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Uso da “Diretiva Hannibal” por Israel em 7 de outubro é confirmado por novas evidências

Israel continua a posicionar soldados, tanques, aeronaves militares e veículos blindados perto da fronteira de Gaza enquanto mantém os ataques em Gaza em 1º de maio de 2024. [Mostafa Alkharouf/ Agência Anadolu].

Em uma revelação surpreendente, documentos obtidos pelo Haaretz confirmaram que as Forças de Defesa de Israel (IDF) implementaram a controversa Diretiva Hannibal durante a incursão transfronteiriça do Hamas em 7 de outubro e mataram seus próprios cidadãos. Essa confirmação ocorre após meses de negação e tentativas de desacreditar fontes alternativas de notícias que informaram sobre o uso desse polêmico protocolo militar.

A Diretriz Hannibal tem sido objeto de intensos debates e críticas. Basicamente, ela autoriza o uso da força máxima para impedir a captura de soldados e cidadãos israelenses, mesmo com o risco de ferir ou matar os próprios soldados e cidadãos.

De acordo com os documentos revelados pelo Haaretz, a decisão de empregar a Diretiva Hannibal foi tomada nas primeiras horas do ataque do Hamas, enquanto a IDF se esforçava para compreender a escala e a natureza da incursão. Às 6h43, com os agentes do Hamas invadindo as fortalezas do exército, o comandante da Divisão de Gaza, brigadeiro-general Avi Rosenfeld, declarou: “Os filisteus invadiram”. Essa declaração deu início a uma série de “medidas extraordinárias”, incluindo o uso de fogo pesado dentro do território israelense e a autorização da diretriz.

As comunicações registradas naquela manhã confirmam ainda mais que Israel estava pronto para matar seus próprios cidadãos para evitar que fossem feitos reféns. Às 7h18, após um relato de um sequestro no posto de fronteira de Erez, o quartel-general da divisão emitiu o comando assustador: “Hannibal em Erez, envie um Zik”. O “Zik” refere-se a um drone de assalto não tripulado, e as implicações dessa ordem eram claras: impedir a captura de israelenses a todo custo.

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Talvez o mais perturbador tenha sido a ordem geral emitida às 11h22, que afirmava que “nenhum veículo pode retornar a Gaza”. Essa diretriz, dada em um momento em que os soldados da ocupação estavam cientes de que muitas pessoas haviam sido sequestradas, mas não tinham certeza dos números exatos, significava efetivamente que os cidadãos israelenses eram vistos como um dano colateral necessário. Uma fonte do Comando Sul admitiu ao Haaretz: “Todos já sabiam que esses veículos poderiam estar transportando civis ou soldados sequestrados.  Não houve nenhum caso em que um veículo que transportava pessoas sequestradas tenha sido atacado conscientemente, mas não era possível saber se havia pessoas assim em um veículo.”

A implementação da Diretiva Hannibal não se limitou a um único local. Os documentos e testemunhos revelam que ela foi empregada em vários locais, incluindo a base militar de Re’im e o posto avançado de Nahal Oz. Em Re’im, os ataques de drones foram ordenados mesmo quando as forças de comando Shaldag estavam engajadas em combate com os combatentes do Hamas em terra, levantando a possibilidade alarmante de vítimas de fogo amigo.

Um oficial sênior da defesa reconheceu ao Haaretz o peso dessas decisões: “Qualquer pessoa que tomasse essa decisão sabia que nossos combatentes na área também poderiam ser atingidos”.

A confirmação do uso da Diretiva Hannibal em 7 de outubro justifica as reportagens de vários veículos de notícias alternativos que foram rejeitados ou difamados por fazerem tais afirmações. Esse padrão de negação inicial seguido de confirmação final tornou-se muito familiar nas reportagens sobre o dia 7 de outubro. Argumenta-se que ele reflete um problema mais amplo na mídia convencional, em que as narrativas israelenses são frequentemente aceitas sem críticas, apenas para serem retratadas mais tarde ou modificadas à medida que surgem evidências contraditórias.

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Esse ciclo de desinformação e correção tardia tem implicações significativas para a compreensão pública do conflito. Ele levanta questões sobre a confiabilidade dos relatórios iniciais e a possível manipulação das narrativas da mídia. O intervalo de tempo entre as reportagens da mídia alternativa e a confirmação da mídia convencional pode permitir que narrativas falsas se enraízem, moldando a opinião pública e influenciando potencialmente as decisões políticas. Os críticos apontam para as supostas atrocidades que se revelaram farsas, como a decapitação de bebês pelo Hamas e o estupro em massa, para argumentar que Israel espalhou uma narrativa falsa para obter apoio e justificativa para seu genocídio em Gaza.

O uso da Diretiva Hannibal em 7 de outubro também traz à tona as considerações éticas que envolvem os protocolos militares em situações com reféns. Embora a IDF tenha sustentado por muito tempo que a diretriz tem como objetivo evitar sequestros em vez de prejudicar os prisioneiros, a aplicação prática de tal política no caos do combate levanta sérias preocupações legais, éticas e humanitárias.

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