Em um dia de ventania à beira-mar, Poppy passa seu tempo perguntando aos seus pais quando é hora de ir embora. Parece um dia normal para uma adolescente, até que ela descobre um uniforme militar, encontra uma jovem soterrada por destroços e tem sua casa invadida por soldados. Sua família se mostra cética, mas acabam pagando o duro preço por ignorar suas preocupações.
Assim como o enredo de Poppy, curta-metragem realizado em parceria com a Galeria P21 e o projeto Noon Vision Creative. O diretor Richard Platt, que trabalhou em séries como Casualty, Holby City e EastEnders, reitera que seu coração está em fazer filmes e contar histórias “que signifiquem algo para mim”.
A história é sobre a Inglaterra, ou o relacionamento do Ocidente com a Palestina, mas Platt diz que Poppy poderia muito bem ser sobre a violência e a destruição em diversos países do mundo, ao carregar uma mensagem universal. “A história é sobre como nós costumamos ignorar as guerras no mundo, não somente em Gaza, mas em todo lugar, porque as vemos como imagens no noticiário, um plano de fundo, por assim dizer, para nossas vidas, que estão sempre passando na TV, e meramente as aceitamos … Nós, por outro lado, queríamos fazer com que a guerra parecesse real, em particular, a alguém que poderia ignorá-la por vê-la na TV”.
Platt relata ter se inspirado em uma exposição da Galeria P21, na qual soldados foram inseridos, mediante edição por Photoshop, em imagens de cenas comuns e cotidianas da vida na Inglaterra. “Parecia me dizer, basicamente, sobre como sequer enxergamos mais os conflitos acontecerem”, recordou Platt. “Vemos um panorama, uma paisagem, e tomamos como certo que o que vemos é o que vemos e não escavamos a superfície para entender verdadeiramente o que acontece; e, dessa maneira, não fazemos nada a respeito e penso que é nisso que Tracey baseou o enredo de Poppy”. Tracey, no caso, é Tracy Brabin, roteirista, que participa do filme como uma apresentadora de notícias.
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“Um dos conceitos básicos é dizer obrigado a todos que, de alguma forma, ajudaram as vítimas do conflito na Palestina, sobretudo em Gaza, embora ainda tenhamos muito o que fazer”, resumiu Platt. “Queremos dizer obrigado, mas ainda assim temos de lutar e nos mobilizar por mudanças políticas, em vez de apenas enviar assistência”.
É difícil capturar tantas ideias em um período tão curto — o filme mal ultrapassa os 11 minutos de duração. Platt, no entanto, argumenta que este é o tempo necessário para emitir sua mensagem de maneira acessível, sem que “ela soe como um sermão”.
Primeiro de tudo, nosso dever, como cineastas, é produzir uma obra de entretenimento e, caso esse entretenimento seja capaz de trazer alguma luz a um certo aspecto da sociedade, então seu trabalho está feito … Em último caso, portanto, é preciso entreter e, se carrega também uma boa mensagem ali, então maravilha.
A abertura do filme conta com uma trilha de Carl Barât, ex-frontman da banda londrina Libertines. Platt, a princípio, planejava usar a trilha de outra banda, cujo nome não quis revelar, mas enfrentou um “refugo” com receios de que Poppy poderia ser visto como um filme “contra Israel”.
“Uma semana após concordarem, a banda sentou conosco e disse que não queria ser associada com algo remotamente político ou que pudesse ser percebido como político, porque, supostamente, seriam famosos nos Estados Unidos e não queriam incomodar ninguém”, destacou Platt. “Infelizmente, porém, não são muitas as pessoas dispostas a encarar o elefante na sala”.
Essa não é uma obra contra um país ou outro, mas sim antiguerra. Não me parece controverso, não é? Apenas contra a guerra, nada polêmico. Na verdade, só é controverso porque se trata de árabes e israelenses em uma situação particular e por conta de algumas noções convencionais de que temos de ser contra isso ou a favor daquilo. Não é questão de ser a favor de coisa alguma. É questão de ser contra a guerra.
Uma das partes mais comoventes do filme está em seu encerramento, ou epílogo, que retrata a devastação de Gaza. Platt explica que as imagens foram capturadas por meio de um drone, que dá a impressão ao público de pairar sobre o estreito enclave, dando-lhe tempo até mesmo para refletir sobre o que é a obra e sobre Gaza.
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Platt nunca esteve na Palestina. Impressionado, perguntou aos realizadores do projeto Noon Vision Creative se Gaza realmente era daquele jeito. “É algo extraordinário; ainda assim, muito chocante. Enquanto eu via as cenas se desenrolarem, não podia deixar de pensar como as pessoas poderiam viver naquelas ruínas. Era como as áreas destruídas por bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Escombros e mais escombros. Crianças brincando nos destroços. Sua vida segue como se fosse normal, mas tudo não passa de ruínas. É ultrajante. É terrível”.