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Assistência a Gaza continua ‘drasticamente restrita’, alertam ongs internacionais

Caminhões assistenciais aguardam na fronteira do Egito para entrar em Gaza, em 29 de julho de 2024 [Ali Moustafa/Getty Images]

A intensificação dos ataques aéreos israelenses contra múltiplas regiões de Gaza onde organizações assistenciais provêm serviços, incluindo “zonas seguras” designadas pelo exército ocupante, além do fechamento de fronteiras, continuam a impedir de maneira drástica a capacidade de entrega de suprimentos que salvam vidas, advertiu um grupo de 20 agências humanitárias, entre as quais a Save the Children.

O alerta foi divulgado nesta terça-feira (30), através de um relatório sobre as condições humanitárias em campo.

Após quase 300 dias de agressão israelense aos palestinos de Gaza, os civis ainda estão sob constante deslocamento, submetidos a sucessivas ordens de evacuação das “zonas seguras”, no entanto, sem meios ou sequer tempo de se locomover.

Bombardeios recentes no centro de Gaza, onde civis que fugiram de Rafah, no extremo sul, desde maio, foram particularmente mortais.

Mais de 190 mil palestinos foram deslocados à força em apenas quatro dias nas regiões de Deir al-Balah e Khan Younis, alvo mais recente de Israel, onde as baixas chegaram a 73 mortes e 270 feridos na última semana.

A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou que 80% de Gaza está submetida a ordens arbitrárias de evacuação ou postas sob a designação de “zonas proibidas”, sob diretrizes do exército da ocupação. Isso significa que 1.9 milhão de deslocados internos estão atualmente confinados em apenas 17% da estreita faixa.

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Neste entremeio, fronteiras fechadas ou disfuncionais e bombardeios contra comboios assistenciais continuam a sabotar os esforços humanitários.

Dois voluntários palestinos ong War Child International foram mortos por massacres de Israel ao campo de refugiados de Nuseirat em 13 de julho, junto a um colega ferido que perdeu os quatro filhos.

Um trabalhador da ong ActionAid também teve sua casa bombardeada, resultando na morte de suas quatro filhas. Um colega foi ferido e está em estado grave.

“Trabalhadores humanitários não são poupados da violência”, reiterou Jeremy Stoner, diretor regional da Save the Children. “Um de nossos membros foi morto junto de sua esposa e seus quatro filhos por um ataque israelense em dezembro … Desde então, os trabalhadores humanitários continuam a ser alvejados”.

Equipes assistenciais jamais devem se atacadas, além de comboios e armazéns, insistiu Stoner. “Dizemos uma outra vez: um cessar-fogo imediato e definitivo é a única forma de salvar vidas em Gaza”, acrescentou.

Várias organizações tiveram comboios aprovados, mas ainda aguardam para entrar no enclave sitiado. A travessia de Kerem Shalom (Karam Abu Salem) permanece lotada de caminhões há semanas devido às operações israelenses.

A Save the Children observou ter quatro caminhões de insumos médicos aguardando a passagem em Kerem Shalom, sob o verão na região há mais de um mês. A carga inclui antibióticos e medicamentos para doenças cardíacas.

Segundo as Nações Unidas, os suprimentos em Gaza são cada vez mais escassos.

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“Fazemos todo o possível para salvar vidas em Gaza, mas nosso trabalho se torna cada vez mais difícil a cada dia que passa”, lamentou Stoner. “Deslocar civis a áreas que não podem acomodá-los está causando uma catástrofe humanitária sem precedentes. Não há lugar para eles, tampouco suprimentos para salvar suas vidas. Sem ajuda crítica, as vidas das crianças certamente serão perdidas”.

A Save the Children notou ainda sete cargas de antifebris à espera em el-Erish, do lado egípcio, incluindo quatro caixas que exigem refrigeração contínua, além das obstruções arbitrárias do lado israelense.

Outras agências confirmaram dificuldades similares.

A Oxfam teve caminhões-pipa, unidades de dessalinização, geradores, filtros e latrinas aprovados pelas autoridades de fronteira, porém impossibilitados ainda de adentrar no enclave mediterrâneo.

O Conselho de Refugiados da Noruega tem 864 tendas retidas em Kerem Shalom, após serem transferidas do porto de el-Erish, ainda sem acesso à população carente.

Segundo as Nações Unidas, a média de ajuda humanitária que entra em Gaza caiu 56% desde abril, à medida que o sistema de saúde foi dizimado, junto a deslocamentos em massa, que resultam em superlotação dos abrigos, escassez de recursos e epidemias de doenças altamente contagiosas.

Na terça-feira passada (23), a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o alto risco de proliferação da poliomielite em Gaza, após traços do vírus serem encontrados em amostras de esgoto. Crianças com menos de cinco anos são as mais vulneráveis, de acordo com as autoridades de saúde.

A crise pode se propagar internacionalmente, ressaltou a OMS.

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A Save the Children fornece serviços assistenciais e apoio a crianças palestinas desde o ano de 1953 e trabalha hoje 24 horas por dia para levar insumos às famílias carentes de Gaza, incluindo água, comida, produtos de higiene, colchões, cobertores, tendas, jogos e brinquedos.

A ong oferece também apoio psicológico e psicossocial às crianças palestinas, além de assistência financeira às famílias.

“Contudo, as condições básicas para alcançar as famílias precisam ser estabelecidas por parte do governo israelense, ao dar fim às hostilidades, suspender o cerco e facilitar o acesso desimpedido de ajuda humanitária em toda Gaza”, destacou a ong à imprensa.

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