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Equipe olímpica da Palestina é recebida com festa em Paris

Atletas da delegação palestina durante cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, em 26 de julho de 2024 [Aytaç Ünal/Agência Anadolu]

Os atletas olímpicos palestinos foram recebidos com festa, flores e presentes por uma multidão ao chegarem em Paris nesta quinta-feira (25), dispostos a representar a Faixa de Gaza assolada pela guerra e o restante dos territórios ocupados na arena global.

As informações são da rede de notícias Agence France-Presse (AFP).

Ao desembarcarem dentre bandeiras palestinas no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, os esportistas palestinos reafirmaram esperanças de agir como símbolos contra o genocídio imposto a seu país, cometido pelo exército de Israel.

Atletas, políticos e ativistas solidários presentes reforçaram apelos para que o governo francês do presidente Emmanuel Macron reconheça o Estado da Palestina.

Em maio, Macron disse se sentir “preparado” para reconhecer oficialmente a Palestina, após Irlanda, Espanha e Noruega formalizarem a decisão; porém, insistiu que a medida deveria ocorrer em um “momento oportuno”.

“A França não reconhece a Palestina como nação, portanto, estou aqui para erguer essa bandeira”, comentou Yazan al-Bawwab, nadador palestino de 24 anos, nascido de pais refugiados na Arábia Saudita. “Somos 50 milhões sem um país”.

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“Não somos sequer tratados como seres humanos, mas, quando praticamos esportes, as pessoas eventualmente percebem que somos iguais a elas”, acrescentou.

Al-Bawwab, um dos oito atletas da delegação palestina nos Olimpíadas de Paris, entre 26 de julho e 11 de agosto, concedeu autógrafos e comeu tâmaras oferecidas por um menino em meio à multidão.

Cantos de “Palestina livre” ecoaram pelos salões do aeroporto.

Ibrahim Bechrori, residente da capital francesa, de 34 anos, compareceu à chegada dos atletas palestinos: “Vim para mostrá-lo que não estão sozinhos … Estarem aqui mostra ao todos que o povo palestino continua a existir e que não será apagado. Apesar dessa situação horrível, continuam resilientes”.

Hala Abou, embaixadora palestina na França, que perdeu 60 parentes para a agressão em Gaza, ressaltou as demandas legítimas por boicote e sanções contra a delegação de Israel nos Jogos Olímpicos.

Em meio à multidão diversa no Charles De Gaulle, observou Abou: “Não é surpresa que o povo francês, que defende a justiça, apoia o povo palestino, assim como o seu direito inalienável por autodeterminação”.

Na terça-feira (23), Thomas Bach — ex-atleta alemão e presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) — rejeitou um pedido da Comissão Olímpica da Palestina para banir Israel dos jogos na França devido ao genocídio em Gaza.

A medida tem jurisprudência recente: atletas da Rússia e Bielorrússia concorrerão sob bandeira neutra, devido à invasão militar do Kremlin contra a Ucrânia.

LEIA: Porta-bandeira de Israel nas Olímpiadas de Paris assina bombas a Gaza

Na segunda-feira (22), o Comitê Olímpico da Palestina enviou uma carta a Bach, na qual argumentou que Israel age em transgressão da tradicional trégua olímpica, que deveria começar em 19 de julho e seguir até os Jogos Paralímpicos em setembro.

Mesmo na melhor das circunstâncias, o cerco israelense a Gaza e a ocupação militar de Israel em Jerusalém e Cisjordânia obstruem os treinos e mesmo viagens dos esportistas palestinos. A situação se agravou nos últimos nove meses.

Em Gaza, ataques indiscriminados de Israel mataram ao menos 39 mil pessoas, além de 90 mil feridos e dois milhões de desabrigados. A infraestrutura civil, incluindo hospitais, escolas e abrigos, foi destruída, e campos esportivos foram transformados em campos de detenção.

Boa parte da delegação em Paris pertence à diáspora, expulsa de sua terra pela Nakba, ou “catástrofe”, como os palestinos nativos descrevem o processo ainda em curso de colonização e limpeza étnica desde a criação de Israel, em maio de 1948.

No aeroporto, a nadadora Valerie Tarazi, de 24 anos — nascida em Illinois, nos Estados Unidos, descendente de refugiados de Gaza — distribuiu tradicionais lenços palestinos (keffiyehs).

“Nós podemos sucumbir sob a pressão ou usá-la para nos motivar”, comentou Tarazi. “Eu decidi usá-la para me motivar”.

A delegação palestina compareceu à cerimônia de abertura das Olímpiadas de Paris na tarde desta sexta-feira (26), ao desfilar junto às outras equipes pelo Rio Sena. Tarazi foi porta-bandeira, junto de Waseem Abu Sal, nascido em Ramallah, de 20 anos de idade, primeiro boxeador a representar a Palestina em uma Olimpíada.

Tarazi desfilou com um vestido ornamentado com o tradicional bordado palestino.

Abu Sal vestiu uma camisa branca com uma ilustração de bombas lançadas por aviões de guerra sobre um céu ensolarado, enquanto uma criança joga futebol, em aparente referência às 15 mil crianças mortas em Gaza pela ofensiva de Israel.

As ações israelenses no território palestino desacatam medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana, além de resoluções por um cessar-fogo do Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Espera-se uma onda de protestos pró-Palestina ao longo das Olimpíadas.

LEIA: Olimpíadas devem banir Israel como apartheid sul-africano, reafirma oficial palestino

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Palestina: quatro mil anos de história
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