O governo militar do Egito voltou atrás em um plano para restaurar a menor das três principais pirâmides de Gizé, após um comitê de especialistas deliberar contrariamente a toda e qualquer alteração no formato atual da estrutura.
“Hoje, a ciência venceu”, celebrou Monica Hanna, uma das cientistas que se mobilizou contra o projeto. Em postagem na rede social X (Twitter), escreveu: “Agradeço a todos que levantaram a voz pelo que é certo, em defesa do patrimônio do Egito”.
Em janeiro, o anúncio de um oficial de alto escalão de planos para reconstruir a camada externa de Miquerinos com pedras de granito encontradas ao redor da estrutura ou enterradas na área abalou a prestigiosa comunidade de arqueologia do país.
Em um vídeo, Mostafa Waziri, secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, chegou a exaltar as eventuais obras como “projeto do século”, ao prometer empregar operários para instalar os blocos de granito na base da pirâmide.
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Waziri, que chefiada a missão nipo-egípcia para o projeto, agora suspenso, alegou que o intuito seria restabelecer a camada original de granito que envolvia a pirâmide quando foi construída, milhares de anos atrás. Conforme Waziri, as obras durariam três anos e representariam, quando concluídas, o “presente do Egito ao mundo para o século XXI”.
Egiptólogos e conservacionistas se opuseram ao plano logo de início, ao alertar que foi deferido sem consultar os especialistas, em violação aos parâmetros internacionais de preservação.
Em aparente reação às críticas, o Ministério do Turismo e das Antiguidades incumbiu um comitê científico, chefiado pelo arqueólogo e ex-ministro Zahi Hawass, a avaliar o projeto. A equipe de Hawass incluiu seis peritos de destaque do Egito, dos Estados Unidos, da República Tcheca e da Alemanha. Segundo o chefe da comissão, suas descobertas são vinculativas.
O relatório, confirmou um comunicado do governo à imprensa, destacou a decisão unânime do comitê contra qualquer restabelecimento de blocos de granito em torno de Miquerinos.
“O comitê enfatizou a necessidade de preservar o estado atual da pirâmide sem adições, devido a seu excepcional valor arqueológico em âmbito global”, comentou a nota emitida pelo Serviço de Informação do Estado. “A cobertura original da pirâmide pode ser inferida por meio das sete fileiras de blocos de calcário posicionados sobre o corpo da estrutura há milhares de anos”.
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“O comitê reiterou a impossibilidade de determinar a localidade original exata de quaisquer um desses blocos de granito”, concluiu a nota oficial. “Reinstalá-los cobriria, portanto, as evidências presentes dos métodos antigos de construção das pirâmides”.
Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye em 16 de fevereiro de 2024.