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Frango halal gera críticas por todos os lados ao KFC no Canadá

Milhares de canadenses pediram boicote à rede de fast food, ao recorrer a argumentos islamofóbicos e supremacistas; outros denunciam a rede por relações com Israel
Loja da rede de fast food KFC em Calgary, Canadá, em 2 de abril de 2011 [Wikimedia/Creative Commons]

A rede Kentucky Fried Chicken (KFC) no Canadá se viu no coração de uma controvérsia após anunciar a transição para servir frango preparado de acordo com as normas éticas islâmicas, conhecidas como halal.

Logo no início de maio, a rede de fast food anunciou que começaria a servir frango com certificado halal e que descontinuaria produtos à base de porco na maioria das lojas na província de Ontário — lar da maior comunidade islâmica do Canadá — como parte de esforços para levar opções “mais diversas e inclusivas” a seus consumidores.

A transição afeta todos os restaurantes do KFC na zona sudeste, exceto as lojas na Baía de Thunder e na capital Ottawa. A proposta é expandir a medida a todo o país até o fim do ano, segundo um comunicado da empresa de 8 de maio.

Usuários nas redes sociais ficaram divididos diante da mudança.

Alguns celebraram os passos assumidos pela popular empresa de frango frito, ao notar a possibilidade de mais opções nutritivas em seu cardápio. Milhares, no entanto, foram às redes sociais para expressar sua indignação sobre a transição ao frango halal e pedir boicote, sob as mais diversas hashtags.

Alguns alegaram, sem conhecimento, que a carne halal reflete uma “forma bárbara de tortura”, ao insistir na tese de que a decisão do KFC é o sinal de uma iminente tomada do país pelos muçulmanos — que constituem 4.9% da população.

 

Na jurisprudência islâmica, regras para produtos halal — termo traduzido como “legal” ou “permitido” — compreendem desde a criação e abate dos animais ao preparo e ao cozimento de alimentos e bebidas. As medidas incluem diretrizes específicas para dar aos animais um tratamento ético conforme determinada percepção cultural; contudo, rotuladas como “desumanas” por militantes de extrema-direita e alguns ambientalistas brancos.

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Alguns usuários das redes sociais alegaram ainda que o certificado halal busca incorrer no estabelecimento da sharia, ou “lei islâmica”, no Canadá, ao afirmar que a medida da rede de fast food equivale a um sinal de “uma minoria barulhenta que pretende ditar a política do país”.

Outros usuários responderam a tais alegações, ao caracterizá-las como islamofóbicas e racistas.

“Quando você vê a hashtag #BoycottKFC viralizando, mas é subitamente lembrado de quantos racistas e imbecis vivem entre nós”, comentou um usuário na rede social X, o antigo Twitter.

Outro disse: “Se você está incomodado com o frango halal do KFC no Canadá, acontece que isso quer dizer que você sofre de islamofobia. Espero que vocês superem seu ódio estúpido e seu racismo”.

Oficiais e órgãos de monitoramento no Canadá reportaram um surto “alarmante” nos casos de incidentes supostamente antissemitas e islamofóbicos no país, desde o início da ofensiva militar de Israel contra a Faixa de Gaza, em outubro.

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No último ano, um comitê senatorial do Canadá confirmou em relatório que o racismo anti-islâmico tem “raízes profundas” na sociedade canadense, ao notar o crescimento de grupos supremacistas e de extrema-direita, junto a um surto nos crimes de ódio.

Duplo boicote

Diversos usuários sugeriram alternativas ao conhecido restaurante fast food de frango frito, como Mary Brown’s, Popeyes e Chick-fil-A. Outros alertaram, porém, que algumas dessas redes já servem comida halal em várias localidades, muito antes do anúncio da rede KFC.

 

Um grupo completamente distinto confirmou, no entanto, que já boicota a marca por outras razões: seu suposto laço com o apartheid e a colonização israelense, em meio à devastadora guerra em Gaza, que já matou quase 40 mil pessoas.

“Não importa o que o KFC resolveu fazer, o mundo islâmico manterá o #BoycottKFC por conta da associação da marca central com a sucursal em Israel”, indicou um usuário no Twitter. “Eles tentarão várias coisas agora que o boicote está acontecendo. Mas não se distraíam. Boicote o KFC sempre”, acrescentou outro em um fórum do Reddit.

 

 

Embora o KFC não esteja oficialmente na lista do movimento pró-Palestina de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), a marca sediada nos Estados Unidos já sofre queda nas vendas em países de maioria islâmica, no Oriente Médio e Sudeste Asiático, junto a protestos de base que reivindicam sanções no mesmo modelo daquelas contra marcas como Starbucks e McDonald’s.

Em abril, o KFC fechou cem de suas lojas na Malásia, um sinal de sucesso da campanha de boicote pró-Palestina.

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Publicado originalmente em Middle East Eye

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