A Federação Internacional de Futebol (FIFA) adiou uma decisão sobre um requerimento da Associação de Futebol da Palestina (PFA) para suspender Israel de seus torneios, de modo a permitir a participação da seleção ocupante nos Jogos Olímpicos de Paris, com início na próxima sexta-feira, 26 de julho.
A FIFA confirmou em nota que uma análise legal independente sobre o banimento em potencial da Associação de Futebol de Israel (IFA) de seus campeonatos estava prevista para ser anunciada neste sábado, 20 de julho.
Porém, “após pedidos de extensão de ambas as partes para submeter suas respectivas posições, deferidos pela FIFA, mostrou-se preciso mais tempo para concluir o processo com o devido cuidado e afinco”, acrescentou.
Segundo a FIFA, a decisão deve ser divulgada até 31 de agosto.
O adiamento implica que a seleção nacional de futebol israelense participará dos Jogos Olímpicos na capital francesa. A fase de grupos da modalidade precede a abertura, em 24 de julho; a disputa pela medalha de ouro acontece em 9 de agosto.
Israel se classificou por meio das eliminatórias da União das Associações Europeias de Futebol (UEFA) e jogará contra Mali, Paraguai e Japão.
Em maio, durante o 74º Congresso da FIFA em Bangkok, Jibril Rajoub — presidente da federação palestina — pediu a suspensão israelense, ao reafirmar: “Quão mais precisa sofrer a família do futebol da Palestina para que a FIFA aja com a mesma severidade e urgência com que agiu em outros casos?”
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A Confederação de Futebol Asiática (AFC) declarou apoio à ação contra Israel.
No Brasil, núcleos pró-Palestina — como Frente Palestina São Paulo, Juventude Sanaúd, BDS Brasil, entre outros — lançaram uma campanha para que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a Confederação Sul-americana de Futebol (Conmebol) se somem às denúncias.
Israel ignora medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) e resoluções de cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas ao manter suas operações indiscriminadas contra Gaza desde 7 de outubro.
O Estado israelense é réu por genocídio no tribunal em Haia, sob denúncia sul-africana, deferida em janeiro. Entre as medidas desacatadas, está a suspensão de sua campanha em Rafah, no extremo sul de Gaza, que abriga hoje até 1.5 milhão de palestinos.
Nesta semana, um grupo de advogados especializados em direito internacional somou-se aos apelos para banir Israel dos torneios de futebol, por violações a diversos termos de direitos humanos dos estatutos da FIFA.
O advogado Max du Plessis, parte do processo sul-africano, é coautor da petição, com 380 mil assinaturas, sob a coordenação da organização humanitária Eko.
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“Não há dúvida de que a conduta de Israel na Palestina lesou e continua a prejudicar os objetivos declarados da FIFA”, destacou o texto, ao apontar violação do Artigo 3 sobre direitos humanos.
“[Israel] discriminou e continua a discriminar os palestinos com base em sua raça e local de nascimento em direta contravenção do Artigo 4, inciso 1”, acrescentou. “A conduta de Israel demanda veto, em sintonia com posição adotada pela FIFA sobre semelhantes violações hediondas de seus objetivos e dos direitos humanos”.
A eventual suspensão de Israel na FIFA tem precedente.
Em 1961, a entidade esportiva baniu a África do Sul devido ao apartheid; em 1992, foi a vez da Iugoslávia, sob gestão sérvia, devido às violações nos Balcãs, após a emissão de sanções da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 2022, a FIFA e a UEFA agiram rapidamente para suspender a Rússia por sua invasão militar contra a Ucrânia.
A campanha de boicote ao apartheid israelense transcende a FIFA a outras federações esportivas — incluindo o Comitê Olímpico Internacional (COI). Espera-se manifestações pró-Palestina ao longo dos Jogos de Paris.
Em Gaza, Israel matou ao menos 38.700 palestinos — em maioria, mulheres e crianças — além de 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados.
Ao longo da varredura israelense no enclave, estádios de futebol foram convertidos em campos de concentração, com palestinos — adultos e crianças — despidos e alinhados em condição degradante.
Ao menos 231 jogadores de futebol palestinos, incluindo 66 crianças, foram mortos por Israel em Gaza, além de milhares de amputados e feridos.
A destruição não poupou hospitais, escolas e abrigos.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.