Milei acusado pelo Hamas: presidente argentino é cúmplice do terrorismo sionista

Na sexta-feira 12 de julho o desgoverno de Javier Milei apresenta mais um ataque contra a nação árabe, o Mundo Islâmico e a Causa Palestina. No comunicado número 51 do porta-voz oficial do Poder Executivo sob o mandato do ex-participante de programas de auditório, consta o seguinte texto islamofóbico:

“Cidade de Buenos Aires, 12 de julho de 2024.- A Presidência da República informa que o grupo HAMAS foi declarado pelo Estado argentino como organização terrorista internacional.

O HAMAS assumiu a responsabilidade pelas atrocidades cometidas durante o ataque a Israel em 7 de outubro. Isto se soma a uma extensa história de ataques terroristas em seu nome.

Além disso, nos últimos anos foi revelada a sua ligação com a República Islâmica do Irã, cuja liderança foi considerada responsável pelos ataques contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires e contra a AMIA pelo Tribunal Federal de Cassação Penal em 11 de Abril. Estes ataques custaram a vida a mais de 100 cidadãos argentinos.

O Presidente Javier Milei tem um compromisso inabalável em reconhecer os terroristas pelo que são. É a primeira vez que há vontade política para o fazer.

Este Governo reiterou em múltiplas ocasiões a sua convicção de que a Argentina se alinha mais uma vez com a civilização ocidental, respeitando os direitos individuais e as suas instituições. Por esta razão, é inadmissível que aqueles que os atacam não sejam declarados o que são: terroristas.”

No mesmo comunicado, a base de acusação ao Hamas é absurda e falha. O Irã foi julgado e condenado pela Câmara de Cassação Penal no dia 11 de abril, atendendo o pedido da Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA equivalente a CONIB no país vizinho) como responsável pelos atos terroristas contra a Embaixada de Israel em Buenos Aires em março de1992 e a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em julho de 1994. Evidente que o governo iraniano respondeu à acusação absurda.

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Nada é “coincidência”. Na mesma decisão judicial, os operadores de inteligência recebem penas leves ou comutadas e o próprio Carlos Saúl Menem (falecido) é perdoado. Os condenados foram o ex-juiz Juan José Galeano e os ex-promotores Eamon Mullen e José Barbaccia. Não custa lembrar que o sobrinho de Carlos Saúl e filho de Eduardo Menem, Martín Menem é presidente da Câmara de Deputados e operador político de confiança dos neofascistas e ultraliberais aliados ao sionismo.

A alegação direta contra o Hamas é baseada em uma mentira. O Movimento de Resistência Islâmica na Palestina Ocupada é considerado terrorista por Milei pelos atos de 07 de outubro (que hoje sabemos que foi o emprego do Código Hannibal por parte das tropas coloniais sionistas) e por suas relações com o Irã (conforme o comunicado). A primeira acusação é falsa e a segunda, uma manobra da “justiça” argentina – não por acaso julagada apenas em 11 de abril – cuja suprema corte no governo anterior blindava ao ex-presidente Macri ao mesmo tempo em que a maior parte dos magistrados compartilhava os finais de semana com o empresário acusado de lavar dinheiro e em cujo período à frente da Casa Rosada multiplicou por vinte a dívida externa argentina.

Segundo o portal El Sudmaericano, mas citando diretamente uma extensa investigação do jornal israelense Haaretz, se explica que o código Hannibal visa “impedir os sequestros, mesmo às custas das vidas das pessoas sequestradas”. Inicialmente, os militares começaram a implantar “Ziks”, drones de assalto não tripulados. Mais tarde, foram disparados morteiros e depois projéteis de artilharia. O Haaretz também confirmou que o exército sabia que civis israelenses também haviam sido feitos reféns, mas a ordem foi dada às 11h22: “Nem um único veículo pode retornar a Gaza.

Naquela altura, as Forças de “Defesa” de Israel (IDF na sigla em inglês) não sabiam a extensão dos raptos ao longo da cerca de Gaza, mas sabiam que muitas pessoas estavam envolvidas. Portanto, o significado da mensagem e o destino de algumas das pessoas sequestradas eram perfeitamente claros. Por outras palavras, algumas, se não uma grande parte, das mortes israelenses naquele dia.

O Hamas responde 

De imediato semelhante absurdo teve resposta. No site do jonal português Notícias ao Minuto, em sua seção de mundo, saiu a resposta da força político-militar que lidera a resistência palestina em Gaza. Vejamos.

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“É uma tentativa clara de justificar os crimes de genocídio e de limpeza étnica cometidos pelos neonazis da ocupação contra crianças e mulheres na Faixa de Gaza. Consideramos que esta decisão injusta é errada e tendenciosa a favor da ocupação nazi, que está perante o Tribunal Internacional de Justiça por ter cometido o crime de genocídio contra o nosso povo palestino. O Movimento de Resistência Islâmica exige que o governo argentino se retrate dessa decisão e se abstenha de alinhar com a narrativa criminosa da ocupação sionista e se coloque do lado da justiça e do direito dos povos à liberdade e à autodeterminação”.

Além de defender o direito à resistência diante da ocupação estrangeira, e corretamente negar as falsas acusações de crime de guerra durante a operação Inundação de Al Aqsa, em 07 de outubro de 2023. O governo (ou desgoverno seria o termo mais apropriado) de Javier Milei, Luis Caputo e outros asseclas têm vínculos com o movimento Chabad-Lubavitch, com grande presença dentro das forças armadas sionistas (chegando ao limite de portar suas bandeiras nos tanques israelenses atirando contra crianças palestinas). Ao mesmo tempo, além das conexões diretas com o supremacismo colonial, também há uma espécie de “corrida do ouro”, visando o saque das riquezas argentinas. Vejamos.

 

Os capitais sionistas na Argentina de Milei 

A decisão manipulada da Justiça (2a turma da Câmara de Cassação Penal) deu o discurso legitimador para o governo Milei acusar o Hamas. A extrema direita argentina usou como argumento para dar sequência a um dos traumas nacionais e faturar politicamente contra a ex-presidenta Cristina Kirchner.

Para além dos discursos a favor do sionismo, também forma uma espécie de carta de intenções aos capitais sionistas. Notadamente se vê a presença da empresa estatal israelense Mekorot na exploração de lítio e da Xtralit nesse setor também, além da Navitas como sócia de uma petrolífera inglesa na exploração de petróleo no mar territorial argentino, mas próximo das Ilhas Malvinas. O botim avança não só na entrada de capitais sionistas externos, mas também com uma parcela do chamado Círculo Vermelho, a elite mais sanguessuga do país. O presidente que quando economista ajudou a quebrar um enorme fundo de previdência privado (Maxima AFJP), entrou com um projeto que visa beneficiar a um dos investidores diretos da candidatura de Milei, o também sionista Eduardo Elsztain (um dos maiores empresários do país, ex-sócio de George Soros).

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O governo atual da argentina foi construído através de uma campanha de desinformação através de redes sociais, promessas absurdas e uma certa anestesia de parte da opinião pública e das classes sociais excluídas na Argentina. No cenário internacional, opera como uma cabeça de ponte tanto do imperialismo clássico (estadunidense e ocidental) como do sionismo. Está disposto a avançar a todo custo e pode gerar um impacto cruel em seu país. É preciso denunciar ao ultraneoliberal em suas sandices e defender o direito à resistência do povo palestino.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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