No panteão das árabes protagonistas na luta anticolonial e pelos direitos das mulheres certamente encontra-se destacado o nome da advogada argelina Meriem Belmihoub Zerdani.
Filha de um ferroviário sindicalista e membro do Partido do Povo Argelino (PPA), ela nasceu em 1º de abril de 1935 e faleceu aos 86 anos, em 27 de julho de 2021. Casada com um advogado, teve três filhos que seguiram a mesma profissão.
Em 1955, com apenas 20 anos de idade, ela deixou a Faculdade de Direito para se unir às fileiras do Exército de Libertação Nacional (ELN) e da Frente de Libertação Nacional da Argélia (FLNA) – um ano antes, iniciava-se um processo de resistência armada que levaria à proclamação da independência de seu país em 5 de julho de 1962, após 132 anos de colonização francesa.
Seus pesquisadores falam em 1,5 milhão de argelinos martirizados no período e mais de 2 milhões deslocados e enclausurados pelos colonizadores europeus em campos de concentração. Cerca de 30 mil franceses foram mortos.
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Nessa luta, Meriem auxiliou nos cuidados a feridos e enfrentou, a partir de 1956, sete prisões, que lhe custaram perto de cinco anos de sua vida. Sua libertação veio às portas da independência de seu país. Ela participaria então da Assembleia Constituinte por dois anos.
Membro da União Nacional das Mulheres Argelinas entre 1963 e 1965, Meriem expressava o pioneirismo no feminismo anticolonial, que considera inseparável a luta por libertação nacional e pela emancipação das mulheres.
Retomando no período o estudo de Direito, viria a ser uma das primeiras advogadas da região, tendo atuado junto à Suprema Corte da Argélia. Levantaria a bandeira dos direitos das mulheres durante toda a sua vida, lutando também por representação junto às instituições, onde assumiu assentos junto ao Parlamento e Governo. Deixou o posto de senadora em 2001 e dois anos depois foi eleita como membro do Comitê das Nações Unidas contra a Discriminação contra as Mulheres (Cedaw), alcançando a Vice-presidência.
Da Argélia à Palestina
Nesse comitê, assumiu posicionamentos em favor da Palestina, coerente com o que o pesquisador e ativista argelino Hamza Hamouchene enfatiza, em artigo de sua autoria ao site Africa is a Country: a relação histórica entre a Palestina e a Argélia.
Há dez anos, em 18 de julho, durante sua 58ª. sessão, o Cedaw revelava “profunda preocupação” com a “deterioração dos direitos humanos e da situação humanitária em Gaza, particularmente as pesadas baixas civis, incluindo um grande número de mulheres e meninas, desde o início da operação militar israelense ‘Escudo Protetor”, em 7 de julho de 2014”.
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O massacre duraria 51 dias; uma década depois, já são nove meses de genocídio na estreita faixa, com Israel em busca de sua solução final da contínua Nakba – a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação do Estado sionista em 15 de maio de 1948 mediante limpeza étnica planejada. As vozes argelinas seguem a se levantar e honrar o legado daqueles que travaram heroica luta anticolonial, como Meriem.
Coordenador do programa Norte da África do Transnational Institute (TNI), Hamouchene frisa em seu artigo: “Quando penso na Palestina, não posso deixar de estabelecer paralelos com o caso do meu país, a Argélia, durante a era colonial (1830-1962). Não é por acaso que as classes populares e trabalhadoras argelinas apoiam fortemente a causa palestina, uma vez que ambos os países vivenciaram/vivenciam um colonialismo violento e racista.”