Componentes de poliovírus tipo 2 (cVDPV) foram encontrados em amostras de esgoto da Faixa de Gaza, confirmou o Ministério da Saúde de Israel na última semana.
Os resultados corroboram descobertas anunciadas por peritos da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Egito e se somam à crise em Gaza, após dez meses de bombardeios israelenses que destruíram a infraestrutura da saúde e saneamento na região.
O vírus foi isolado em seis amostras ambientais (esgoto) coletadas em 23 de junho, nas sub-regiões de Khan Younis e Deir al-Balah.
Não há até então casos de poliomielite sintomática, ou paralisia infantil, reportados em Gaza, mas a deteção do vírus é “extremamente preocupante”, como descreveu o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, na última sexta-feira (19).
“As amostras, testadas em um laboratório israelense, aprovado pela OMS, implicam em apreensões sobre a presença do vírus na área”, admitiu o ministério. “Testes regulares serão conduzidos para detectar o poliovírus na água de esgoto e identificar a potencial propagação da doença em seu estado assintomático”.
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Em sua nota, a pasta sugeriu ainda “monitorar e considerar os passos necessários para evitar os riscos da doença se espalhar em Israel”.
De acordo com o jornal hebraico Yedioth Ahronoth, o exército israelense já deu início à vacinação de reforço para seus soldados enviados a Gaza. No entanto, sem mencionar esforços de contenção voltados aos palestinos carentes, sob crise humanitária.
Segundo um comunicado militar, autoridades lançaram uma “operação abrangente de vacinação a todas as tropas de campo, tanto regulares quanto da reserva”. Conforme o jornal Times of Israel, a vacinação é voluntária.
Segundo a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, agências relevantes — incluindo a OMS, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Agência para a Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) trabalham com as autoridades de saúde pública em campo para mitigar o impacto da crise sanitária sobre a população.
A presença do vírus coincide com diversas epidemias, para além da fome, que tomam o enclave sob agressão israelense. Segundo a iniciativa, a crise em curso impõe também desafios aos esforços de monitoramento e imunização em Gaza.
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A cobertura de vacinação contra poliomielite nos territórios palestinos é notavelmente alta, com 99% em 2022. A pólio foi erradicada de Gaza há mais de 25 anos; todavia, no fim de 2023, a cobertura palestina caiu a 89%, no contexto da escalada israelense.
Dados do consórcio OMS-Unicef, contudo, não separam Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, de modo que o enclave sitiado se mostra mais vulnerável, com provável queda superior na cobertura vacinal.
Atualmente, apenas 16 dos 36 hospitais de Gaza estão parcialmente operantes, assim como 45 das 105 instalações de saúde primária.
A OMS reconhece alto risco de propagação do poliovírus em Gaza e, por consequência, internacionalmente.
Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, “a dizimação do sistema de saúde, a falta de segurança e acesso, o deslocamento, a escassez de suprimentos de saúde, a má qualidade da água e a precariedade do saneamento denotam aumento no risco de doenças evitáveis mediante vacina, incluindo a poliomielite”.
Israel mantém ataques indiscriminados contra Gaza desde 7 de outubro, deixando ao menos 39.006 mortos até então e 89.818 feridos, além de dez mil desaparecidos e dois milhões de desabrigados. Entre as fatalidades, 15 mil são crianças.
Hospitais, escolas e abrigos das Nações Unidas não foram poupados.
Ao promover seu cerco absoluto — sem comida, água ou medicamentos —, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os palestinos como “animais humanos”. O ministro, junto ao premiê Benjamin Netanyahu, tem um mandado de prisão solicitado pela promotoria do Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia.
Israel ignora ainda medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana, além de resoluções por um cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
As ações israelenses constituem limpeza étnica, punição coletiva e crime de genocídio.
Uso da “Diretiva Hannibal” por Israel em 7 de outubro é confirmado por novas evidências