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Jordânia, país de coração palestino

Manifestantes erguem bandeiras da Palestina e da Jordânia, bem como cartazes, enquanto marcham nas ruas de Amã, capital da Jordânia, em 22 de abril de 2022, para demonstrar solidariedade aos palestinos em Jerusalém, em meio ao aumento das tensões entre eles e as forças israelenses no complexo da mesquita de Al-Aqsa. [AFP via Getty Images]

A Jordânia é um dos países mais populosos da Ásia, com cerca de 11 milhões de habitantes, dos quais 3 milhões são refugiados palestinos (dados de 2021, não há dados oficiais publicados após o 7 de outubro de 2023). Além de abrigar a maior população palestina fora da Palestina, parte considerável da população jordaniana hoje é descendente de palestinos refugiados desde 1920, quando Jabotinsky colocava em prática o plano de transferência de palestinos para países vizinhos como a Jordânia. Em suma, o país respira a Palestina e sua população sofre de maneira muito próxima os impactos da colonização israelense.

O país foi independente no ano de 1946, sob a alcunha de Transjordânia, dois anos antes da criação de Israel, com o fim do protetorado britânico, mas foi só no ano de 1950, dois anos depois da criação de Israel, que a Jordânia se tornou o Reino Hachemita da Jordânia, colocando em sua constituição que apenas reis com origem 100% jordaniana poderiam assumir o trono – cláusula alterada recentemente para o que o atual monarca, que também possui origem britânica, pudesse assumir o trono – para que a soberania do país fosse garantida. Nesse período, em claro desrespeito à resolução 181 da ONU e à autodeterminação dos povos, a Palestina não podia emitir documentos para seus cidadãos, dessa forma, os palestinos possuíam documentos emitidos pela Jordânia. Foi apenas em 1978, com os Acordos de Camp David, que palestinos e jordanianos passaram a ter documentos apartados.

A história da Palestina e da Jordânia estão entrelaçadas e marcadas por colonizadores comuns (ingleses) e pelo apartheid que assola os palestinos até os dias atuais. Em razão disso, a Jordânia realiza emissões periódicas de documentos para palestinos, sendo de 2 em 2 anos para os palestinos de Gaza e de 5 em 5 anos para os palestinos da Cisjordânia. Essa ação se dá em razão do artigo 15º da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) que declara que todo indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade: “Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade”. Portanto, Israel privando os palestinos de sua própria nacionalidade, a Jordânia supre esse direito para os palestinos.

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Quando os palestinos chegaram na Jordânia trouxeram consigo todas as suas economias, investiram e construíram nas terras jordanianas, trabalharam e cresceram, criaram negócios e universidades, desenvolveram a economia jordaniana e ajudaram a tornar o país que hoje existe. Existe entre as populações uma relação intrínseca, quiçá inédita, construída em condições adversas.

Outrossim, olhando de maneira cuidadosa tal relação, é verdade que o plano de Jabotinsky se põe em prática com muito êxito. Os palestinos vão para a Jordânia e deixam as terras palestinas, assim como o sionismo desejava em princípio. Mas agora, chegam no país vizinho com menos direitos, menos privilégios, menor posição social e com status de refúgio em razão de possuírem documentos apartados. É o preço que os termos dos acordos firmados cobram na prática.

Apesar de não poderem estudar nas mesmas universidades, não poderem ter mais de uma propriedade (no caso dos palestinos de Gaza, nenhum registro de propriedade sequer, mesmo que se possua recursos financeiros), a solidariedade à Palestina é pujante no país. O Boicote é levado à sério e se nota isso pelas promoções que parecem irreais e a queda vertiginosa de preços em produtos como os combos do McDonalds, os carros nas ruas levam a bandeira da Palestina, nas casas vemos a bandeira da Palestina nas janelas, nas lixeiras das ruas vemos pinturas das bandeira israelense, nas ruas, nas lojas, nos centros comerciais, nos restaurantes… em todo lugar vemos a solidariedade à Palestina.

Factualmente, a Jordânia se torna mais Palestina a cada dia que passa, pois a cada dia que se passa mais palestinos chegam no país, mais palestinos nascem no país, mais cultura palestina se desenvolve no país. Cada vez mais o país encontra-se no limiar entre uma triste consequência da colonização do país vizinho e entre o cruel planejamento de ser um país que nasceu para servir de entreposto dos restos humanos que não servem à ocupação ocidental ao lado que avança a galopes.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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