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Emirados deportam estudante por grito de ‘Palestina livre’

Biblioteca da Universidade de Nova York em Abu Dhabi (NYUAD) [Wikipedia]

Em um incidente de perseguição política, um estudante da Universidade de Nova York em Abu Dhabi (NYUAD), sucursal da instituição americana nos Emirados Árabes Unidos, foi deportado pelo Estado do Golfo ao proclamar “Palestina livre” em sua cerimônia de graduação, conforme reportagem do jornal The Washington Post.

O episódio alimentou denúncias sobre atos de repressão às liberdades acadêmicas e de expressão na monarquia, assim como seu alinhamento com a ocupação israelense, em particular no contexto do genocídio em Gaza.

O estudante vestiu um lenço tradicional palestino (keffiyeh) durante o evento e entoou a palavra de ordem ao cruzar o palco para receber seu diploma. Dias depois, contudo, foi extraditado.

De sua parte, a sucursal de Nova York na capital emiradense é criticada por capitular à repressão no campus. Apesar de alegar “autoridade acadêmica”, a universidade admite que seus membros não estão imunes às “leis locais”.

“A Universidade de Nova York (NYU) não tem qualquer autoridade sobre as ações legais e de policiamento, sobre imigração ou outras, de quaisquer países”, declarou a reitoria, ao buscar terceirizar a responsabilidade aos próprios alunos.

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A Associação Americana de Professores Universitários (AAUP) expressou apreensão, ao acusar a NYU de deixar de proteger estudantes e professores.

Conforme a associação, a universidade “se mostra incapaz de impedir que os membros de sua comunidade docente e discente sejam tomados em custódia e interrogados, de maneira arbitrária, por agentes de segurança do governo”.

Segundo a AAUP, ao destacar implicações acadêmicas e notar discriminação a cidadãos não-ocidentais, a instituição de artes liberais tampouco buscou combater a censura e a deportação irregular de alunos e professores.

Os Emirados, ao importarem tais instituições, prometeram adotar “zonas culturais” em Abu Dhabi, similares a “zonas de livre comércio” para corporações; contudo, conforme denúncias, mantiveram restrições.

A AAUP reporta ainda as contradições inerentes em levar a educação superior de artes liberais a um ambiente tão repressivo.

Em uma análise detalhada, a associação reiterou que as imunidades propostas sob tais “zonas culturais” sempre foram restritas e não-realistas.

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A deportação do estudante por seu grito de “Palestina livre”, entretanto, não é um caso isolado, mas sim parte de um padrão abrangente de vigilância, detenção e intimidação a indivíduos que expressem pontos de vista dissidentes do regime.

No total, cinco estudantes que conversaram com o The Washington Post, em condição de anonimato, corroboraram circunstâncias similares a colegas pró-Palestina, incluindo a alunos que organizaram vigílias ou pediram doações a Gaza.

Os Emirados normalizaram laços com Israel em 2020, sob mediação do então governo dos Estados Unidos de Donald Trump. Desde então, firmaram uma série de acordos de comércio, educação, cultura e outros com a ocupação.

Israel ignora medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e resoluções de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao manter suas operações indiscriminadas contra Gaza, com apoio ocidental, desde 7 de outubro.

Mais de 38.300 palestinos foram mortos, sobretudo mulheres e crianças, além de 88.300 feridos e dois milhões de desabrigados.

As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.

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