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Mark Ruffalo é criticado por comentários ‘islamofóbicos’

O ator americano, conhecido por opiniões progressistas e solidárias, comparou políticas ‘perversas e extremistas’ de Donald Trump com a lei islâmica.
Mark Ruffalo exibe um broche pró-Palestina no tapete vermelho do Oscar, em Beverly Hills, na Califórnia, em 12 de fevereiro de 2024 [Michael Blackshire/Los Angeles Times via Getty Images]

O ator americano Mark Ruffalo incitou críticas nas redes sociais, incluindo acusações de perpetuar estereótipos islamofóbicos, após descrever uma compilação de propostas e políticas ultraconservadoras nos Estados Unidos, promovidas por apoiadores de Donald Trump, ex-presidente e candidato republicano nas eleições de 20 de novembro, como a “lei sharia dos lunáticos ‘cristãos’”.

“O Projeto 2025 não é brincadeira, é nacionalismo branco cristão”, comentou o ator de Hollywood na plataforma de rede social X (Twitter), em 1º de julho, ao referir-se a uma agenda política desenvolvida pelo think tank americano The Heritage Foundation.

“É a lei sharia dos lunáticos ‘cristãos’, que não são cristãos de verdade, mas sim querem controlar cada aspecto de nossa vida através de sua interpretação excludente e estreita sobre os ensinamentos gentis, inclusivos e igualitários de Jesus Cristo”, indicou Ruffallo. “Nascimento imposto, religião imposta. É o Talibã americano de Trump”.

Centenas de usuários das redes sociais criticaram o uso de Ruffalo de termos islâmicos como forma de descrever o extremismo ascendente nos países ocidentais.

LEIA: Islamofobia e colonialismo em tempos de crise

Sharia, cuja tradução do árabe é “caminho correto”, é um termo abrangente para leis e normas que se baseiam em princípios das escrituras islâmicas.

“Liberais brancos jamais vão perder uma oportunidade de usar o Islã como padrão para aquilo que precisa ser combatido”, contrapôs o comediante satírico Aamer Rahman. “O nacionalismo branco cristão é a ideologia fundadora de todo seu país. Então que diabo os muçulmanos e a sharia têm a ver com isso?”

Vários usuários das redes sociais notaram o estigma em torno da expressão sharia. Um deles observou: “O termo tem sido usado como propaganda para instilar medo e ódio contra os muçulmanos. Isso precisa acabar. Nós já somos demonizados, desumanizados e perseguidos o bastante”.

Outro usuário enfatizou a ironia: “Mark Ruffalo usa o termo ‘lei sharia’ da mesma forma que os nacionalistas brancos o usam, enquanto tenta denunciar os nacionalistas”.

 

“Mark Ruffalo, você sabia que, segundo a lei sharia, o aborto é permissível com 40 dias [de gestação], ou mesmo até o segundo trimestre, a depender de sua interpretação?”, reiterou outro usuário ao marcar o ator em sua postagem, diante da sugestão de que a política contra os direitos das mulheres nos Estados Unidos seja comparável, de algum modo, com as normas islâmicas.

O Projeto 2025, também divulgado sob a alcunha de Projeto de Transição Presidencial, propõe uma série de políticas e mudanças a serem implementadas caso Trump consiga vencer as eleições à presidência.

O plano resultaria em uma reforma no governo federal alinhada a princípios adotados por grupos ultraconservadores nos Estados Unidos, descritos por diversos especialistas e comentaristas como “distópico” e “autoritário”

Ativismo pró-Palestina

Diversos usuários das redes sociais expressaram “decepção” sobre a representação da lei islâmica do intérprete do Hulk, de forma tão pejorativa, dado seu ativismo de longa data, incluindo uma eloquente defesa dos direitos do povo palestino.

“Os liberais não passam uma semana sequer sem mostrar suas veias islamofóbicas — a mesma islamofobia usada para justificar o genocídio do povo palestino [perpetrado por Israel] neste exato momento”, acrescentou outro usuário, em alusão às ações militares do Estado ocupante na Faixa de Gaza sitiada, deixando quase 40 mil mortos e mais de 90 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados.

Estima-se dez mil pessoas desaparecidas, provavelmente mortas sob os escombros.

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Ruffalo costuma postar manifestações de solidariedade ao povo palestino e chegou até mesmo a pedir sanções contra Israel — uma imensa raridade em Hollywood. O célebre ator usou sua plataforma para reivindicar um cessar-fogo permanente em Gaza, diante dos quase dez meses de genocídio.

Em fevereiro, Ruffalo integrou um grupo seleto de celebridades que ostentou broches do grupo conhecido como Artists for Ceasefire, nas premiações do cinema americano, incluindo a cerimônia do Oscar.

ASSISTA: Mark Ruffalo mostra apoio a protestos pró-Palestina no Oscar

O Middle East Eye tentou contactar o sr. Ruffalo para comentar as críticas; porém, não obteve resposta.

Artigo publicado originalmente em inglês pela rede Middle East Eye, em 2 de julho de 2024

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