A corporação esportiva Adidas emitiu um pedido de desculpas após controvérsia sobre um anúncio protagonizado pela modelo palestino-americana Bella Hadid, no qual veste um tênis inspirado nas Olimpíadas de Munique, em 1972.
A fabricante escolheu Hadid como garota-propaganda de seu recém-lançado SL72, que celebra o 52º aniversário dos jogos na Alemanha, ao revisitar o “cobiçado clássico” da década de 1970.
As Olimpíadas de Munique foram marcadas por uma operação armada que incorreu na morte de 12 atletas e treinadores israelenses.
Stefan Pursche, porta-voz da corporação, comentou a polêmica nesta quinta-feira (18): “Estamos cientes das conexões a serem feitas com esses trágicos eventos históricos — embora completamente não-intencionais — e pedimos desculpas por qualquer trauma ou estresse causado”.
“Como resultado, estamos revisando o restante da campanha”, reiterou. “Acreditamos no esporte como força de união global e manteremos nossos esforços para promover a diversidade e igualdade em tudo que fazemos”.
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A supermodelo, cujo pai, o empresário Mohamed Hadid, nasceu na Palestina histórica, é eloquente apoiadora de suas terras ancestrais. Em junho, ela e sua irmã, Gigi Hadid, doaram US$1 milhão em apoio a Gaza, sob genocídio de Israel.
Usuários das redes sociais criticaram a “revisão” da campanha pela Adidas como ato de racismo antipalestino, dado que Hadid e sua família não têm qualquer relação com os incidentes de Munique em 1972.
O jornalista Mehdi Hassan, por exemplo, denunciou postagens de Jonathan Greenblatt, diretor executivo da chamada Liga Antidifamação, grupo de lobby sionista, ao observar: “Culpar as pessoas por crimes de outros que compartilham nada mais que sua raça ou etnia é racismo, pura e simplesmente”.
Jonathan, this is straight-up anti-Palestinian racism & bigotry. Bella Hadid has absolutely nothing in common with the 1972 terrorists – other than the fact that she is Palestinian! Blaming people for the crimes of others who share their race or ethnicity is pure racism & bigotry https://t.co/A1krCcsSXB
— Mehdi Hasan (@mehdirhasan) July 19, 2024
Outro usuário reiterou: “A Adidas deletou a campanha com Bella Hadid porque preferiu crer nas mentiras descaradas de Israel, contadas sobre ela somente por ser palestina, em vez de defendê-la. Vergonha … Vergonha dos sionistas que apoiam ações voltadas a silenciar Bella e todo seu povo”.
adidas just deleted bella hadid’s campaign because they chose to believe the boldface lies israel say about her simply because she’s palestinian instead of standing up for her. shame on both of them & the zionists that supports their actions of silencing bella and her people. https://t.co/IGLVHGX67B pic.twitter.com/pHs1oeWQGV
— ⋆𐙚₊˚⊹♡ (@HE4VENZONE) July 18, 2024
Usuários do Twitter (X) notaram que a controvérsia é reveladora, ao demonstrar a visão desumanizante de Israel sobre os palestinos, ao rotular todos como “terroristas”.
“Não importa se Bella nasceu 25 anos depois das Olimpíadas de 1972 — a veem como responsável simplesmente por ser palestina”, destacou um usuário.
This hissy fit is actually very revealing because it proves that Israelis just reflexively believe all Palestinians are terrorists. Doesn’t matter that Bella Hadid was born 25 years after the 1972 Olympics, she’s responsible for what happened simply because she’s Palestinian. pic.twitter.com/G1ALlT8aPa
— Tariq Kenney-Shawa (@tksshawa) July 19, 2024
A hesitação da Adidas, no entanto, abriu caminho para renovar os apelos de que Israel seja banido das Olimpíadas de Paris, com início na próxima sexta-feira, 26 de julho, no contexto do genocídio em Gaza, que matou diversos atletas palestinos.
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Na semana passada, Shadi Abu-Alarraj, conhecido goleiro de Khan Yunis, foi morto por um massacre israelense em al-Mawasi, designada “zona segura”.
Hadid costuma enfrentar ataques de ideólogos sionistas e trolls de ultradireita devido a seu apoio pela causa palestina e a visibilidade de suas redes sociais, com 59.4 milhões de seguidores apenas no Instagram.
Suas postagens costumam mencionar a história de sua família expulsa da Palestina em 1948, na ocasião da Nakba, ou “catástrofe”, quando foi estabelecido o Estado de Israel mediante limpeza étnica planejada.
Os parentes de Hadid passaram por sucessivos países como refugiados, incluindo Síria, Líbano e Tunísia, até emigrar aos Estados Unidos.
Israel ignora medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e resoluções de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao manter suas operações indiscriminadas contra Gaza desde 7 de outubro.
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O Estado israelense é réu por genocídio no tribunal em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em janeiro. Entre as medidas desacatadas, está a suspensão de sua campanha em Rafah, no extremo sul de Gaza, que abriga hoje até 1.5 milhão de palestinos.
No total, ao menos 38.700 palestinos foram mortos, em maioria, mulheres e crianças, além de 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados.