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Após perícia, Egito desiste de cobrir pirâmide de Gizé com blocos de granito

Pirâmide de Miquerinos em Gizé, no Egito; a sua frente, os túmulos das três rainhas do faraó homônimo, em 6 de setembro de 2016 [Wikimedia/Creative Commons 2.0/Reprodução]

O governo militar do Egito voltou atrás em um plano para restaurar a menor das três principais pirâmides de Gizé, após um comitê de especialistas deliberar contrariamente a toda e qualquer alteração no formato atual da estrutura.

“Hoje, a ciência venceu”, celebrou Monica Hanna, uma das cientistas que se mobilizou contra o projeto. Em postagem na rede social X (Twitter), escreveu: “Agradeço a todos que levantaram a voz pelo que é certo, em defesa do patrimônio do Egito”.

Em janeiro, o anúncio de um oficial de alto escalão de planos para reconstruir a camada externa de Miquerinos com pedras de granito encontradas ao redor da estrutura ou enterradas na área abalou a prestigiosa comunidade de arqueologia do país.

Em um vídeo, Mostafa Waziri, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, chegou a exaltar as eventuais obras como “projeto do século”, ao prometer empregar operários para instalar os blocos de granito na base da pirâmide.

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Waziri, que chefiada a missão nipo-egípcia para o projeto, agora suspenso, alegou que o intuito seria restabelecer a camada original de granito que envolvia a pirâmide quando foi construída, milhares de anos atrás. Conforme Waziri, as obras durariam três anos e representariam, quando concluídas, o “presente do Egito ao mundo para o século XXI”.

Egiptólogos e conservacionistas se opuseram ao plano logo de início, ao alertar que foi deferido sem consultar os especialistas, em violação aos parâmetros internacionais de preservação.

Em aparente reação às críticas, o Ministério do Turismo e das Antiguidades incumbiu um comitê científico, chefiado pelo arqueólogo e ex-ministro Zahi Hawass, a avaliar o projeto. A equipe de Hawass incluiu seis peritos de destaque do Egito, dos Estados Unidos, da República Tcheca e da Alemanha. Segundo o chefe da comissão, suas descobertas são vinculativas.

O relatório, confirmou um comunicado do governo à imprensa, destacou a decisão unânime do comitê contra qualquer restabelecimento de blocos de granito em torno de Miquerinos.

Pirâmides de Gizé, incluindo Quéops, uma das Sete Maravilhas do Mundo, no Egito, em 12 de outubro de 2023 [Murat Gök/Agência Anadolu]

“O comitê enfatizou a necessidade de preservar o estado atual da pirâmide sem adições, devido a seu excepcional valor arqueológico em âmbito global”, comentou a nota emitida pelo Serviço de Informação do Estado. “A cobertura original da pirâmide pode ser inferida por meio das sete fileiras de blocos de calcário posicionados sobre o corpo da estrutura há milhares de anos”.

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“O comitê reiterou a impossibilidade de determinar a localidade original exata de quaisquer um desses blocos de granito”, concluiu a nota oficial. “Reinstalá-los cobriria, portanto, as evidências presentes dos métodos antigos de construção das pirâmides”.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye em 16 de fevereiro de 2024.

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