É preciso mais capacidade organizativa para forçar o rompimento Brasil-Israel

Há um paradoxo, nas relações entre o Brasil e o Estado Sionista na Palestina Ocupada. Por um lado, pela primeira vez desde 1947, quando o invasor inicia a limpeza étnica na Grande Cananeia, a opinião pública e a sociedade civil organizada no país consegue expor a crueldade do inimigo colonialista. Por outro, o sionismo ganha um nível de alianças proporcional ao tamanho de seus crimes. Já não se trata mais do “ocidente” apenas, mas de milhões de brasileiras e brasileiros manipulados por empresas cujo lucro não é tributado e pregando a supremacia invasora na Palestina Ocupada. Se alguém imagina ser exagero, basta ligar a TV aberta brasileira e observar a desgraça que é a equiparação da Israel bíblica (ahistórica, imaginária muitas vezes) e a realidade dos genocidas em Gaza.

Mas não pára por aí. Há consenso entre a direita liberal e conservadores neofascistas na defesa deste Estado criminoso. E, de sua parte, os operadores do lobby sionista no país atuam com bastante desenvoltura dentro do aparelho de Estado brasileiro. Já demonstramos em outros artigos diversos momentos onde isso ocorre. A relação estrutural é esta. Para dentro do “deep state” brasileiro, a presença sionista é maior do que se imagina e só pode ser erradicada esta atuação caso o Brasil rompa relações diplomáticas com o Estado Colonial, congele de imediato os contratos, suspenda os acordos e tratados e coloque sob investigação os lobistas do genocídio atuando no país.

Infelizmente, a realidade nos demonstra que estamos muito distantes deste rompimento com os supremacistas. Como no conhecido ditado uruguaio, adaptando para o português: “do dito ao feito, há um longo trecho”.

No que diz respeito aos aspectos declarativos, o Itamaraty se comporta muito bem. Vejamos a posição do Ministério das Relações Exteriores depois que o Knesset (o Parlamento do Estado Sionista) aprovou por 68 votos contra 9, o reconhecimento ao direito à existência de um Estado Palestino ao lado dos Territórios Ocupados em 1948. A chancelaria brasileira afirma sua crença na solução negada pelo invasor colonialista e – num gesto diplomático – repudia a decisão supremacista dos invasores europeus. Vejamos o texto do MRE.

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O governo brasileiro tomou conhecimento, com grave consternação, da resolução do Parlamento israelense aprovada anteontem, dia 17 de julho, que se opõe ao “estabelecimento de um Estado palestino”. Essa medida é contrária a todos os esforços da ampla maioria da comunidade internacional para assegurar o direito do povo palestino à autodeterminação.

Ao saudar os mais de 140 países que, em consonância com o Direito Internacional, reconhecem — incluindo, desde 2010, o Brasil — o Estado da Palestina, o governo brasileiro exorta os países que ainda não o fizeram a igualmente avançar nessa direção. Ressalta, nesse contexto, que o ingresso da Palestina, como membro pleno, nas Nações Unidas, recebeu o apoio, em maio passado, de mais de dois terços dos Estados Membros da Organização.

O governo brasileiro condena, ainda, nova incursão do ministro de Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, realizada ontem, dia 18, na Esplanada das Mesquitas (“Haram-El-Sharif”). Ao reafirmar a necessidade de estrito respeito ao “status quo” histórico dos locais sagrados em Jerusalém, o Brasil lamenta que atos provocativos continuem minando as perspectivas de alcançar paz na região.

O Brasil reitera seu histórico compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado da Palestina independente e viável convivendo lado a lado com Israel, em paz e segurança, dentro das fronteiras de 1967, o que inclui a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, tendo Jerusalém Oriental como sua capital.

As relações diplomáticas entre Brasil e Isral estão esfriando, com um paulatino afastamento. A tensão se dá porque o corpo da diplomacia indicado pelo crimino Netanyahu, opera no país como aparato de propaganda dos colonialistas. Já no plano das relações econômicas, a situação é mais complicada

As exportações de petróleo não refinado para o Estado Colonial

Ainda em dezembro de 2023, o portal Esquerda Diário repercutiu a denúncia de que o Brasil segue sendo um dos cinco maiores exportadores de petróleo para o enclave colonial e militar do Ocidente na Palestina Ocupada. Vejamos o excelente material publicado:

Através da Lei de Acesso da Informação, e o processo 48023.003733/2023-69, disponível a qualquer cidadão no site “Fala BR” da Controladoria Geral da União o Esquerda Diário obteve acesso ao volume, produto e país de destino das exportações da Petrobras nos últimos 5 anos (2023 incluso). Neste processo fica claro que o que a Petrobras mais exporta é óleo cru totalizando US$66,96 bilhões de um total exportado neste período de US$ 87,693 bilhões. O principal destino, como qualquer pessoa poderia supor, é a China, porém chama atenção como Israel é o décimo maior destinatário da Petrobras em geral e, no caso de óleo cru, o nono, com um valor exportado em petróleo de US$1.103.249.068,20.

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Considerando que o valor médio do petróleo Brent nos últimos cinco anos foi de US$71,56 por barril, e considerando o impraticável, da Petrobras ter conseguido vender a custo da referência internacional do Brent, a empresa exportou 15milhões, 329 mil e 291 barris para Israel, respondendo sozinha por pelo menos 66 dias de todo o consumo deste Estado. A participação brasileira, que pode ser muito maior inclusive, com re-exportações de outros destinos como a Holanda por exemplo, que é conhecida como um hub de re-exportações da Europa à Eurásia. O Brasil para além da Petrobras, através das múltiplas empresas privadas que crescentemente detém mais do pré-sal pode ajudar (e lucrar muito mais) deste negócio sangrento.

Exportações primárias e perda na balança comercial

O padrão da exportação de petróleo se verifica em outros produtos. Além da vergonha de exportarmos óleo cru (sem beneficiamento, equivale a vender gado em pé ou grãos in natura), mantemos uma perda na balança diante dos invasores da Palestina. Em levantamento realizado pelo Poder 360, a balança comercial brasileira com o Estado Sionista representa perda para nosso país.

Em 2023, a balança comercial registrou déficit de US$ 690,1 milhões.Israel representou somente 0,2% do total das exportações do Brasil no ano passado e está no 54º lugar no ranking de exportações brasileiras. De janeiro a dezembro, as operações somaram US$ 661,9 milhões. O Brasil exporta principalmente petróleo, soja e carnes. 

Já o Brasil importou US$ 1,352 bilhão em produtos israelenses, o equivalente a 0,6% do total das importações realizadas em 2023. Os principais produtos importados foram cloreto de potássio, inseticidas e fosfatos.

Ou seja, seguimos um padrão subalterno nesta luta no Brasil. Quem apoia a Palestina tem presença de rua, convoca toda a esquerda e centro-esquerda e praticamente baniu a presença sionista no chamado “campo progressista”.

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Enquanto isso, o acesso privilegiado dos sionistas se dá pela atuação dentro dos conglomerados de mídia (conforme já expusemos em artigos anteriores), pelas relações horizontais de servidores da área de segurança com agentes de inteligência dos genocidas e também pelas relações econômicas de longo prazo. A luta na defesa da libertação da Palestina neste nível implica uma capacidade organizativa ainda muito aquém da condição orgânica de grupos e comitês de apoio. Está menos distante de abril e maio de 2021, quando da Operação Espada de Jerusalém. Mas ainda longe de poder confrontar o inimigo atuando por dentro das instituições nacionais.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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