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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Antropologia e comunicação podem se aliar na busca da paz?

Kholoud al-Ajarma responde a dois pesquisadores do jornalismo humanitário
Autor do livro(s) :Cilene Victor, Ahmad Alzoubi
Data de publicação :jul./dez. 2023
Editora :PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM, São Paulo, v. 7, n. 14

Jornalistas e pesquisadores do jornalismo humanitário e de paz, Cilene Victor e Ahmad Alzoubi buscaram em uma entrevista com a antropóloga  palestina Kholoud al-Ajarma  elementos de sua área de pesquisa – a antropologia – que contribuam para uma compreensão e abordagem menos territorial e mais muldisciplinar e multicultural dos conflitos atuais, com especial foco no mundo árabe muçulmano e na Palestina. Uma preocupação fica evidente em relação aos estereótipos dos povos subjugados e à superficialidade e viés tendencioso das coberturas e compreensão social das guerras que ocupam o noticiário.

Professora do programa Globalised Muslim World (Mundo muçulmano globalizado )e vice-diretora do HRH Prince Alwaleed Bin Talal Centre for the Study of Islam in the Contemporary World (Centro para o Estudo do Islã no Mundo Contemporâneo), da Universidade de Edimburgo,  Kholoud al-Ajarma  considera que a ausência de progresso tangível no âmbito político, aliada à percepção de injustiça contínua, contribui para um sentimento de desesperança entre os palestinos. Ela faz referência a duas palavras do árabe que compartilham a mesma raiz: salam, que significa paz, e istislam, que significa rendição, afirmando que a segunda é a que mais se pede aos palestinos e isto não considera direitos, igualdade ou justiça.

Em sua abordagem geral dos conflitos atuais no mundo, Kholoud reduz o foco que é dado aos objetivos declarados das disputas  – sem desconsiderar a política e a diplomacia – e aumenta a luz para as contingências humanas e culturais desde as comunidades e recursos envolvidos. “Tradicionalmente, os conflitos eram frequentemente compreendidos sob a ótica de disputas territoriais, batalhas ideológicas e lutas pelo poder. No entanto, o cenário contemporâneo de conflito revela um quadro mais complexo, onde atores não estatais, dinâmicas de poder, injustiças sociais e econômicas e questões ambientais, entre outros, desempenham papéis cada vez mais salientes.”

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Para a antropóloga, os antecedentes dos conflitos devem ser considerados, como forma de abordá-los e até preveni-los, e hoje são conhecidos alguns fatores como a marginalização e queixas históricas, além da desigualdade que faz o grande abismo entre o Norte e o Sul globais.  “Oportunidades para a paz podem surgir quando as questões centrais e as

causas dos problemas, como a colonização em andamento, são resolvidas.”, diz ela.

Explorando os conhecimentos da entrevistada com base em suas pesquisas atuais sobre a gestão humana dos recursos hídricos e preocupações ambientais contemporâneas no mundo muçulmano, os pesquisadores quiseram saber mais da  relação entre a sustentabilidade ambiental e a construção da paz. Kholoud considera que aspectos importantes como o conhecimento local e até questões culturais e religiosas na gestão da água são frequentemente ignorados nas práticas de gestão hídrica dos formuladores de políticas. E em muitos casos, são políticas fomentadoras do conflito. Na Palestina, ela ressalta, “as práticas coloniais dos assentamentos israelenses significam que muitas comunidades palestinas não têm acesso a recursos hídricos suficientes.”

Outro enfoque da pesquisa de Kholoud aborda a interculturalidade do mundo muçulmano e ao mesmo tempo o modo como este encontra unidade na peregrinação do Hajj, trazendo pistas sobre as possibilidades de construção da paz em meio às diferenças.  A experiência do encontro de variadas interpretações do Islã em que os peregrinos, “independentemente de seu status socioeconômico, etnia ou nacionalidade, usam o mesmo traje e realizam os mesmos rituais”, despertam nos participantes a percepção da “importância das experiências compartilhadas e identidades comuns na superação de divisões e no fomento de um senso de humanidade comum”.

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Nessas abordagens, aparece sempre a preocupação dos entrevistadores com a questão da comunicação para a paz, o que se configura como um desafio para o jornalismo, se considerado que “a antropologia destaca o papel da comunicação não verbal, do simbolismo e dos rituais na formação de significado dentro das culturas. Esses aspectos são cruciais na construção da paz, onde símbolos e rituais desempenham frequentemente um papel significativo nos processos de reconciliação.”

Sobre os estereótipos empregados na abordagem da cultura árabe e muçulmana, a entrevistada considera que o preconceito começa pelo fato de que essas vozes são menos ouvidas. E as pautas geralmente se reportam a coisas negativas, como terrorismo, e não a temas universais, como família e aspirações. Ela sugere que os meios diversifiquem suas fontes e  revisem sua cobertura das comunidades muçulmanas considerando o feedback dessas próprias comunidades.

Ela explica que “as ferramentas etnográficas da antropologia auxiliam a desvendar as normas e valores culturais arraigados que moldam as respostas das comunidades aos conflitos e iniciativas de paz. Quando combinados com outros campos de estudo, esses insights podem orientar o desenvolvimento de estratégias de comunicação mais eficazes e culturalmente sensíveis”.

Kholoud  propõe uma abordagem holística em que  a comunicação possa contribuir para um entendimento  mais profundo entre as pessoas de diferentes contextos e condições. A antropologia enfatiza a importância da escuta das vozes locais e das experiências vividas pelos indivíduos dentro de uma comunidade e funciona como “uma lente crucial por meio da qual podemos aprofundar nosso entendimento dos efeitos do conflito, das vidas de indivíduos e comunidades nessas situações e dos processos de construção da paz”.

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Confira a entrevista na PAULUS: Revista de Comunicação da FAPCOM

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