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Guerra em Gaza: Sem os direitos palestinos, árabes jamais reconhecerão Israel

Conquistar paz e justiça vai muito além de assinar um documento: requer abordar uma série de questões complexas e multifacetadas e promover compreensão
Protesto pró-Palestina contra o apoio do governo dos Estados Unidos de Joe Biden aos ataques israelenses contra a Faixa de Gaza, em Detroit, no estado de Michigan, em 12 de julho de 2024 [Adam J. Dewey/Agência Anadolu]

A ascensão dos Estados Unidos como a maior superpotência global, após o colapso da União Soviética em 1991, mudou toda a dinâmica de poder universal, com numerosas consequências que perduram até os dias de hoje, incluindo conflitos regionais, tensões e o que muitos enxergam como neoimperialismo.

Críticos argumentam que a pedra angular de longa data da política de Washington para o Oriente Médio permanecem inalterada desde a era Truman, ao ser implementada de modo a justificar ambições imperialistas e manter a hegemonia americana sobre partes do mundo. O discurso compreende a contenção do comunismo e, na era pós-soviética, do chamado “fundamentalismo islâmico”; na prática, no entanto, controle militar e de mercado sobre os recursos de petróleo do mundo árabe, apoio a regimes aliados como Israel e supressão de movimentos por liberdade na região. A continuidade das políticas independe de qual partido está no poder, seja Republicano ou Democrata.

É frustrante que, apesar de se posicionar como um dos agentes do processo de paz no conflito israelo-palestino pelas últimas três décadas, os Estados Unidos fracassaram, ao recorrer muito mais a uma espécie de gestão de crise do que resolução política. Hoje, é evidente que Washington falhou miseravelmente em ser um mediador honesto para a paz, ao manter seu apoio incondicional a Israel, a parte dominante, sobre a Palestina, a parte marginalizada.

O conflito costuma ser um ponto focal em tensões regionais. É importante reiterar que antecede em muito datas específicas como 7 de outubro de 2023. Os eventos de então podem ter deflagrado reações, mas as raízes do conflito são muito mais profundas na historiografia e na dinâmica política da região. Para pessoas que viveram décadas sob ocupação, ações como de então podem ser percebidas como uma resposta inevitável a circunstâncias impostas.

Em 8 de outubro de 2023, os palestinos como um todo sofreram uma campanha para difamá-los como “terrorista”, sem qualquer consideração com sua humanidade ou com as décadas de sofrimento sob ocupação. Conforme escalou a crise, sobretudo em Gaza, a consciência global tomou corpo, diante da resposta desproporcional e do contexto, levando a uma análise crítica das ações e reações nos últimos 76 anos.

Tamanho escrutínio desafio a comunidade internacional a reavaliar sua postura. Com o tempo, houve uma mudança notável rumo a uma maior empatia e solidariedade para com os palestinos, encorajada pela cobertura ampla nas redes sociais, que levou à luz a dura realidade e o impacto geracional da ocupação e colonização.

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É verdadeiramente irônico e, no meu ponto de vista, um oxímoro testemunhar Israel — que alega representar o povo judeu —, impor uma situação análoga ao Holocausto, ao passar de vítimas a perpetradores e impor consequências aos palestinos por injustiças históricas infringidas pela Europa Ocidental.

Os palestinos pagam o preço por meio do deslocamento à força, fatalidades em massa, e o que vemos hoje como genocídio. As ações israelenses equivalem a limpeza étnica, punição coletiva e genocídio, ao exemplificar a política do que muitos denunciam como Estado de apartheid. É inegável que Israel fez por merecer essa caracterização, devido a suas próprias ações.

Situação crítica

Pelos últimos 76 anos, um conflito prolongado se desenrolou entre duas comunidades distintas. Uma facção luta para retomar seu território nativo, enquanto outra luta para conquistá-lo. O atual Estado de Israel deve ser analisado pela lente de um movimento colonial de assentamentos que datam das décadas de 1920 e 1930, quando a presença de judeus europeus ascendeu na região sob patronato do então Mandato Britânico na Palestina histórica.

Neste período, a Palestina viveu um turbilhão, marcado por levantes contra o governo colonial britânico nos anos de 1920, 1929 e 1936. As tensões culminaram na Nakba de 1948, enquanto o Reino Unido promovia ativamente a imigração de colonos judeus às terras ancestrais palestinas. A base para o estabelecimento de Israel se deu mediante a Declaração Balfour, emitida em 1917, pela qual o Reino Unido declarou apoio a um “lar nacional judaico” na Palestina.

Contudo, levou quase três décadas para o projeto se materializar. Em 1948, o Estado de Israel declarou sua “independência” e imediatamente logrou de reconhecimento da comunidade internacional, inclusive a recém-fundada Organização das Nações Unidas.

Atualmente, o desafio posto aos palestinos gira em torno de esforços de reconciliação, ou solução política. A princípio, estes foram abordados pelos Acordos de Oslo, além do reconhecimento formal de Israel em 1988, a fim de facilitar negociações. Oslo, todavia, assinado em 1993 no gramado da Casa Branca, foi usado por Israel para aumentar cada vez mais sua presença colonial na Cisjordânia ocupada, tanto em termos de população quanto território. O governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu agiu para desmantelar Oslo por completo, ao agravar ainda mais a crise.

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Hoje, a liderança palestina vive uma situação difícil, presa entre aquilo que é inevitável historicamente e aquilo que parece impossível em âmbito político. Com extremistas no poder em Israel, começar qualquer negociação por estabilidade e segurança no futuro parece fora de questão.

Pelos últimos dez meses, Israel conduziu uma campanha implacável de ataques aéreos contra os civis de Gaza, com baixas estimadas em ao menos 38 mil mortos, metade dos quais crianças, além de dez mil pessoas presas debaixo dos escombros dos incontáveis edifícios destruídos. A situação precária se agrava ao registrarmos a perda de ao menos 147 trabalhadores das Nações Unidas e a destruição de 32 hospitais, deixando apenas um punhado de instituições operantes, com recursos limitados. Todas as instituições de ensino, incluindo universidades, foram dizimadas e diversos locais de culto, cristãos ou muçulmanos, foram absolutamente destruídos.

Palestinos, inclusive mulheres e crianças, são forçados a novo deslocamento em Khan Younis, sob bombardeios de Israel, dentre as ruínas da Faixa de Gaza sitiada, em 22 de julho de 2024 [Jehad Alshrafi/Agência Anadolu]

O controle israelense sobre a travessia de fronteira de Rafah, na fronteira com o Egito, restringe ainda mais o acesso dos palestinos a suprimentos básicos, como combustível, a fim de obstruir cada vez o funcionamento de serviços vitais. Como resultado, cerca de 70% da infraestrutura está em ruínas, ao degradar ainda mais a crise humanitária sem precedentes que toma a região.

Propriedade de direito

Qual o melhor nome para esse conflito? Trata-se de uma guerra de “defesa”, com Israel protegendo a si mesmo ou uma campanha para subjugar um povo que almeja somente sua liberdade e independência? Por vezes, é irônico debater com oficiais americanos e europeus — parte de minha carreira diplomática —, à medida que insistem promover uma solução de dois Estados apesar da crescente devastação.

Apesar dessa realidade, a retórica persiste. Caso realmente apoiassem uma solução de dois Estados, por que então ostentariam seus poderes de veto nas Nações Unidas, em particular quando quase 140 países já reconheceram a Palestina? Além disso, a Europa costuma seguir a deixa dos Estados Unidos nesta matéria, ao somar dúvidas a qualquer balança de poder no que se refere à abordagem de dois Estados.

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Hoje, os palestinos lutam pelo princípio fundamental de autodeterminação. A questão que fica é por que a comunidade internacional, que diz apoiar universalmente a ideia, como articulado pelo Artigo 16 de Woodrow Wilson, desconsidera o princípio quando se refere ao povo palestino? Tudo isso leva à reflexões se os palestinos são vistos como menos merecedores de consideração em sua busca por reconhecimento como Estado-nação independente, conforme as normas e parâmetros internacionais.

Durante a concepção do projeto sionista na Palestina, a região já demonstrava índices consideráveis de desenvolvimento quando comparada a áreas vizinhas. Infraestrutura como portos e aeroportos, além de agricultura e comércio prósperos, já estavam muito bem estabelecidos. Evidências históricas desmentem lideranças sionistas, como Golda Meir, que dizia que o deserto havia florescido com a chegada dos colonos. De fato, os registros desmentem os pressupostos sionistas.

Este conflito duradouro ainda, no entanto, não havia mobilizado a consciência global, visto frequentemente como uma disputa regional ou uma briga territorial. Contudo, os palestinos ressaltam que não buscam conquista alguma, mas sim assegurar o que é seu por direito. Para os nativos, sionistas são intrusos que expropriaram o controle de suas terras. Portanto, o conflito não é meramente uma disputa entre reivindicações sobre a terra, mas sim uma intrusão dos colonos que representam Israel. O empreendimento sionista granjeou apoio da comunidade internacional, que carrega a responsabilidade sobre as consequências de suas ações.

O debate sobre as práticas associadas a essa ocupação pode se estender por horas; no entanto, o xis da questão está nítido a quem queira ver: Como dar fim a esse conflito? Ademais, quem são os agentes interessados em forjar uma resolução?

Reivindicações bíblicas

Lamentavelmente, nossa fé nos americanos foi um equívoco. Sinto pelos cidadãos dos Estados Unidos governados por uma liderança ineficaz e míope no que concerne ações para fomentar a paz e a segurança internacionais. Um presidente que alega defender o acesso humanitário, paradoxalmente, continua a enviar milhares de bombas a Gaza, ao matar por inferência crianças inocentes. Como podemos tolerar as declarações senis de um presidente que parece distante da realidade? Infelizmente, a alternativa não é nem um pouco mais promissora.

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Na atual paisagem global, a noção de usar indivíduos ou países como meros peões nos conflitos internacionais parece cada vez mais insustentável. Enquanto tais conflitos têm potencial de escalar em guerras regionais e mesmo globais, as raízes são muitas vezes traçadas de volta a questões basilares — como a fome extrema, a pobreza abjeta e os interesses de agentes nacionais.

Portanto, prevalece a questão: Quais implicações teria o reconhecimento do Estado da Palestina para a comunidade internacional? Vale ressaltar que a Palestina, em diversas ocasiões no passado, demonstrou interesse em ceder, como se mostra pela acedência de apenas 22% do território da Palestina histórica para seu Estado conforme os termos de 1988. Este território abarca Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental, e deixa os 78% remanescentes ao projeto sionista. Apesar de tamanha concessão, esforços por maior expansão territorial por parte de Israel, sobretudo na Cisjordânia, persistem. Dito isso, vale notar que o interesse de Israel em Gaza orbita em condições de segurança, senão somente ambições territoriais.

Ao discutir a Cisjordânia, israelenses costumam tratá-la como “Judeia e Samaria”, a fim de defender os assentamentos ilegais na região. A ideia é assegurar controle e, com o tempo, integrar a Cisjordânia ocupada a Israel, alinhada a uma retórica messiânica e ao conceito de “Terra Prometida” para o povo judeu. Há quem veja essa interpretação de modo a prover um caráter divino à questão, pressupondo que a Palestina pertenceria aos judeus por serem aqueles “escolhidos por Deus”. Entretanto, o ponto de vista sobre essa crença teológica varia entre certos grupos, incluindo relutância ou rejeição entre alguns deles.

Além disso, um debate contundente é travado entre a Igreja Católica e Israel — isto é, sua comunidade fundamentalista judaica — sobre o sentido das profecias bíblicas e os conceitos de “Terra Prometida”. Perspectivas contrastantes desafiam as narrativas de posse com base na crença, em particular, de que “esta terra nos pertence porque Deus nos deu”. A postura é contestada por cerca de dois bilhões de católicos, contra a noção sionista que alega se tratar de uma “terra judaica, a terra prometida por Deus”.

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Nas últimas duas décadas, houve notável falta de eficácia e liderança global, ao menos carismática, sobre a matéria, ao contribuir para um senso de estagnação ou declínio no contexto de conflitos em curso, assim como de pautas como fome, miséria e injustiças de longa data. Isso leva a perguntas sobre a qualidade da representação democrática e a influência de agentes políticas em dar forma às escolhas dos líderes globais.

Apesar da abundância de recursos intelectuais e institucionais nos Estados Unidos, por exemplo, think tanks e instituições acadêmicas renomadas como Harvard, a disputa à presidência por figuras como Joe Biden e Donald Trump é vista por muitos como uma desgraça, ao ressaltar apreensões sobre a dominância das elites políticas sobre todo o processo eleitoral, contraposta à mobilização e às demandas de base.

Dinâmica distorcida de poder

A eficácia dos Estados Unidos como um mediador supostamente imparcial com intuito de construir uma ponte igualitária entre ambos os lados — que não estão de maneira alguma em pé de igualdade — é também alvo de dúvidas. Nas negociações entre Israel e Palestina, o desequilíbrio de poder é gritante. Os Estados Unidos, com sua posição de dominância, costumam esboçar resoluções em favor de Israel, deixando os palestinos com pouca ou nenhuma escolha senão capitular.

Essa falta de paridade prejudica a própria essência de negociações genuínas, as quais, ao menos idealmente, deveriam envolver simetria entre as partes em disputa, a fim de solucionar suas divergências. Contudo, neste contexto, as negociações são ditadas mais por políticas de poder do que diálogo honesto. Os palestinos, a parte marginalizada e oprimida, costumam carregar o fardo do desequilíbrio.

O atual estado de manifestações em Israel pode enganar, mas é crucial compreender o sentimento amplo. Há uma mudança considerável na opinião pública em Israel desde a Primeira Intifada, com apoio crescente a uma liderança de extrema-direita. O impacto de elementos supostamente de esquerda ou progressistas minguou, levando os a uma marginalização na arena política. A ascensão de figuras como Itamar Ben Gvir, Bezalel Smotrich e o próprio Netanyahu em posições de poder reflete a tendência. Com efeito, as chances de um governo ligeiramente mais liberal defenderem a paz se diminuem na própria sociedade israelense. O adágio “a caridade começa em casa” parece verdadeiro neste contexto.

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A estabilidade da região repousa sobre a eventual adoção de uma política imparcial por Washington, em vez de dois pesos e duas medidas adotados até então. Além disso, em vez de tentar construir a paz com seus vizinhos, vemos as ramificações das ações de Tel Aviv contra Gaza arriscarem conflitos mais amplos com Egito, Líbano e Irã. As condições podem até parecer contidas por ora, mas o fracasso dos Estados Unidos em firmar um cessar-fogo comprometem sua credibilidade e suas políticas contraditórias alimentam as tensões.

Ademais, o silêncio ensurdecedor da comunidade internacional sobre o que ocorre em Rafah é alarmante e de partir o coração. Tais ataques são projetados para coagir o povo palestino a fugir ao Egito, impondo um dilema sobre o posicionamento egípcio em não capitular a receber os deslocados de Gaza. Permitir tamanha migração seria como dar luz verde aos objetivos demográficos de Israel, ao fomentar ainda mais o sofrimento do povo palestino.

Ativamente buscando resoluções

Diante dos ataques genocidas do Israel, se faz necessário discutir o destino do Hamas. De fato, a presença do grupo se converteu de uma força ativa e tangível a um conjunto de ideias quase abstrato, que transcende militantes individuais. Mesmo que os atuais combatentes em campo sejam exterminados, seu ideário sobreviverá e deve dar vazão a novas facções. O imenso número de mortos entre os palestinos nos faz refletir sobre os impactos duradouros da guerra, sobretudo nos mais jovens, sobre os quais se impõe o trauma como memória coletiva para além de experiências individuais.

Israel deve entender que o povo palestino não pode ser expulso ou apagado. O verniz de legitimidade da presença de Israel no Oriente Médio depende do reconhecimento dos palestinos, não apenas dos Estados Unidos. Sem o estabelecimento de um Estado da Palestina livre e soberano, Israel arrisca se converter de uma vez por todas em uma fortaleza isolada na região, levando a desafios não somente políticos como até mesmo psicológicos.

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A luta em curso do povo palestino prova que a solução militar é inviável, mesmo a uma nação tão avançada tecnologicamente quanto Israel. A resiliência do povo de Gaza, que se nega a desistir ou deixar sua terra, apesar das adversidades, ressalta a urgência de a comunidade internacional reconhecer o direito de autodeterminação e independência do povo e do Estado da Palestina.

A atual situação em Israel é também volátil, com uma escalada de tensões que aponta um caminho perigoso adiante. Alguns observadores afirmam que a destruição de Israel como conhecemos é questão de tempo, como se mostra por eventos recentes como os protestos estudantis nos Estados Unidos. Tais manifestações revelam uma crítica mais ampla da gestão democrata na Casa Branca, sobre suas ações em torno de conflitos em todo o globo, desde a crise em Gaza à guerra na Ucrânia.

Eruditos veem isso como um indício de um padrão mais amplo no fracasso em garantir a hegemonia americana no cenário global. Ao traçar paralelos com os levantes sociais contra a Guerra do Vietnã, alguns enxergam o nascimento de uma nova era marcada, quem sabe, por mudanças tectônicas na arena geopolítica, em particular, nos Estados Unidos e no Oriente Médio.

Apelos por mudanças são sonoros, com ênfase na urgência de uma nova liderança não apenas em Israel, mas entre os grupos palestinos. O foco repousa em superar a gestão do conflito para ativamente buscar soluções, com propostas de desenvolvimento como meio de fomentar a estabilidade e segurança globais.

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Chamados por um regime menos colonialista em Israel refletem ainda anseios por uma abordagem mais inclusiva e construtiva na resolução de conflitos. Em último caso, essa urgência sobre as questões em mãos se destaca pelos alertas de maior instabilidade e chances até mesmo de um conflito amplo, caso passos reais não sejam dados em nome de uma resolução política.

As demandas por união e liderança proativa são cruciais em navegar mares revoltos e, sobretudo, em desviar do espectro de uma guerra global.

Questões complexas, multifacetadas

Ainda hoje, o ímpeto por conflito demonstra raízes em interesses nacionais e mercantis em vez de pura ideologia. Contudo, o zeloso compromisso de indivíduos motivados por extremismo religioso prevalece em voga. É fundamental impedir qualquer escalada em potencial a um conflito supostamente religiosos — especialmente entre muçulmanos e judeus.

O foco é buscar materializar uma luta nacional, guiada por uma ideologia secular com o intuito de estabelecer uma entidade democrática na Palestina. A visão, contudo, exige esforços coletivos, incluindo eleições presidenciais e legislativas, além de uma reforma abrangente em nossa estrutura política. Digo isso em tom de autocrítica, porque tenho de preservar minha honestidade intelectual ao ressaltar os passos adiante requeridos para lograrmos, de maneira realista, uma paz duradoura e sustentável.

Conquistar a paz genuína envolve mais do que assinar um pedaço de papel. Demanda tratarmos juntos de questões complexas e multifacetadas e promover a compreensão. Acordos pré-existentes entre Israel, Jordânia e Egito, por exemplo, são vistos como uma “paz fria” por muitos na região, que insistem que a verdadeira paz só será conquistada quando os palestinos tiverem seus direitos reconhecidos.

Este sentimento reafirma a necessidade de autodeterminação genuína dos palestinos como prerrogativa a qualquer aceitação mais ampla de Israel no mundo árabe.

Construir a paz compreende esforços para além dos acordos diplomáticos, como ações de base, engajamento da sociedade civil e fortalecimento dos valores democráticas por todas as partes. Tamanho processo tem como destino promover um diálogo aberto e a coexistência entre Israel e Palestina, como dizem alguns, ao contribuir, quem sabe, na resolução do conflito e no desenvolvimento de democracias estáveis que não estejam sempre em guerra.

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Por fim, abraçar o conceito de LaRouche de desenvolvimento econômico, como posto pelo Instituto Schiller, pode exercer um papel crucial em criar segurança global, através de segurança regional, ao solucionar conflitos duradouros como Israel e Palestina.

Ao priorizar laços econômicos sobre soluções militares, nações do norte ao sul podem enfim abraçar uma abordagem em que todos ganham, em nome da estabilidade e da prosperidade globais.

Publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 2 de julho de 2024

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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