

“A Secretaria-Geral da Liga dos Estados Árabes expressou grande insatisfação e espanto pela retirada de última hora do presidente argentino Javier Mele de uma reunião agendada com o Conselho de Embaixadores dos Grupos Árabes e Islâmicos em Buenos Aires, em 7 de junho, citando a presença do Encarregado de Negócios da Embaixada da Palestina na instância.

Afirma-se que tal comportamento reflete uma postura injustificada e hostil não só em relação ao Estado da Palestina, mas também em relação a todo o grupo árabe. Lamenta profundamente que uma ação tão pouco diplomática e inaceitável tenha partido do líder de um país que anteriormente mantinha posições positivas sobre a causa palestina, posições que infelizmente foram revertidas pela atual administração política. Espera-se que a Argentina reveja as suas posições recentes sobre a causa palestina, que apresentam um preconceito flagrante em relação à ocupação e se alinham com o lado errado da história. Esta revisão é essencial para manter as relações de longa data com o mundo árabe e preservar os interesses políticos e económicos mútuos partilhados por ambas as partes.”

Além da crítica em notas diplomáticas é preciso avançar, com alguma retaliação no plano econômico ou suspensão de contratos de importação. Não é possível esperar um recuo dae Milei, considerando que este neofascista se comporta como um provocador de extrema direita e não como presidente de um país com cinco prêmios Nobel.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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Palestina: quatro mil anos de história
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